A notícia da paralisação de um dos maiores frigoríficos do país deixou o mercado boi gordo bastante agitado durante esta semana. Todo o setor se mostrou surpreso com o pedido de recuperação judicial do Independência, tido com uma das empresas mais sólidas do segmento, e se iniciou uma grande discussão a respeito das estratégia adotadas pela indústria brasileira da carne e da saúde financeira desses grupos que cresceram de forma agressiva nos últimos anos. Além disso o anúncio da interrupção das atividades desse grande frigorífico, com plantas espalhadas pelos principais estados produtores deu força para a "especulação" e os compradores intensificaram a pressão baixista.
A notícia da paralisação de um dos maiores frigoríficos do país deixou o mercado boi gordo bastante agitado durante esta semana. Todo o setor se mostrou surpreso com o pedido de recuperação judicial do Independência, tido com uma das empresas mais sólidas do segmento, e se iniciou uma grande discussão a respeito das estratégia adotadas pela indústria brasileira da carne e da saúde financeira desses grupos que cresceram de forma agressiva nos últimos anos.
Além disso o anúncio da interrupção das atividades desse grande frigorífico, com plantas espalhadas pelos principais estados produtores deu força para a “especulação” e os compradores intensificaram a pressão baixista que vinham tentando impor à algumas semanas. Assim o indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo acumulou desvalorização de 2,06% na semana, sendo cotado a R$ 79,54/@ nesta quinta-feira.
Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo
Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio
O indicador à vista teve forte retração (-2,19%), sendo cotado a R$ 78,53/@ e o mercado futuro acompanhou o movimento registrando forte recuo, com vários pregões fechando em baixa. O primeiro vencimento, março/09, apresentou desvalorização de R$ 1,79 na semana, fechando a R$ 76,41/@, no último dia 05. O contrato com vencimento em maio/09, considerado o pico da safra, seguiu a mesma tendência e fechou a R$ 72,71/@ (-R$ 1,74). Refletindo o sentimento pessimista do mercado, os contratos para outubro/09 fecharam a R$ 78,80/@, com a maior queda da semana, -R$ 2,33.
Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&FBovespa e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 26/02/09 e 05/03/09
Vale lembrar que na BM&FBovespa, o volume de negócios tem sido pequeno, longe do observado no último ano. Segundo notícia do jornal Valor Econômico, este é um claro reflexo das incertezas e a escassez de crédito derivadas da crise financeira. Entre contratos futuros e de opções, foram negociados, no total, 131.923 papéis no mês, 13,8% menos que em janeiro e 47,7% abaixo do patamar de fevereiro de 2008.
“É a crise”, resume Eduardo Tang, da Terra Futuros Corretora. Com o crédito curto e caro, ilustra, agroindústrias têm mais dificuldade em se alavancar com instrumentos como ACCs, por exemplo, e consequentemente reduzem as apostas nos derivativos. “A preocupação é geral. O mercado como um todo derreteu”, afirma Tang.
No mercado físico, o movimento também foi de baixa, com pressão dos compradores em todas as praças. Ao argumento das indústrias de que está difícil escoar a carne no mercado interno e que exportações não vão nada bem se juntou ao sentimento de que com a saída das plantas do Independência do mercado a concorrência diminuiu e existem mais animais disponíveis para o abate.
O momento ainda é de incerteza, apreensão e muita especulação. Apesar do pessimismo, a grande maioria dos pecuaristas evita vender seus lotes, seja por não concordar com os preços propostos, seja por medo de vender e não receber, e de maneira geral o mercado segue pouco movimentado, com as indústrias comprando apenas o suficiente para manter as escalas que seguem curtas.
Associações e lideranças do setor tem recomendado cautela neste momento. O consultor de Pecuária da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Luiz Carlos Meister, aconselha, “muita serenidade aos pecuaristas e vendas parcimoniosas”.
A Associação dos Criadores do Estado (Acrimat), recomenda que o pecuarista só venda à vista e que se preciso: “feche a porteira para se resguardar”. O superintendente da Associação dos Criadores do Estado (Acrimat), Luciano Vacari lembra que é preciso daqui para frente ficar atento ao impacto social da paralisação do Independência, ou seja, às demissões e à quebra de receita dos municípios.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), também se pronunciou sobre o assunto em um comunicado onde sua assessora jurídica, Elisete Araújo, explica que, após a aprovação do pedido de recuperação judicial, o pecuarista terá o prazo de 15 dias para fazer a habilitação do seu crédito, ou seja, levar ao juízo o valor que tem a receber e por isso é muito importante que os pecuaristas fiquem atentos quanto a este desenrolar jurídico. “Dependendo do caso, isso pode levar alguns anos para ser arrolado”.
