O coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, anunciou que fará campanha em todo o País para que os pecuaristas reduzam ao máximo a oferta de animais para abate. A medida visa contrapor-se à decisão dos 32 frigoríficos exportadores brasileiros que, na quinta-feira (17), suspenderam as compras de boi gordo, alegando que não há oferta de animais rastreados, nos termos exigidos pela União Européia.
Para Nogueira, entretanto, a alegação carece de qualquer fundamento e não passa de mais uma ação cartelizada dos frigoríficos com o objetivo de depreciar a arroba do boi. “Conforme o banco de dados do Ministério da Agricultura existem hoje no País 4,6 milhões de bois rastreados, prontos para abate, dos quais 1 milhão deles só em Goiás”, disse. Segundo ele, esse estoque é suficiente para 20 meses de demanda dos frigoríficos, tendo em vista que apenas 40% das exportações brasileiras têm como destino a União Européia.
“Faço um apelo aos pecuaristas de todo o País para que não aceitem o jogo desleal dos frigoríficos. Não podemos esquecer que, no ano passado, esse mesmo grupo importou carne da Argentina para derrubar os preços do boi no mercado interno, numa atitude predatória contra a pecuária de corte nacional e que rompe com todos os princípios de solidariedade na cadeia produtiva”, criticou, acrescentando que pessoalmente já ouviu de alguns frigoríficos que estariam dispostos a reabrir as compras de animais, a partir de hoje, desde que os preços da arroba sejam reduzidos em pelo menos R$ 2,00.
O coordenador do fórum não descarta a possibilidade de levar o caso à apreciação do Ministério Público e às instâncias reguladoras da atividade econômica, por entender que a decisão tomada em conjunto pelos 32 frigoríficos caracterizou a prática de cartel. Ele lamentou também que “para alcançarem seus objetivos escusos, os frigoríficos estejam tentando jogar os pecuaristas contra o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), que não é uma invenção do governo brasileiro, mas uma exigência dos mercados internacionais”.
Para Nogueira, um claro indício de que a ação dos frigoríficos foi previamente articulada é o fato de todos eles terem aumentado significativamente seus abates nos últimos dias. “Com isso, asseguraram os estoques de carne necessários ao cumprimento dos compromissos mais imediatos de exportação, ganhando fôlego para pressionarem os pecuaristas a baixar o preço do boi”.
Insuficiente
O presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes do Estado de Goiás (Sindicarne-Go), José Magno Pato, afirmou que os frigoríficos exportadores goianos (Goiás Carne, Friboi e Bertin) estão saindo da compra de bois realmente por insuficiência na oferta de animais rastreados. “Tem-se que levar em conta que um frigorífico desses tem estrutura pesada e cara, que não pode ser mantida em funcionamento utilizando apenas uma pequena parte da sua capacidade de produção. Muitas vezes, fica até mais barato para a empresa conceder férias coletivas aos seus funcionários”, argumentou o dirigente.
Para Magno Pato, o que ocorre agora na verdade é fruto de um grande equívoco em todo o processo de implantação do Sisbov. Segundo ele, ao invés de governo, pecuaristas e frigoríficos sentarem-se à mesa para negociar seus respectivos interesses, “entraram num jogo de empurra para ver quem arcaria com os custos da rastreabilidade”, criticou.
Ele ponderou que o melhor seria cada segmento ter a modéstia de assumir sua parcela de culpa nessa crise: o frigorífico por ter aceito rastreabilidade pelas metade, o pecuarista por ter concordado e contribuído para que tudo se arranjasse mediante o “jeitinho”, e o governo por ter sido conivente, fazendo de conta que estava tudo muito bem.
Fonte: O Popular/GO (por Edimilson de Souza Lima), adaptado por Equipe BeefPoint