Esta foi mais uma semana de baixa no mercado do boi gordo. Com escalas mais longas e demanda mais fraca, os preços da arroba perderam sustentação. A oferta de animais ainda é restrita, mas a retração de consumo, tanto interno quanto externo, deu força à pressão dos compradores que conseguiram recuar os preços pagos ao produtor.
Esta foi mais uma semana de baixa no mercado do boi gordo. Com escalas mais longas e demanda mais fraca, os preços da arroba perderam sustentação. A oferta de animais ainda é restrita, mas a retração de consumo, tanto interno quanto externo, deu força à pressão dos compradores que conseguiram recuar os preços pagos ao produtor.
O indicador Eslaq/BM&FBovespa boi gordo à vista recuou 2,02%, sendo cotado a R$ 85,82/@, nesta quarta-feira. O indicador a prazo caiu de R$ 88,59/@ (26/11) para R$ 87,10/@, registrando uma retração de 1,68%. Em um mês a queda acumulada já chega a 2,22%. Acompanhe o movimento de outros indicadores na tabela abaixo.
Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio
Ao contrário do que se pensava inicialmente, ou mesmo nem se imaginava, a atual crise parece realmente ter vindo para ficar: seus reflexos, segundo analistas, deverão nos acompanhar pelo menos pelos próximos anos e a cadeia da carne bovina já começa a sentir com mais intensidade os efeitos dela.
Ainda em outubro, a previsão da maioria dos economistas brasileiros era de que o dólar encontraria um patamar abaixo dos R$ 2,00 na virada do ano. O Banco Central (BC) havia feito sua estimativa: R$ 1,95. Ontem, a moeda norte-americana bateu nos R$ 2,47, atingindo a maior cotação desde 9 de junho de 2005, mesmo com a volta do BC ao mercado de câmbio.
Na opinião de Alcides Amaral, ex-presidente do CitiBank no Brasil, 2009 será um ano bem pior para a economia brasileira, com risco de aumento do desemprego e retração do consumo, apesar dos números recordes de geração de empregos formais registrados neste ano. “O desemprego deve crescer em 2009 em decorrência da crise. Somente a redução das taxas de juros, agora, pode atenuar o cenário”, declarou ontem o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, à Julianna Sofia, da Folha de São Paulo.
Nesta quarta-feira, o dólar comercial disparou e fechou em intensa alta. Segundo o InfoMoney, a mesma tendência da moeda norte-americana foi vista frente às divisas de referência global, como euro, libra esterlina e franco suíço.
Dados divulgados pela autoridade monetária nesta quarta-feira mostraram a continuidade da saída de dólares do país. O fluxo cambial acumulado em novembro ficou negativo em US$ 7,159 bilhões, configurando o pior resultado desde janeiro de 1999. Além disso, o preço das commodities no exterior segue recuando, aumentando as preocupações em relação à balança comercial brasileira.
De acordo com o Banco Central o Dólar compra fechou o dia em R$ 2,4205, variação positiva de 4,27% na semana. Com o preço da arroba no mercado físico (-2,02%) e o dólar indo para lados opostos, o indicador de boi gordo em dólares recuou para US$ 35,46/@, o valor mais baixo desde 22 de outubro de 2007, quando este indicador foi calculado em US$ 35,14/@. Em 2008 a média está em R$ 47,89/@.
Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista em dólares
Na segunda-feira, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), divulgou os resultados das exportações brasileiras em novembro. Segundo estes dados, no mês passado foram enviadas ao exterior 56.700 toneladas de carne bovina in natura pelos exportadores brasileiros, que renderam US$ 225,9 milhões ao setor.
Estes números representam recuo de 42,7% na receita das exportações de carne bovina in natura quando comparados os meses de novembro e outubro, enquanto o volume foi 36,47% menor, na mesma comparação. Apesar do forte recuo no volume exportado, a variação cambial tornou o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional, dando vantagens aos exportadores brasileiros frente seus concorrentes.
