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CNA: balanço 2005 e perspectivas 2006 para pecuária de corte

Por Antônio Ernesto de Salvo1

Balanço 2005

Perda de renda para o pecuarista de corte foi marca do segmento no ano de 2005, seguindo tendência que acompanha o setor desde o final de 2003. Os preços da arroba do boi gordo atingiram os níveis mais baixos da história, antes mesmo do surgimento de focos de febre aftosa em municípios do sul de Mato Grosso do Sul, no começo de outubro.

Conforme pesquisa “Indicadores Pecuários” da CNA e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), o preço recebido pelo pecuarista na hora da venda do boi gordo caiu 7,45% entre janeiro e outubro.

O preço recebido pelo boi gordo, em setembro deste ano, em São Paulo, foi de R$ 49 por arroba, o pior preço já registrado nos últimos 50 anos, abaixo até mesmo do valor negociado em junho de 1996, quando o preço exercido era de R$ 52,10 por arroba. Os valores estão deflacionados pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Enquanto que os preços pagos pelo boi gordo não revertem a tendência de queda, os custos de produção aumentam. Entre janeiro e outubro, a alta foi de 6,21%. Somados, a queda de preços recebidos e a alta dos custos de produção representam queda de renda do pecuarista, ou seja, redução da capacidade de investir no rebanho.

Um dos indicadores que comprovam a crise da pecuária de corte é o aumento do abate de matrizes, fato que impedirá, em médio prazo, aumento substancial do rebanho, pela incapacidade de geração de grande oferta de bezerros.

O abate de fêmeas, no primeiro semestre de 2005, foi 38,6% entre o total de abates, o índice mais elevado desde 1997. Ano após ano, o índice de abate de fêmeas aumenta gradativamente. Em 2001, era de 22%; chegando a 23,9% em 2002; a 31,1%, em 2003; e a 34,4%, no ano passado.

O nível razoável de abate de fêmeas seria de 25%, índice que não comprometeria a expansão do rebanho. O elevado grau de abate de matrizes se tornou necessário para que o pecuarista obtivesse renda para honrar seus compromissos financeiros.

Não bastasse a crise de renda enfrentada pelo criador de gado de corte, que em 2005 ingressou em seu terceiro ano, o segmento sofreu ainda mais com o registro de casos de febre aftosa, em municípios do sul de Mato Grosso do Sul, no início de outubro. A situação piorou com a confirmação de novos casos, no início de dezembro, no Paraná. O resultado foi o embargo, ainda que temporário, à compra de carne bovina brasileira por mais de 40 países.

As exportações de carne bovina, in natura e industrializada, devem somar US$ 3 bilhões em 2005, representando 2,15 milhões de toneladas em equivalente carcaça. No ano passado, as remessas brasileiras de carne bovina somaram US$ 2,5 bilhões, representando o volume de 1,854 milhão de toneladas.

Se não fossem os embargos internacionais adotados devido à aftosa, as exportações poderiam atingir US$ 3,2 bilhões. Quando divulgado o surgimento de aftosa, tradicionais clientes como União Européia, Rússia, Chile, Argélia e Israel suspenderam a compra de carne bovina brasileira, fosse apenas de Mato Grosso do Sul como também de todo o País.

Apesar da ligeira retração em relação às expectativas iniciais, o Brasil será, este ano, pela terceira vez o principal exportador mundial de carne bovina, superando Estados Unidos e Austrália, tradicionais concorrentes.

As perdas não foram maiores porque o Brasil conseguiu reordenar sua produção, ou seja, Estados que continuaram livres da doença passaram a exportar mais, enquanto que as regiões que sofreram alguma restrição destinaram a produção ao mercado interno.

O surgimento de casos de febre aftosa é fato preocupante, porém não assolador. Prova disto são os resultados das exportações de carne bovina in natura para a União Européia entre janeiro e novembro, que chega a 176 mil toneladas, 14% a mais que as 154,4 mil toneladas de igual período do ano passado.

Os números já incluem resultados do período pós-aftosa, pois os casos em Mato Grosso do Sul foram confirmados no início de outubro. Em valores, a União Européia gastou US$ 618,3 milhões com a compra de carne bovina in natura brasileira entre janeiro e novembro de 2005; 5,75% a mais que em igual período do ano passado.

Perspectivas 2006

O Brasil precisa apresentar uma rápida resolução dos focos de febre aftosa para evitar que o problema represente prejuízos para os resultados da pecuária de corte brasileira em 2006, tanto no âmbito interno quanto nos resultados de exportações.

Um dos desafios do País é liderar a criação e estabelecimento de um plano de erradicação da febre aftosa na América do Sul, para preservar o patrimônio produtivo da pecuária bovina em toda a região. De acordo com avaliação da CNA, o Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, e precisa coordenar uma ação regional para erradicar a aftosa, considerando que toda a América do Sul pode transformar-se em um importante pólo fornecedor de carne bovina ao mercado mundial.

Repetidamente, a região enfrenta casos de febre aftosa. Em 1998, houve dois focos em Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul. Em 1999, mais dois focos em Naviraí, também em Mato Grosso do Sul. Em 2000 foram registrados focos no Uruguai e Argentina, além de casos no município gaúcho de Jóia. Em 2005, a doença voltou a atingir o rebanho brasileiro, desta vez em Mato Grosso do Sul e no Paraná. Tal insistência na repetição da doença demonstra a necessidade de estabelecer um plano regional de combate à aftosa.

Apesar dos casos de febre aftosa registrados este ano, a CNA prevê que em 2006 o Brasil continuará sendo um grande produtor e exportador de carne bovina. As receitas de exportação devem, no mínimo, repetir os números de 2005, ou seja, US$ 3 bilhões.

O Brasil irá se manter como importante player no mercado internacional da carne bovina porque reúne qualidades não encontradas em outros países, como grande capacidade de produção a pasto, qualidade e sanidade do rebanho, além de preços competitivos.

Além disso, a ampliação dos casos de gripe aviária tende a ampliar o consumo de carne bovina, estimulando o setor. A implantação de um programa continental de erradicação à aftosa ajudaria, no entanto, ao Brasil e aos demais países da região, ampliar suas venda de carnes bovinas para novos mercados, atualmente restritivos quanto à aquisição do produto brasileiro, sob a alegação de questões sanitárias.

Entre importantes mercados que ainda precisam ser conquistados estão Estados Unidos (que somente compra carne bovina brasileira industrializada) e Japão. Ampliar o marketing da carne bovina brasileira no Exterior também é outro desafio, mostrando aos consumidores estrangeiros que o produto nacional tem qualidade, sanidade e bom preço.

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1Antônio Ernesto de Salvo, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

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