A piora das lavouras americanas e a descrença do mercado no acordo entre Rússia e Ucrânia que prevê a retomada das exportações ucranianas de alimentos pelos portos do Mar Negro deram forte impulso às cotações dos grãos na bolsa de Chicago nesta terça-feira. O trigo liderou as altas na sessão. Os contratos do cereal para setembro, que são os de maior liquidez no momento, avançaram 4,4% e fecharam a US$ 8,0375 por bushel. Os papéis de segunda posição, que vencem em dezembro, por sua vez, subiram 4,25%, para US$ 8,22 o bushel.
No sábado, menos de 24 horas depois da assinatura do acordo para abertura do corredor de exportação de grãos, a Rússia atacou alvos no porto ucraniano de Odessa, no Mar Negro. Ainda assim, autoridades de Rússia e Ucrânia dizem que o bombardeio não muda os planos de retomada dos embarques.
“O mercado ainda está tentando entender o que o episódio significa”, disse Luiz Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica. “A ação russa mostra o quão frágil é a esperança de que poderemos ter a volta dos grãos ucranianos”.
Pacheco estima que, no melhor dos cenários, os embarques da Ucrânia só vão se normalizar quatro meses após a retomada — os portos ucranianos têm capacidade para escoar 5 milhões de toneladas ao mês, e o governo alega que há 20 milhões de toneladas nos armazéns do país. “Isso se não tivermos novos imprevistos, como o bombardeio russo da última semana”, destaca.
O mercado também segue atento à piora das lavouras americanas de trigo de primavera. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 68% das lavouras estavam em boas condições na semana encerrada em 24 de julho, fatia inferior aos 71% da semana anterior. As plantações em situação regular passaram de 23% para 24% de uma semana à outra, e quantidade de lavouras em más condições subiu de 6% para 8%.
Soja
No mercado de soja, também como reflexo da piora das lavouras nos EUA, os contratos para do grão para novembro fecharam em alta de 2,8%, a US$ 13,8375 por bushel. E as previsões meteorológicas continuam a indicar clima desfavorável à safra americana.
“A previsão é de predomínio de tempo quente e seco em parte do Meio-Oeste dos Estados Unidos nos primeiros dez dias de agosto, no noroeste da região e nas planícies”, disse o diretor da AgResource no Brasil, Raphael Mandarino, em entrevista ao Valor.
Segundo o USDA, no domingo passado, 59% das lavouras de soja estavam em bom estado, 30% em situação regular e 11% em más condições. Uma semana antes, os percentuais eram 61%, 29% e 10%, respectivamente.
Em comentário sobre a demanda, Mandarino acredita que, em breve, a China voltará a comprar grãos americanos. Os chineses devem recompor seus estoques para atender os suinocultores, que, com a elevação dos preços da proteína, podem investir mais em insumos. “Com exceção do auge da peste suína africana, as cotações estão em seu maior patamar da história, e a margem do produtor chinês está extremamente positiva. A tendência é que ele invista na atividade”, afirma.
O provável aumento de 0,75 pontos percentuais nas taxas de juros dos EUA na reunião que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fará amanhã também é positivo para as commodities, já que diminui o risco de recessão neste ano, avalia o diretor da AgResource. “Esse movimento do Fed pode trazer calmaria ao mercado, mas ainda temos muita estrada até a recessão estar fora do radar”, diz.
Milho
Nas negociações do milho, as dúvidas sobre o acordo entre Rússia e Ucrânia e sobre o clima nos EUA também ofereceram sustentação aos preços. Nesta terça-feira, os lotes do cereal para entrega em dezembro subiram 2,91%, a US$ 6,0075 por bushel.
Segundo o USDA, na semana encerrada em 24 de julho, 61% das lavouras estavam em boas condições, 25% em situação regular e 14% estavam ruins. Na semana anterior, os percentuais eram 64%, 26% e 10%, respectivamente.
A estiagem também prejudicou as lavouras da União Europeia durante a fase de floração, e dois terços do cinturão europeu de milho permanecerão sob estresse nos próximos dez dias, informou o Commodity Weather Group à agência Dow Jones Newswires.
Thomas Joly, analista de milho do instituto agrícola francês Arvalis, lembra que a etapa da floração é crítica para o milho. “No momento, não temos chuva, e as temperaturas estão muito altas”, disse.
Fonte: Valor Econômico.