Gráfico 2. Exportações brasileiras de carne bovina in natura, receita e volume
Este é o segundo mês consecutivo em que registramos retração nas exportações, confirmando os problemas enfrentados pelos frigoríficos exportadores, que estão sofrendo pressões dos compradores internacionais por reduções de preços e renegociação de contratos, reflexos da crise mundial, além de dificuldades com a escassez de boi gordo.
O preço médio da carne bovina exportada, diferente do que vinha acontecendo durante todo o ano, no mês passado recuou 9,81%, ficando em US$ 3.984/tonelada. Apesar da queda, em novembro passado este valor foi 28,23% superior ao registrado no mesmo período de 2007.
O leitor do BeefPoint, Humberto de Freitas Tavares, nos pediu que fizemos comparações desses números em Reais. Em sua carta ele comenta, “se plotar o gráfico em reais, moeda pela qual os frigoríficos trocam os dólares que recebem, a coisa muda muito de figura”.
Ao analisarmos a receita da exportações brasileiras de carne bovina in natura em Reais, vemos que a variação cambial diminuiu um pouco o recuo observado durante novembro. Na comparação com o mês de outubro a retração foi de 40,36%. Na comparação com novembro de 2007 a variação foi de -6,27%, enquanto na comparação inicial (valor em dólares) a diferença é de -26,67%.
Gráfico 3. Receita das exportações de carne bovina in natura, em Reais
Se observarmos o preço médio da carne bovina in natura em Reais, temos que a tonelada de carne in natura foi vendida no mercado internacional a R$ 9.008, valor 6,12% inferior ao registrado em outubro, portanto, com variação menor do que o recuo em dólar.
Gráfico 4. Preço médio da carne bovina in natura exportada, em Reais
No editorial, publicado no final da semana passada, Miguel da Rocha Cavalcanti, comenta um pouco as mudanças que estão ocorrendo no mundo e as perspectivas para mercado da carne.
Clique aqui e leia o artigo completo.
“As exportações devem se manter nos atuais níveis, com possibilidade de queda nos volumes. A queda na cotação do preço do petróleo, quase 1/3 do pico desse ano, e cerca de 40% mais barato do que há um ano, diminui a capacidade de compra dos principais parceiros comerciais do Brasil, em carne bovina.
A solução, nesse ponto, é aumentar o acesso brasileiro, inclusive a mercados que o Brasil já atuou no passado recente, como União Européia (que compra pequenos volumes hoje) e Chile que já foi um dos maiores parceiros brasileiros, e que tem dificultado enormemente o acesso do produto brasileiro.
Por outro lado, a valorização do dólar aumenta em muito o poder de compra dos frigoríficos brasileiros. Ao se avaliar a relação de troca (carne exportada X arrobas de boi), percebe-se que a situação, graças ao dólar, melhorou enormemente nos últimos meses. De outubro/07 a setembro/08, cada tonelada de carne comprava em média 79@ de boi gordo. Em outubro/08, o poder de compra da carne exportada saltou para 105@” ressalta Cavalcanti.
No mercado físico, a oferta de animais continua restrita, mas a diminuição no volume de abates promovida pelos frigoríficos mantém as escalas confortáveis e o preço segue recuando. Com a exportação retraída, seja por problemas de crédito dos importadores, diminuição de consumo, problemas de sazonalidade ou climáticos (a Rússia e a Europa enfrentam o período frio do ano – quando o consumo normalmente é menor – e no Brasil as chuvas e enchentes em SC também dificultam os embarques), e o consumo interno menor, os frigoríficos preferem aumentar a ociosidade das plantas e forçar recuos nos preços da arroba. Além de diminuir a demanda por animais para o abate, esta decisão ajuda à diminuir a oferta de carne no atacado evitando quedas acentuadas.
Em São Paulo, os firgoríficos reportam escalas fechadas até semana que vem e seguem buscando novos recuos, mas de maneria geral o mercado segue em ritmo lento, com pequeno número de negócios efetivados. Compradores comentam que muitos pecuarista vendem apenas pequenos lotes para cumprir compromissos e aguardam na esperança de melhores negócios.
