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Comercialização de bovinos de corte: uma alternativa eficaz

Por Luciano E.M. Polaquini1

A pecuária de corte foi no passado, o principal instrumento de consolidação das fronteiras agrícolas do país, baseada em modelos de exploração extensiva e alicerçada no fator terra, que, a preços baixos e ou subsidiados era incorporado pelos grandes projetos nas áreas a serem colonizadas (COELHO e VENTURELLI, 1995).

Num mundo em que as barreiras comerciais tradicionais têm sido removidas mais rapidamente que no passado, a busca de competitividade tem sido a tônica para a sobrevivência de qualquer atividade econômica nos mercados globalizados. Por essa razão, a competição no mercado internacional de carnes tem sido cada vez mais acirrada, requerendo produtos de alta qualidade, produzidos a baixos custos e em bases sustentáveis. Sob outra ótica, o processo de globalização tem encurtado a distância entre os mercados, favorecendo empresários eficientes, e mostrando-se implacável com os setores ineficientes da economia.

A década de noventa, foi uma etapa de choque para o sistema agro-industrial da pecuária de corte (todas as cadeias produtivas, sem exceção, foram postas à prova). Acirrou-se a competição no mercado de carnes, por um lado ocorreu implemento na produção de frangos e suínos (que afetou o mercado de carnes bovinas de forma direta, com o frango ganhando amplo espaço nos hábitos alimentares dos brasileiros, assim como o suíno), e, por outro, a abertura do mercado brasileiro, forçou os pecuaristas brasileiros a buscarem melhora nos seus índices produtivos.

A importância e a dimensão da pecuária brasileira estão crescendo a cada ano. O país possui o maior rebanho bovino comercial do mundo: em 2 milhões de propriedades, a pecuária de corte ocupa 2 (dois) em cada 3 (três) hectares empregados em atividades rurais. Estima-se que a cadeia (insumos, produção animal, indústria e comércio de carnes e couros) empreguem diariamente 7,2 milhões de pessoas e produza um dos principais alimentos da dieta dos brasileiros (NEVES, 2002). O país abatia em 1993 cerca de 33 milhões de cabeças e há expectativa para este ano é que os abates ultrapassem 39,5 milhões de cabeças (ANUALPEC, 2002).

No campo nutricional os avanços foram significativos, desenvolveram-se tecnologias, que revolucionaram a engorda e a terminação de bovinos de corte. Nesse contexto podemos destacar a evolução do número de animais terminados em confinamento (no ano de 92 foram abatidas 825.000 cabeças, ao passo que no ano de 2001 foram terminadas mais de 1,8 milhões de cabeças), destaca-se também o aprimoramento da terminação de animais semi-confinados (em 92 abateu-se 250.000 cabeças, 2001 fechou um saldo de mais de 2,5 milhões de cabeças). Ainda mais significativo, contudo, foi observado na terminação de animais sob pastagens de inverno que saltou de 770.000 cabeças (1992), para mais de 1,2 milhões em 2001, dispensando o deslocamento de capital para investimentos iniciais em instalações e maquinaria, além, é claro, da minimização das despesas administrativas (ANUALPEC 2002).

Apesar da pecuária de corte apresentar uma conhecida sazonalidade de preços, causada principalmente por intempéries climáticos, os preços da arroba vêm se estabilizando ao longo do ano, isto se deve entre outros fatores pelo aumento da produção, através da adoção de estratégias adequadas para cada sistema de produção, como a suplementação na seca, entre outros.

Um problema observado é que o pecuarista brasileiro, de forma geral, não se preocupa muito com a gestão empresarial de sua propriedade, isto se deve em parte às características particulares que dificultam a contabilidade da empresa rural.

Segundo Bonaccini (2002), tais particularidades se devem à vários fatores, tais como: o ciclo de produção da vaca ao boi gordo varia muito; a existência de diversas categorias, com pesos e valores diferentes no mercado comercial; o rateamento dos custos fixos entre as diferentes categorias; a dinâmica da movimentação dos animais na propriedade ao longo do ano ser grande. Fazendo com que muitas propriedades sejam gerenciadas de forma empírica.

Dentro da proposta de melhorar o gerenciamento da propriedade rural, vamos abordar uma forma eficaz de comercialização dentro da pecuária de corte. A maioria dos pecuaristas lidam com muitas incertezas ao longo de um ano produtivo, e a maior deles, talvez, seja o valor que irá receber pela arroba do boi, isto se deve a vários fatores, como foi mencionado anteriormente, porém, para os empresários rurais existe uma forma de assegurar uma rentabilidade no referido sistema, e com certa antecedência, tal forma seria comercializar sua produção através de mercados futuros.

Os mercados futuros de commodities agropecuárias propiciam uma certa segurança em meio a tantos riscos, para o produtor rural e para a indústria agroprocessadora, possibilitanto uma “garantia” quanto à queda ou a elevação de preços.

Portanto, os mercados futuros são formas eficazes de eliminação de um dos principais riscos da atividade agropecuária, que é o decorrente da incerteza de preços em um tempo futuro, quando se dará então a comercialização da safra agrícola.

Fazer um hedge (seguro de preço), aproveitando as oportunidades que o mercado futuro geralmente oferece, pode ajudar a aumentar os preços médios de venda. No entanto, é desejável que o produtor esteja bem assessorado sobre as formas de operar com baixo risco nesse mercado. Inicialmente, quem pode tornar-se, usuário do mercado futuro são os grandes produtores ou as empresas rurais, em função da necessidade de um controle rigoroso sobre seu sistema de produção, principalmente sobre os custos, pois somente assim pode-se assegurar que o valor a ser segurado garante o bom funcionamento de sua empresa. Para analistas de mercados futuros, eles podem se valer do hedge, uma vez que o risco e a proteção da receita na agricultura crescem à medida que a escala de produção é maior, mais especializada e dependente de grandes volumes de financiamentos (SCHOUCHANA, 1997).

De acordo com Schouchana (1997), existem alguns entraves ao desenvolvimento dos mercados agropecuários no Brasil, tais como: a) a concorrência de Bolsas tradicionais estrangeiras, b) falta de cultura e de conhecimento dos mercados futuros no Brasil, c) intervenções do governo, provocando incerteza nos “hedgers“, d) falta de uma política agrícola eficiente, d) a desorganização dos mercados físicos, e) a falta de transparência de alguns mercados, etc.

Ressalta-se, por último, que não se pode deixar de utilizar todas as formas possíveis para melhorar o sistema de produção, buscando não somente eficiência produtiva (que é o mais comum de se observar), mas também eficácia na comercialização.

Referências Bibliográficas:

ANUALPEC 2000: anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2000. p. 72, 78, 80-168.

ANUALPEC 2002: anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2002. p. 7.

BONACCINI, L. A. Sistemas de gerência eficazes, o novo desafio a vencer, ANUALPEC 2002, São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2002. p.70-74.

COELHO, C.N.; VENTURELLI, P.N. Agricultura no Brasil: desenvolvimento e perspectivas. Revista da Política Agrícola, n.1, p. 5-11, 1995.

NEVES, M. F. As redes, o marketing e a carne bovina, Anuário DBO 2002, n.256, p.54-56, março 2002

SCHOUCHANA, F. Introdução aos mercados futuros e de opções agropecuários, .São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuros, 1997. 70 p.

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1Luciano E.M. Polaquini é pós-graduando (mestrado) em Produção Animal, Departamento de Economia Rural – Unesp – Jaboticabal, (e-mail: lucpol@fcav.unesp.br)

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