Mercado Físico da Vaca – 28/04/10
28 de abril de 2010
Mercados Futuros – 29/04/10
30 de abril de 2010

Com escalas mais confortáveis frigoríficos forçam preços da arroba para baixo

A oferta de animais gordos ainda não aumentou consideravelmente e os pecuaristas seguem retraídos evitando negociar diante dos últimos recuos da arroba. Mesmo assim os frigoríficos seguiram pressionando os preços, alegando que a venda de carne no atacado está fraca, e conseguiram manter suas escalas, que giram em torno de uma semana.

A oferta de animais gordos ainda não aumentou consideravelmente e os pecuaristas seguem retraídos evitando negociar diante dos últimos recuos da arroba. Mesmo assim os frigoríficos seguiram pressionando os preços, alegando que a venda de carne no atacado está fraca, e conseguiram manter suas escalas, que giram em torno de uma semana.

Nesta semana o indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista teve desvalorização de 0,96%, sendo cotado a R$ 81,37/@ na última quarta-feira. O indicador prazo foi cotado a R$ 82,45/@, com retração de 0,84% no período analisado (20/04 a 28/04). Apesar dos recuos do últimos dias, em relação ao mesmo período do mês passado este indicador subiu 1,18%.

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio

Esta retração somada à valorização da moeda americana, que terminou a quarta-feira (28/04) valendo R$ 1,7550 (+0,35% na semana), fez a arroba do boi gordo em dólares recuar para US$ 46,36. Apesar desta desvalorização, este indicador ainda está 28,40% acima do valor apurado no mesmo período do ano passado (US$ 36,11/@).

Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista em R$ e US$

No mercado físico a queda de braço continua, mas os frigoríficos estão conseguindo pagar um pouco menos pela arroba do boi gordo e até o momento parecem estar levando a melhor. Na semana passada o feriado de Tiradentes ajudou na manutenção das escalas e os grandes frigoríficos que em geral têm programações mais folgadas seguem evitando reajustar suas ofertas pela arroba do boi gordo.

De um lado os pecuaristas evitam vender e tentam negociar a preços melhores, já que a reposição está difícil e cara, se tornado pouco atrativa no momento. Do outro estão os compradores da indústria, que com escalas mais confortáveis do que nas semanas anteriores, forçam recuos alegando que a venda de carne no atacado não vai bem e os preços são pouco remuneradores.

Segundo pesquisas do Cepea, ainda que a oferta não tenha aumentado de forma expressiva, parte dos frigoríficos agendou lotes para abate para mais de sete dias e seguem pressionando os preços da arroba.

Wanir Cassio Rossi, de Lençóis Paulista/SP, informou que na sua região as escalas estão curtas e os frigoríficos estão ofertando R$ 80,00 pela arroba do boi gordo, para pagamento à vista. “Na vaca se paga até R$ 75,00/@ à vista. A oferta está restrita, os compradores dizem que tem escala para 10 dias, mas sempre querem adiantar o embarque e após 4 dias vem buscar”, completou Rossi.

Laerson Pietrobon, de Palmital/SP informou na sua região existe pouco boi gordo e que os frigoríficos estão ofertando R$ 77,0/@. “Vamos ver o que acontece na virada do mês quando o consumo aumenta”, completa Pietrobon.

“De modo geral as negociações estão bem travadas com poucos negócios tanto para a reposição como para o gado gordo”, comenta Manoel Torres Filho, de Tupi Paulista/SP. Segundo ele, os frigoríficos abaixaram o preço da arroba tanto da vaca como do boi gordo, “há comentários que estão querendo pagar somente R$ 77,00/@ em lotes de boi e R$ 73,00 pela arroba da vaca”.

O leitor do BeefPoint, Manoel Teixeira Campos, de Piraí/RJ comentou através formulário de cotações que na região em Valença/RJ o boi gordo está sendo negociado a R$ 75,00/@ e a vaca gorda a R$ 67,00/@, ambos com prazo de 30 dias para pagamento.