O leitor do BeefPoint, Alberto Baggio Neto, de Maringá/PR, comenta, “esta situação de baixa do preço da arroba do boi gordo só pode ser surrealista e momentânea, pois é sabido por todos que os confinamentos diminuíram o alojamento para esta entressafra e o boi de pasto não aparece em condições ideais de abate. Em suma: é uma situação, a meu ver, que não se sustenta num prazo longo, desde que a cadeia produtiva “dentro da porteira” mantenha o sangue-frio e ofereça somente animais acima de 18 arrobas ao abate. Ai veremos como ficam as “folgas” nas escalas de abate”.
No Mato Grosso, pecuaristas e frigoríficos têm ainda outra preocupação. Em decorrência da greve do Indea, não estão sendo emitidas GTAs. De acordo com do presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado (Sindifrigo), Luís Antônio Freitas, os prejuízos do setor chegam à casa de R$ 20 milhões/dia. Ele destaca, ainda, que tudo isso também afeta a imagem do Estado junto à comunidade internacional. “O volume de exportações pode até ser pequeno, mas nosso maior prejuízo está na quebra de confiança, no descrédito junto aos compradores, o que poderá levar à ruptura de contratos”, afirma.
Mas esta não é a única crise que o segmento industrial enfrenta. O processamento de carne bovina no Estado sofreu uma redução de 19,5% em relação a 2007. Desde o início do ano o setor vem enfrentando dificuldades, com a redução na oferta do boi gordo, a elevação da arroba e também reflexos de embargos, como o russo.
A greve dos servidores do Indea/MT foi deflagrada em meados de novembro, interrompida, e retomada na segunda-feira (1°). Na terça a Justiça determinou o retorno imediato de 30% do efetivo do Indea/MT no prazo de 24 horas. No entanto, segundo matéria do jornal Diário de Cuiabá, até o final da tarde de ontem o presidente do Instituto, Décio Coutinho, ainda não havia sido comunicado oficialmente.
O mercado de reposição também esfriou e os preços do bezerro estão recuando dia após dia. O indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista foi cotado, nesta quarta-feira, a R$ 687,69/cabeça, com desvalorização acumulada na semana de 1,18%. Depois de atingir o pico de R$ 754,92, em 17 de junho de 2008, este indicador vem apresentando recuos consecutivos, mas ainda está com valor 43,74% acima do apurado em 03 de dezembro do ano passado. A relação de troca está em 1:2,06.
Gráfico 5. Indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista
Alexsandro Mendonça, leitor do BeefPoint de João Pinheiro/MG, comenta que na região o mercado está em baixa e existem muitos retornos (defesas) nos leilões. Segundo ele o bezerro desmamado está sendo negociado a R$ 550,00.
“As chuvas aqui na região são poucas e os pastos ainda estão se recuperando, a arroba do boi abaixou e a crise mundial está ai, tudo isso deixou o pecuarista com o pé atrás e o mercado de reposição está praticamente parado. Pouca oferta e muito menos procura, quando se vende um lote o preço é bem abaixo do praticado em setembro/outubro, quem tem o produto não aceita vender pelos preços praticados atualmente, só vende quem tem que saldar compromissos” informa Manoel Torres Filho, de Tupi Paulista/SP.
Como está o mercado do boi gordo e reposição em sua região, em relação a preços, oferta e demanda e número de negócios efetivados? Por favor utilize o box de “cartas do leitor”, abaixo para nos enviar comentários sobre o mercado.
A BM&FBovespa teve forte retração essa semana. O primeiro vencimento, dezembro/08, fechou, nesta quarta-feira, a R$ 83,02/@, com variação acumulada na semana de R$ 4,20. A maior variação do período ocorreu nos contratos que vencem em janeiro/09, -R$ 5,62, que fecharam a R$ 80,95/@. Para maio/09, os contratos de boi gordo da bolsa valem R$ 80,50/@.
Gráfico 6. Indicador Esalq/BM&FBovespa e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 26/11/08 e 03/12/08
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Meus cumprimentos ao André por mais uma ótima análise.
