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CNA organiza documento com posicionamento para a COP 30

Foto: Divulgação

O setor agropecuário brasileiro se mobiliza para garantir espaço e reconhecimento nas discussões da COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA).

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entregou ao enviado especial da Agricultura para a COP 30, Roberto Rodrigues, à presidente da Embrapa, Sílvia Massruhá, e ao senador Zequinha Marinho (Podemos/PA) o documento com o posicionamento oficial do setor para a Conferência, que vai reunir chefes de Estado, cientistas e representantes da sociedade civil em torno do combate às mudanças climáticas.

Para discutir o papel do produtor rural como protagonista da sustentabilidade e da segurança alimentar global, a CNA reuniu em um evento na sede da entidade presidentes de Federações estaduais de agricultura e pecuária, entidades, autoridades, convidados e diretores do Sistema CNA/Senar.

O presidente da CNA, João Martins, defendeu que a agropecuária brasileira é provedora de alimentos e energia, e precisa ser reconhecida como parte da solução climática.

O documento entregue pela CNA — intitulado “Agropecuária Brasileira na COP30” — foi elaborado a partir de consultas com produtores rurais, federações, pesquisadores e entidades do setor. Ele apresenta propostas e contribuições que podem servir de subsídio para as negociações brasileiras na Conferência e para as autoridades que conduzirão o diálogo internacional sobre o clima.

Realidade nacional

Muni Lourenço, vice-presidente da Confederação e presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA, explicou que há uma expectativa de que a COP 30 avance na questão da agricultura tropical.

“O agro brasileiro precisa ser medido com métricas e critérios adaptados à agricultura tropical, e não mais por métricas de agricultura temperada que não refletem a realidade do agro brasileiro”.

Já a presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Sílvia Massruhá, reforçou que a agricultura brasileira já trabalha com ciência e inovação para reduzir emissões e aumentar a sustentabilidade no campo.

“Já lançamos a soja, a carne e o leite de baixo carbono. Temos mais de 200 tecnologias a serem demonstradas na COP 30, queremos mostrar que a agricultura pode ser parte desta solução climática. Já estamos trabalhando a consciência e inovações para levar aos produtores rurais práticas sustentáveis”, explicou.

Durante o evento, o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Vargas, argumentou que há anos o debate climático deixou de ser um debate moral, de quem faz ou não o bem, ou um debate ambiental, de especialistas em meio ambiente, para se tornar um debate econômico.

“O meio ambiente ingressou nas questões produtivas, financeiras e comerciais. Ao longo dos últimos 15 anos foram os países do hemisfério norte que fizeram as regras sobre o que é ou não danoso nas cadeias produtivas, estabelecendo protocolos que serviam para eles. Nos últimos cinco anos, esse plano foi compartilhado com o restante do mundo para que todos incorporassem as suas organizações. No entanto, estas métricas não se encaixam no mundo tropical. Então, quando entramos em uma concorrência internacional já saímos perdendo, porque os nossos padrões não são reconhecidos. O que precisamos é buscar o reconhecimento para a organização tropical”, explicou.

Um dos principais pontos do documento é a defesa de mecanismos financeiros mais acessíveis ao campo, onde a CNA lembra que o financiamento é hoje o maior gargalo para a implementação de ações climáticas em escala global.

A proposta apresentada sugere linhas de crédito diferenciadas, seguros climáticos e redução dos custos de endividamento, de forma a permitir que o produtor rural incorpore práticas de baixo carbono.

Legado para a Amazônia

No capítulo final do documento, a CNA aborda o legado da COP 30 para a Amazônia, destacando que a região abriga 30 milhões de brasileiros e mais de um milhão de produtores rurais que garantem a segurança alimentar local.

Com base neste cenário, a conferência, segundo a entidade, deve ser também um marco de reconhecimento da presença humana e produtiva na floresta.

“A Amazônia sempre é pauta nas COPs, mas este ano vai tomar uma maior envergadura. A nossa expectativa é que seja discutido tudo que impacta no dia a dia da região, não só com relação a preservação, mas olhando para as preocupações com a pobreza e a violência, para melhorar o desenvolvimento econômico e social, criando ações efetivas, e não só retóricas”, disse Muni Lourenço.

Já o enviado especial da Agricultura para a COP 30, Roberto Rodrigues, defendeu propostas para acelerar a regularização fundiária na Amazônia, a partir da união de todos os interessados, para que o produtor rural da região consiga ter todas as condições de produzir e alimentar o Brasil e o mundo.

Mais temas que estão no documento

A agricultura e segurança alimentar é abordada com o detalhamento de como as mudanças do clima impactam a produção e como o setor pode contribuir com mitigação e adaptação. A CNA quer garantir que os produtores rurais sejam ouvidos e reconhecidos como provedores de soluções ambientais.

Outro tema de destaque é o Global Stocktake (GST), mecanismo que mede o progresso dos países em relação ao Acordo de Paris. Para a CNA, é essencial aprimorar as ferramentas de monitoramento e tornar as informações mais acessíveis e comparáveis entre setores. Já a Transição Justa visa projetar caminhos para assegurar o cumprimento de metas do Acordo de Paris de forma justa e equitativa, sem sobrecarregar ou causar prejuízos aos produtores.

Fonte: Valor Econômico.

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