Como está o mercado na sua região? Utilize o formulário para troca de informações sobre o mercado do boi gordo e reposição informando preços e o que está acontecendo no mercado de sua região.

O indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista continuou subindo durante a semana, acumulando alta de 1,62% e sendo cotado a R$ 726,18/cabeça.

A relação de troca recuou para 1:1,85, uma das piores já registradas, evidenciando a dificuldade reportada por muitos invernistas e engordadores em realizar a reposição do rebanho.

Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista x relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros)

Sandro Bortoloto, de Campo Grande/MS, comentou que no Estado ainda existe pouca oferta de animais para reposição e a média de preço para garrotes de 15 meses é de R$ 800,00 na região de Campuã. “Bezerras de 10 a 12 meses na região de Miranda estão valendo R$ 500,00/cabeça”, informa Bortoloto.

“No sul de Minas Gerais (Ouro Fino), a reposição de macho Nelore com média de idade de 14 a 15 meses se situa na faixa de R$ 750,00 a R$ 850,00 com pouca oferta, fazendo o preço subir. Fêmeas da mesma idade estão sendo negociadas na faixa dos R$ 600,00 a R$ 650,00”, comentou André Gustavo de Lima Terra.

Torres Filho completou dizendo que em sua região, os preços de bezerros pouco mudaram. “Quem precisa vender até aceita abaixar um pouco e negociar, quem não precisa senta em cima esperando uma nova reação do mercado”.

Após a instalação generalizada da pressão sobre os preços da arroba, o mercado futuro parece ter assumido a baixa nos preços e acumulou forte desvalorização durante a semana. Todos os contratos de boi gordo negociados na BM&FBovespa apresentaram forte queda.

O primeiro vencimento, abril/10, que será liquidado ao final do pregão de amanhã, registrou recuo de R$ 0,48, fechando a R$ 81,52/@ na última quarta-feira. Maio/10 acumulou queda de R$ 1,88, fechando a R$ 80,12/@. Os contratos que vencem em outubro/10, considerado o pico da entressafra, fecharam a R$ 84,15/@, com retração acumulada na semana de R$ 1,77.

Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&FBovespa e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 20/04/10 e 28/04/10

Segundo o Boletim Intercarnes, apesar da aproximação do final de semana e da virada do mês, a movimentação (especulação) ainda é tímida. Mas já se mostra um pouco mais ativa, com os distribuidores visando posicionamento para a próxima semana, visto que iniciamos o mês de maio com feriado nacional no dia 1°. As ofertas ainda são regulares, contudo já não há os mesmos volumes verificados no início da semana, confirmando a irregularidade nos abates. Os preços estão aparentemente mais estáveis, sinalizando uma possível alta. A tendência é, que apesar do atual panorama, o atacado apresente melhor estabilidade a partir de amanhã, quando a procura tende a acentuar-se no atacado e no varejo.

No atacado paulista, o traseiro foi cotado a R$ 6,30, o dianteiro a R$ 4,20 e a ponta de agulha a R$ 4,10. Na semana o equivalente físico recuou 1,65%, sendo calculado em R$ 77,93/@. Diante da retração do indicador de boi gordo, o spread (diferença) entre indicador e equivalente recuou para R$ 3,45/@, ficando abaixo da média dos últimos 12 meses que é de R$ 3,49/@.

Tabela 2. Atacado da carne bovina

Gráfico 4. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista x equivalente físico

Vans do JBS

No início de abril teve início no BeefPoint uma ampla discussão em torno da nova estratégia de vendas diretas do JBS, as tão faladas vans que estão vendendo carne bovina porta a porta no interior do país. Recebemos diversos comentários de leitores alguns contra outros a favor desta modalidade de venda de carne no varejo. Clique aqui e acesse todos os artigos que tratam deste assunto.