Tenha certeza de que esta agilidade e esta interatividade elevam o prestígio do site junto a nós, navegantes diários do BeffPoint e nos fazem sempre querer estar de volta.
Até o dia dez de dezembro o frigorifico Bertin está matando a R$75,00/@, tem escala até o dia vinte mas sem preço apartir desta data.
Previsão por aqui não é boa, o mercado parou. Ninguem compra e niguem vende.
Bezerro aqui na faixa de R$550,00, sem oferta de compra. Muita chuva, boi esta começando a ter saida, mas ninguem esta sabendo o que fazer.
Bom dia,
Trabalho em um grande frigorifico, como representante comercial no estado do Rio de Janeiro, mas não consigo entender uma coisa, estou acompanhando as matérias e venho observando as baixas de preço na arroba do boi, mas não é o que está acontecendo no mercado interno, alguns cortes estão tendo aumentos enormes por parte dos frigorificos.
Eu estou entendendo da seguinte forma: os frigoríficos para não terem um prejuízo maior do que se espera no final do ano letivo com a queda na exportação, estão jogando maiores preços para o mercado interno? Digo na linha de produção de cortes in natura.
Fica a minha pergunta.
O cenário economico mundial é muito preocupante, pois projeta uma fase de recessão e isto certamente afetara toda a economia e naturalmente o agronegócio. Considerando-se que embora focos diferentes tudo esta interligado uma vez que o pecuarista vende o seu produto para manter o filho na faculdade, adquirir ou trocar o seu veículo, a sua máquina agrícola, comprar vestuarios, medicamentos etc.
Vivemos em sociedade e um setor depende do outro, portanto como diziam os mais antigos se a barba do seu vizinho esta queimando; coloca a sua de molho.
Todo cuidado e pouco. Entendo que merece também uma observação em relação ao consumismo que estamos praticando motivado pelo comercio que na busca de gerar negocios na expectativa de auferir cada vez mais lucros criam facilidades para aquisições de produtos industrializados como: veiculos, motos, eletrodomésticos e tudo mais, a longo prazo com taxas muitas vezes insuportáveis, onde na maioria das vezes negociam com jovens ou pessoas sem estabilidade financeira comprometendo quase todo seu vencimento para se dar ao luxo de desfilar em um carro do ano, moveis, eletrodomesticos, celulares, roupas e tudo mais de ultima geração sem se preocupar com o futuro. Postura esta que naturalmente ira gerar inadimplencia em algum lugar.
Finalizando a situação da região do Triangulo Mineiro não é diferente das demais ja mencionadas pelos amigos que se manisfestaram anteriormente e também o que esta muito nos preocupando e a instabilidade das chuvas que ate agora foram pouquissímas atrasando o plantio, as pastagens, enfim, e quem ja o fez na expectativa das chuvas estão tendo problemas de germinação.
Contudo mesmo diante das adversidades devemos pensar positivo e acreditar no sistema e principalmente nos homens que o opera, pois temos um país abençoado e somos seres dotados de inteligência. Acho que chegou a hora de canalizarmos nossos esforços para o bem comum, deletando o individualismo e a ganancia que certamente consiguiremos reverter as dificuldades em oportunidades.
União, comprometimento, trabalho e esperança.
Mais uma vantagem do BeefPoint: abre espaço para que nos cheguem informaçoes preciosas como as trazidas pelo Evandro e pelo Orlando, por exemplo.
A agilidade que eu recentemente pedi na publicação das cartas, no que fui atendido e agradeço, potenciliza muito a influência deste espaço.
No RS estamos com o boi gordo em baixa com negócios de R$ 2,50 a R$ 2,60 e boa oferta de animais com dificuldade de negócios à vista. Isto devido a entrada de bois e vacas gordas vindos do Uruguai em grande quantidade e com – preços muito baixos.
Hoje temos bois chegando a cerca de U$1,00 vivo 3 vacas a US$ 0,80 e de muito boa qualidade. O RS tem hoje talvez o menor preço do boi gordo do Brasil e até poucos meses eramos o maior preço.