Já o diretor-tesoureiro da Federação, Eduardo Alves Ferreira, faz um alerta aos pecuaristas para que tenham cautela ao comercializar seus animais a partir de agora. “É neste momento de crise que as especulações do mercado aumentam e as pressões forçam a redução do preço, causando prejuízos ao bolso do pecuarista”.
O comunicado ainda recomenda que o produtor venda somente a quantidade estritamente necessária, preferencialmente à vista, e se possível, segure o plantel por mais tempo no pasto.
Agentes do mercado consultados pelo BeefPoint comentam que os frigoríficos tentam abaixar os valores pagos pela arroba do boi gordo, mas as negociações são difíceis com os preços atuais. Em São Paulo, o mercado segue praticamente travado com pouco volume de compras e os frigoríficos continuam se abastecendo com animais dos Estados vizinhos, principalmente MS.
Nesta semana, a notícia de redução da pauta de ICMS no estado do MS pode gerar algum aumento nas compras no Estado e buscar animais no MS para abate em SP se torna interessante, mesmo porque os negócios com boi paulista andam muito lentos.
No atacado da carne bovina, durante a semana foram observados aumentos de preço e agora o mercado segue estável, porém os distribuidores começam a pressionar os preços com maior intensidade. As ofertas no contexto geral seguem regulares, com melhores volumes para traseiros, cuja demanda mantem-se instável e irregular. Na carne desossada as ofertas permanecem com volumes superiores a procura e preços com oscilações e instabilidade.
Segundo o Boletim Intercarnes, o traseiro foi cotado a R$ 6,40, o dianteiro a R$ 4,00 e a ponta de agulha a R$ 3,60. O equivalente físico permanece em R$ 76,50/@. O spread (diferença) entre indicador e equivalente recuo para R$ 2,03/@. Vale lembrar que quanto menor o spread melhor será a margem do frigorífico, na média dos últimos 12 este valor é de R$ 7,11/@.
Tabela 2. Cotações do atacado da carne bovina
Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista x equivalente físico
Apesar do momento pessimista, as exportações começam a dar sinal de recuperação, a oferta deve se manter reduzida esse ano e as perspectivas são de menor produção nos próximos meses – com os preços atualmente negociados na BM&FBovespa para arroba do boi gordo na entressafra, o confinamento esse ano pode ser significativamente menor do que em 2008, a Assocon estima uma redução de até 20% do volume de animais confinados -, podendo ajudar a manter os preços do boi gordo, evitando quedas muito bruscas em 2009.
Independência
Na quinta-feira da semana passada, o frigorífico Independência suspendeu o abate de animais em todas as suas unidades alegando problemas no fluxo de caixa, e na sexta-feira (27/02) a empresa entrou com pedido de recuperação judicial.
Na segunda-feira passada, os diretores do frigorífico convocaram uma reunião para esclarecer a situação ao mercado. A diretoria alegou cinco fatores interligados e interdependentes que causaram um cenário nunca visto pela empresa, como os principais problemas. Esses cinco fatores são uma combinação de problemas operacionais e financeiros. Desde o início do ano, todos esses pontos se agravaram, gerando resultados muito negativos para a empresa, que no momento atual, alega vender abaixo do custo de produção e ainda tem alto custo financeiro e elevada taxa de inadimplência.
Os cinco fatores apresentados são:
• inadimplência por um percentual significativo de seus clientes no exterior
• maior necessidade de capital de giro, visto que seus fornecedores (pecuaristas) buscavam pagamento à vista e seus clientes pediam ampliação do prazo
• aumento da diferença entre o preço do boi gordo (que caiu pouco) e da carne (que caiu muito)
• falta de demanda por carne bovina, seja no mercado externo, seja no interno, o que causou maior concorrência entre as empresas, com guerra de preços
• falta de liquidez
Todos esses fatores são comuns a todas as empresas do setor de frigoríficos no Brasil. O que complicou e acelerou o processo de redução do caixa da empresa e, por consequência, a decisão de pedido de concordata foi o fato de 85% da dívida ser dolarizada, o que alavancou o endividamento após a desvalorização do Real, além do BNDES ter suspendido o aporte para o frigorífico de R$ 200 milhões.
O frigorífico Independência tem hoje capacidade de abate de 10.800 cabeças por dia. Está presente em 7 estados brasileiros e no Paraguai com 12 plantas de abate e desossa, 3 curtumes, 3 fábricas de charque, 5 módulos de produção de biodiesel, com centros de distribuição em Cajamar, Itupeva e no porto de Santos. A empresa tem 11.300 funcionários.
Resumindo todos os fatores, a principal razão foi operacional: falta de capacidade de geração de caixa. Ou seja, por mais que a empresa trabalhasse, tinha prejuízo (boi estável, carne em queda, demanda em queda, custo financeiro e inadimplência aumentando).