Miguel da Rocha Cavalcanti, também escreveu um editorial sobre o tema esta semana. No artigo, “Quem tem medo das vans do JBS?“, o diretor da AgriPoint faz uma avaliação da estratégia e ressalta, “precisamos analisar melhor essa questão, suas possíveis motivações e impactos. O JBS está inovando. Traz um conceito e formato que muitos apostam que é inviável. Ganha desafetos por causa disso. Pode errar, mas toda inovação envolve risco. Mas essa situação isolada não se mostra nem um pouco prejudicial ao pecuarista, muito pelo contrário. Essa inovação pode nos ajudar a uma reflexão que precisamos de forma urgente”.

Nesta semana, a JBS finalizou uma oferta de ações que movimentou R$ 1,84 bilhão, de acordo com informações encaminhadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O preço por ação foi definido em R$ 8,00, o que representa um deságio de 1,36% em relação à cotação de fechamento do papel ontem na Bovespa (R$ 8,11). O preço definido na operação é o mesmo da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações do frigorífico, realizada em 2007.

A operação causou polêmica desde seu anúncio, no início de março, provocando perdas de até 20% no valor dos papéis do frigorífico. Isso porque os investidores foram pegos de surpresa com a mudança de planos da companhia, que originalmente pretendia realizar a abertura de capital da subsidiária norte-americana JBS USA. O mercado também reagiu mal ao anúncio de que a JBS faria uma oferta secundária, com a venda de parte das ações dos controladores.

A JBS teve de convencer o mercado sobre as vantagens da captação por meio de uma oferta pública de ações para conseguir concretizar a operação. A companhia fechou anteontem o preço da distribuição, que ficou em R$ 8 por papel, um desconto de 1,3% sobre o valor na bolsa.

Nas reuniões com investidores para apresentar a oferta, a JBS destacou que a operação proporcionará o aumento da distribuição direta da empresa e resultará na melhora de resultados e margens.

Nas conversas com o mercado, a JBS reforçou dois pontos principais. O dinheiro captado está carimbado – será inteiramente usado no plano que prevê o aumento da distribuição direta, hoje responsável por 6% dos negócios, mas que deverá chegar a 60% em um prazo de dois ou três anos. Se no meio do caminho a empresa tiver novos planos, como oportunidades de aquisições, lançará mão de outras operações de financiamento.

O outro ponto destacado é que a oferta aumenta a quantidade ações da JBS em circulação no mercado dos atuais 12% para 19%. Os controladores, as famílias Batista (JBS) e Bertin, juntas na FB Participações, tiveram seu percentual reduzido de 59% para cerca de 55% – ainda com folga para novas emissões sem que a diluição implique perda de controle.

Dentro da estratégia de ampliar a distribuição direta, a JBS vai reduzir ao máximo o número de intermediários nas vendas internas e externas de seus produtos. Nas contas da empresa, implicará um aumento de dois pontos percentuais na margem lajida, que saíra da casa dos 7% para a de 9%. A margem lajida indica a relação entre o lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização (lajida) e a receita líquida da empresa.

Frigoríficos têm dificuldade para cadastrar fornecedores na Amazônia

Quase um ano após a publicação do relatório do Greenpeace que aponta a pecuária como principal vetor do desmatamento na Amazônia, os frigoríficos avançaram no processo de cadastrar e monitorar seus fornecedores no bioma. Mas ainda não conseguem rastrear 100% da cadeia e estão revendo os prazos do compromisso assinado com a ONG em outubro de 2009.

Em outubro do ano passado, a promessa dos frigoríficos era cadastrar seus fornecedores dentro de um prazo de 180 dias. Os principais frigoríficos que têm fornecedores de carne na Amazônia, como Marfrig, Minerva e JBS Friboi, pediram mais três meses de prazo para concluir o monitoramento de suas cadeias.

Na última reunião dos frigoríficos com o Greenpeace, no início do mês, representantes da indústria alegaram dificuldades no rastreamento da cadeia. “Enquanto os frigoríficos que têm fornecedores não monitorarem 100% da cadeia, será impossível afirmar que não existe mais gado em área de desmatamento”, diz Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace.

