Pretendia eu enveredar por assuntos considerados “sérios”, mas a entusiasmada contribuição dos leitores do BeefPoint me leva – com todo prazer – a perseverar no tema “Coisas que eu não entendo”.
O Poder Público continua imbatível no rol de “contribuições” dos leitores. Homens públicos do Brasil, envaideçam-se!!!
Justiça ou falta dela?: a aposentadoria de Desembargadores em alguns estados como Maranhão e Piauí, chega perto de R$ 1.000,00 por dia, ao passo que 60% da população vivem com pouco mais que R$ 2,00 por dia. (leitor anônimo)
Meu comentário óbvio: E ainda há quem se pergunte por onde deveria começar “distribuição de renda” mais eqüitativa neste país.
Terras em mãos erradas: o leitor não entende porque terras são distribuídas pelo governo a pessoas sem “know how” técnico, e, não raro, sequer sem vocação para a labuta agrícola. Enquanto isso ele, Professor Universitário com pós-graduação, trabalhou anos para amealhar menos de 2 alqueires, e muitos de seus alunos, futuros engenheiros agrônomos, são “sem terra” qualificados. (Carlos Antonio de Miranda Bomfim)
Meu comentário em desalento: a verdade, meu caro Professor Bomfim, é que o futuro desse povo itinerante, que tem como teto lonas pretas, pouco incomoda ou perturba o sono dos nossos dirigentes, passados e presentes. Nossos governantes tratam a esperança alheia sem qualquer constrangimento ou consideração, e usam esses cidadãos como massa de manobra apenas (governos, “y compris” MST e Comissão Pastoral da Terra). Assim sendo, Professor Bomfim, o senhor e seus qualificados alunos, são anátemas para Governo, MST e CPT. Por quê? Porque teriam sucesso, e não fariam parte desta horda itinerante, onde se acha de tudo: até – acreditem – lavradores bem intencionados…
Camelôs: por quê os camelôs são depreciativamente chamados desta forma, apanham na rua, e têm sua mercadoria apreendida – ao passo que um invasor de terras rurais, é chamado “trabalhador sem terra”, recebe subsídios e cestas básicas? Não seria a hora de chamarmos os camelôs de “comerciantes sem loja”, e promover movimentos de invasão de lojas improdutivas? O mesmo se dando com fábricas com capacidade ociosa, apartamentos vazios, etc.? (leitor anônimo)
Meu comentário entusiasmado: você tem toda razão. Afinal, “isonomia” é uma das cláusulas pétreas de nossa Constituição. Vamos exerce-la, e liberar geral.
Oligopólios: o modo de ação do oligopólio (cujo caso limite é o monopólio), e o modo da ação governamental incomodam e irritam o leitor. Este argumenta que alguns setores econômicos conseguem determinar preços “regulamentando” o mercado. Esses agentes econômicos atuam sobre os legisladores e/ou sobre a burocracia governamental para criar leis, regulamentos, instruções normativas, portarias etc. que possam ser usados como instrumentos de criação de mercados reservados, nos quais possam simplesmente realizar suas imposições de preços, perpetuando lucros abusivos, que lhes confere o poder de “dumping”, quando é necessário retirar algum concorrente do mercado. (João Carlos de Campos Pimentel, com trechos de entrevista co o Prof. Fernando Curi Peres).
Comentário nostálgico: há décadas atrás, quando eu era mero estagiário de uma empresa de consultoria, que prestava serviços ao governo federal, vi-me envolvido na análise de um monopsônio (cenário onde o mercado é regulado por poucos compradores). Imaginem de que produto? ALHO. Um país que tem cidadãos que tramam dominar o mercado de alho, o que dizer quando tratarmos de, por exemplo, cimento?
Leis que não pegam: é comum escutar que… “Ah esta lei não vai pegar!!! Como se fosse um artigo de moda”. (leitor anônimo)
Comentário possível: e o pior é que funciona assim mesmo, como se fosse opção de cada cidadão a escolha de que lei obedecerá, e qual não.
Uma pequena nota: meu prezado amigo Antonio do Nascimento Rosa, Pesquisador da Embrapa – Gado de Corte, em carta ao BeefPoint, sugeriu-me não usar mais o termo “vosso” quando me referir ao presidente Lula. Em reposta, expliquei que era questão de foro íntimo, e não de desrespeito. Porém, como gosto muito do Antonio, atenderei a sugestão dele, e serei neutro: nem “vosso”, nem “nosso”.
Como eu não resisto a participar desta catarse nacional via BeefPoint, vamos às minhas parcas contribuições:
Transgênicos ou OGM: enquanto esta questão é tratada primordialmente de forma ideológica, às vezes travestida de preocupação com a segurança alimentar, pouco ou nada se fala de um aspecto que julgo primordial: quantas empresas no mundo detêm ciclo completo de tecnologia para produzir organismos geneticamente modificados, em escala mundial? Até onde sei, apenas seis. Será um oligopólio em adiantado estado de organização, que, se prosperar, poderá dominar toda agropecuária mundial, ditando regras e preços?
Ainda “transgênicos”: o MST do Rio Grande do Sul – não faz muito tempo – invadiu campos experimentais e de pesquisa, e destruiu culturas de soja. Pouco tempo depois, ficamos sabendo, estarrecidos, que agricultores do RS receberam autorização especial do governo federal para vender suas colheitas de soja “transgênica”, e a maioria deles, pasme-se, eram do MST. Falando em coerência…
Cadê a coragem quando o assunto é a ALCA?: Temos assistido o ímpeto apaixonado do governo do presidente Lula, em defender o regime de Fidel Castro, em Cuba.