Selecionamos alguns artigos publicados durante essa semana que ajudam a entender um pouco mais a situação:
Independência suspende abate em todas as unidades
Independência: paralisação deixa setor apreensivo
Independência: primeiras explicações sobre recuperação judicial
Explicações do Independência não convencem credores
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O preço do bezerro está com tendência de se manter acima dos R$500,00 no norte de Mato Grosso, o que é considerado pelos invernistas que não fazem cria um valor alto comparado com o atual valor da arroba.
Porém se observa compradores de outras regiões comprando bezerros o que indica uma escassez. Leve em consideração que esta desmama que está sendo comercializada agora é fruto de vacas emprenhadas em 2007 que foi um ano de preços baixos com grande abate de matrizes e seca prorrogada.
Nos indicies ESALQ do país temos observados já algum tempo baixa do boi e aumento do bezerro. Acredito que é este um dos motivos de menor oferta de boi gordo no mercado.
Se o boi voltar à casa dos 20 dólares, que pela atual conjunta econômica do mundo não seria impossível, teríamos menor recuo no preço do bezerro, se o boi mantiver firme e tiver alguma melhora de preço teremos maior porcentagem de alta na reposição, que de qualquer maneira vai fazer com que a reposição só tende a ficar mais difícil.
O preço do bezerro abaixo do atual complica a vida do criador que voltaria a abater matrizes, acima dificultaria a reposição e alta em garotes e fêmeas.
Mato Grosso com um rebanho em torno de 26 milhões da cabeça de gado fornece ao mercado abaixo de oito milhões de animais para abate ao ano, com a capacidade da indústria próxima ao dobro disto, não tem como todos os frigoríficos se manterem em atividades e com certeza teremos indústrias se mantendo fechadas, desempregos, etc., lembrem que os frigoríficos aumentaram com o rebanho diminuindo ou estagnado.
Uma solução de mais curto prazo seria investimento maciço em aumentos de taxas de desfrute no rebanho (investimento em genética, recuperação de pastagens, profissionalização de mão de obra, confinamentos, integração agricultura pecuária, etc.)
Qualquer coisa que se faça e aumente o desfrute do rebanho do estado em 1% é o suficiente para manter um frigorífico funcionando.
André parabéns pelo artigo, você tocou na palavra chave do momento, “especulação”.
Não existe motivo para a queda de preço da arroba, primeiro porque o Independência tem capacidade para abater 10.800 boi dia, mas estava abatendo pouco mais de 50% da sua capacidade, aqui em Campo Grande por exemplo já tinha parado de abater por falta de boi, se durante a semana a carne bovina teve aumento de preço é sinal que faltou carne no mercado com a saida do Independência, não podemos esquecer que só a Grande São Paulo consome 12.000 bois dia ou mais.
Os frigoríficos tiveram uma evolução muito grande na comercialização, mas a compra do boi ainda é feita da maneira antiga, compradores despreparados não criam vínculo com os pecuaristas ,não gostam de trabalhar com segurança de oferta, fazem uma escala para 4 a 5 dias e já querem baixar o boi, o que vira preço nominal porque o real é o que está sendo abatido, ainda não entenderam que escala longa não quer dizer mais carne no mercado, quer dizer que os seus fornecedores garantiram matéria prima para que eles trabalhem tranquilos nos próximos 30 ou 60 dias, porque a capacidade de abate é que controla a quantidade de carne e não a oferta de boi.
Eu acho que na nossa atividade a maior crise vai ser a falta do boi, vejam o mercado da reposição, a demanda continua para animais de qualidade e a oferta é mínima, teremos uma redução nos confinamentos e o motivo não é só o preço é a falta do boi magro, a maior crise nós passamos em 2006 e 2007, todos ganharam nas nossas costas, pensaram que a gente estava aumentando a produção quando na verdade estávamos comendo o estoque, diminuimos o nosso plantel em 20%, e hoje estamos numa situação privilegiada no mercado por pura sorte sem nenhuma estratégia. Eu acho que pela nossa simplicidade Deus nos protege.
Um abraço
Há confiáveis informações de que o consumo de cerne em SP, especialmente na capital, está em queda. Os frigoríficos que, na cidade de São Paulo, compram nosso gado gordo (do MT e MS) informam que, apesar de terem reduzido os preços, as vendas cairam desde o início do ano.
A inadimplência em açougues e mercados está alta, há muito desemprego e grande corte de gasto dos que ainda mantém seus empregos.
O quilo da carne (carcaça) em SP está na casa dos R$ 5,00 para menos, o que mostra que a conta não fecha e tendo o distribuidor abaixado o preço para o verejo não poderá o preço da arroba reagir enquanto não aumentar o consumo. Tal coisa, nessa crise, não pode ser considerada como possível, o que descortina um caminho de preços baixos a ser enfrentado pelo pecuarista por uns seis meses, no mínimo, até que as medidas governamenetais de distribuição de renda se façam sentir.