O frigorífico Marfrig, que tem boa parte de seus fornecedores localizados no Mato Grosso, conseguiu mapear pouco mais de 80% das fazendas fornecedoras localizadas no bioma amazônico. O diretor de sustentabilidade do Grupo Marfrig, Ocimar Villela, estima que os três meses a mais de prazo serão suficientes para chegar a 100% de fornecedores rastreados. “O processo está evoluindo. Há dificuldades, pois o processo também depende da vontade dos fornecedores”, diz.

Para monitorar a cadeia, as fazendas precisam fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro eletrônico das propriedades nos órgãos ambientais. É por meio do CAR que é feito o georreferenciamento das propriedades e é possível verificar se está havendo desmatamento ilegal.

Segundo Villela, um dos meios para estimular a regularização das fazendas é reduzindo a burocracia. O Marfrig também premiará, com viagens à Copa do Mundo na África do Sul, os fornecedores com melhores práticas ambientais. “A grande tarefa é mostrar ao mundo que o Brasil pode ter produção de carne com sustentabilidade”, diz. Segundo o executivo, cresceu a pressão por parte das multinacionais que compram couro, como Nike, Adidas e Timberland.

A JBS Friboi, maior frigorífico do mundo e que recentemente se fundiu ao Bertin, afirma em nota que está avançando no monitoramento dos fornecedores. “A JBS comprometeu-se a obter os pontos georreferenciados de 100% de seus fornecedores diretos localizados no Bioma Amazônico nos próximos 90 dias”, diz. A área a ser monitorada possui cerca de 1,6 milhão de km² – mais de seis vezes o tamanho do Estado de São Paulo.

Otávio Cançado, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), argumenta que houve um grande avanço por parte dos frigoríficos até agora. “As áreas que a gente não tem georreferenciamento são de difícil acesso ou para chegar lá era preciso passar por parques nacionais”, disse. De acordo com ele, o cenário é mais complicado no Pará, onde há vários problemas para regularizar a situação fundiária.

O executivo da Abiec ainda criticou o Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre frigoríficos e Ministério Público Federal no Pará e afirmou que o resultado do compromisso foi o aumento da informalidade do setor. Segundo Cançado, das 120 mil fazendas que forneciam animais para abate no Pará, só 15% têm o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e podem continuar vendendo. “Isso estimula o aumento da exportação de boi em pé. Duvido que todos os bois vivos venham de áreas com CAR.”

O procurador Daniel Avelino, do Ministério Público Federal do Pará, discorda. Ele diz que a informalidade sempre existiu na pecuária. “Esse é um aspecto negativo que já havia antes de firmarmos o acordo. Mas antes nem o setor formal cumpria a lei.” De acordo com Avelino, o setor de exportação de bois vivos também assinou o acordo. “Tanto o setor de bois vivos quanto o da carne têm a mesma restrição no Estado. O que acontece é que eles são concorrentes e há uma rixa.”

0 Comments

  1. Marcos Francisco Peres disse:

    Penso que quem esta vendendo boi nesses preços é devido ao pasto, que vem piorando devido à falta de chuvas, porém essa situação é temporaria. Com a reposição no preço que esta conpensa dar um tratinho e segurar o boi, pois quando essa enxurrada de bois passar a arroba deve subir bem.

  2. Manoel Terra Verdi disse:

    O desanimador nestes momentos é ver que os frigoríficos são muito eficientes em derrubar os preços pagos aos produtores, más, péssimos em suas negociações com o varejo. O atacado da carne já iniciou sua curva de baixa, e a margem dos frigoríficos vai continuar estreita. Já o passo seguinte que teria que ser dado pelo supermercado e pelos açogues, dificilmente será dado, e o preço para o consumidor continuará alto. Sem queda de preço para o consumidor final não aumenta o consumo, e sem aumentá-lo se cria o ambiente ideal para continuar a penalizar o produtor quando a oferta aumenta. Para ser diferente disso só se o folego do produtor continuar grande e São Pedro ajudar muito.