Antes de ir adiante, quero dizer que estive em Cuba há meses atrás, adorei o país e o povo, e reconheço que a ditadura de Fidel trouxe muita coisa boa às camadas mais pobres da população.
Mas antes de minha divagação, estávamos falando do relacionamento do governo brasileiro com o cubano. Pois bem. Cuba é uma ditadura, que completou 44 anos em 31/12/2002. Dissidentes são condenados à prisão perpétua, em julgamentos sumários, acusados de conspirar contra o regime. Pergunto: Como faze-lo de forma diferente (conspirar), se o regime é ditatorial?
Pessoas que mantinham em suas casas bibliotecas para uso público, foram condenadas a até 25 anos de prisão, acusadas de promover a cizânia.
Três cubanos que seqüestraram um barco para fugir para Miami, foram sumariamente fuzilados, alegando-se que pretendiam desestabilizar o regime. Desestabilizar como, se estavam fugindo? (a única punição que eu daria seria pela escolha do destino final…).
Apesar disso tudo, nosso governo ficou mudo. Um dos mais poderosos ministros deste governo absteve-se de fazer qualquer comentário, alegando “dívida de gratidão com Cuba”, quando lá esteve, exilado – como se a posição dele como pessoa é que interessasse, e não a dele como ministro. O vosso embaixador em Havana, Sr. Tilden Santiago, apoiou de público os fuzilamentos, e, como se tal não bastasse, recomendou método similar para o Brasil.
Tudo isso significa apenas omissão, palavras jogadas ao vento, e apoios convenientes do ponto de vista ideológico.
Mas cadê a coragem desse governo quando Cuba é excluída das negociações sobre a ALCA, por determinação dos EUA? Em princípio, talvez tenhamos um bloco comercial de 34 países, e um deles (Cuba) excluído. Faz-se vista grossa a um ato, a meu ver mesquinho de “exclusão” (palavra tão ao gosto do PT), e que condenará o povo cubano à total marginalização e privação, por décadas.
Quando é para lutar por uma causa justa, que é a de só negociar a ALCA com a inclusão de Cuba, batendo de frente com os EUA1, cadê a coragem desse governo? Um rosnado talvez fosse pedir demais, mas talvez, quem sabe, nem um tímido e sumido miado ? Ah, a coerência e a coragem do ser humano…
1Antes que me tomem como antiamericano, esclareço: gosto muito dos Estados Unidos, e lá passei alguns dos melhores anos de minha vida. Mas justiça é justiça, e até por gostar tanto dos EUA, é que me constrange algo tão pouco típico à alma do povo americano: mesquinharia.
Defesa do Meio Ambiente 1: O Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e diversas ONGs vociferam constantemente contra a devastação florestal da Amazônia. Concordo plenamente.
Contudo, uma boa parte desta devastação poderia ser prontamente estancada de forma muito simples: cassar as licenças para as madeireiras que operam na região, especialmente as de origem asiática (há uma década atrás eu vi a devastação que causaram na Malásia e na Tailândia). Mas o melhor é cancelar todas as licenças.
O que o Brasil perderia com isso? Alguns poucos milhares de empregos semi-escravos (o número que eu tenho é de 3.000 – mas não sei se está correto) e pequena perda de receita na pauta de exportação (bem menos de 1% do total).
O que o Brasil ganharia com isso? O óbvio ululante, como dizia Nelson Rodrigues. Ao cortar e retirar da mata uma árvore de madeira de lei, dezenas de outras são destruídas – na queda da árvore cortada, e na retirada desta.
Defesa do Meio Ambiente 2: Todos sabem ser notório o desprezo do MST pelo meio ambiente. João Pedro Stedile já declarou, em alto e bom som, que floresta para ele é “terra improdutiva”. De fato, o MST já invadiu reservas florestais (da ex-Fepasa), o Instituto de Zootecnia de Sertãozinho (SP), a Estação Experimental de Colina (SP), e outras Brasil afora – e a segunda vítima (a primeira é sempre o estado de Direito – i.e. a lei), sempre foram APP e reservas florestais , incendiadas ou derrubadas para armação de barracas, e mesmo como lenha. Por lei, este crime ambiental é gravíssimo e inafiançável. Porém jamais algum membro do MST foi processado e preso, por este motivo.
Enquanto isto, aquele pobre senhor de idade em Brasília, que não tendo dinheiro para comprar remédio apara e esposa dele que estava doente, adotou medicina caseira. Raspou a casca de uma árvore para fazer um chá para ela. Foi preso, algemado, e jogado na prisão junto com delinqüentes de alta periculosidade. Existe Justiça neste país?
Vamos encerrar essas notas meio “deprê”, e vamos a duas citações bem próximas ao “besteirol”:
Por quê se diz “botar a calça”, e “calçar a bota”?
Por quê toda vez que um dirigente de time de futebol diz que “o técnico está prestigiado”, o coitado é, invariavelmente, demitido pouco tempo depois?
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Em qualquer país democrático, o cidadão insatisfeito sai livremente, e vai para onde sendo permitida a sua entrada, o que mais lhe convém.
Para sair de Cuba, só fugindo. Porquê será? E ainda tem gente que acredita naquele regime.
O senhor tem toda a razão. Eu estive recentemente em Cuba, e mesmo tendo gostado muito do país, é inegável que trata-se de uma ditadura. E ditaduras – sejam de esquerda, ou de direita – têm algo em comum: total desprezo pela vontade do cidadão.
Até o escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez – ferrenho defensor de Fidel Castro – confessou recentemente que ajudou vários cubanos a “deixarem Cuba”.