Depois de recuar no pregão da véspera, o trigo fechou a sessão desta terça-feira em forte alta na bolsa de Chicago. O vencimento para maio, o mais negociado, subiu 5,29% (58 centavos de dólar), a US$ 11,5425 por bushel, e a posição seguinte, para julho, avançou 5,37% (57,50 centavos), a US$ 11,2750 o bushel.
O impasse nas negociações de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia e, agora, a notícia de que a seca se espalha em áreas importantes de produção de trigo dos Estados Unidos deram impulso aos preços na sessão, de acordo com o analista Terry Reilly, da Futures International.
Nas planícies americanas, onde o trigo de inverno está hibernando, as condições de déficit hídrico estão piorando. Segundo o Monitor da Seca dos EUA, 12% de Oklahoma e do Texas enfrentavam uma seca excepcional — a pior classificação possível — em 10 de março.
A agência Bloomberg informou nesta terça que a Rússia, mesmo em guerra, continua a liberar navios para enviar o cereal a outros mercados. O país é o maior exportador global de trigo.
Nabil Mseddi, diretor executivo da AgFlow, afirmou à agência que 28 navios saíram da Rússia na semana passada, transportando cerca de 350 mil toneladas de trigo e também outras culturas básicas. Na semana anterior, segundo ele, 50 embarcações haviam partido dos terminais russos.
“Com a navegação [mais] complexa [por causa da guerra] e as amplas sanções que uma série de países impuseram à Rússia, [a manutenção do] abastecimento de trigo deverá ser uma questão de custos de frete e seguro”, disse Mseddi à agência.
Já o tráfego de navios nos portos da Ucrânia continua parado. Segundo estimativa da consultoria APK-Inform, como os produtores não estão recebendo suprimentos, a produção ucraniana de cereais e girassol pode cair 40% em relação à safra passada.
Milho
Com apoio do trigo, o milho voltou a subir na bolsa de Chicago, recuperando parte das perdas da véspera. O contrato para entrega em maio, o mais ativo, que ontem havia recuado 1,9%, hoje avançou 1,3% (9,75 centavos de dólar), a US$ 7,580 o bushel. A posição seguinte, para julho, fechou em alta 0,66% (4,75 centavos), a US$ 7,2325 por bushel.
No mercado, alguns analistas acreditam que a guerra na Ucrânia aumentará a demanda pelo milho dos Estados Unidos, o que pode elevar os preços. Na semana passada, a Ucrânia, quarto maior fornecedor mundial do grão, anunciou a suspensão dos embarques do produto.
“Os importadores estão rapidamente ficando sem opções. Com isso, os compradores de milho em todo o mundo terão que vir para os EUA”, disse Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage, à Dow Jones Newswires.
Ainda nos Estados Unidos, o US Drought Monitor informou que agricultores do país já começaram o plantio da safra 2022/23 de milho. Segundo o analista Karl Setzer, da AgriVisor, agora o mercado começará a avaliar qual será a área efetiva destinada ao cereal neste ciclo — para o Departamento de Agricultura americano (USDA), a área deverá cair 1,5% neste ciclo em relação ao anterior.
“Embora os relatórios de plantio nos ofereçam uma indicação melhor do que as previsões, ainda não há uma amostra grande o suficiente [para que a precisão das estimativas seja alta]”, lembra o analista. Setzer acrescenta que o USDA divulgará nova estimativa de área no fim deste mês em conjunto com os números finais de estoques no país na safra 2021/22.
Soja
Por fim, a soja emendou sua terceira queda seguida na bolsa de Chicago, pressionada pelo quadro no mercado de energia, que vinha oferecendo apoio às cotações do óleo de soja. O contrato da oleaginosa para maio, o mais negociado atualmente, caiu 0,7% (11,75 centavos de dólar), a US$ 16,5875 o bushel, e a posição seguinte, para julho, recuou 0,67% (11 centavos de dólar), a US$ 16,3575 por bushel.
A queda do petróleo — os futuros do Bren para maior recuaram 5,62%, a US$ 97,58 o barril — pressionou mais uma vez as cotações do grão. Quando o fóssil se desvaloriza, o mercado do óleo de soja perde força, uma vez que o subproduto é o principal insumo do biodiesel.
Além desse fator, a consultoria AgResource lembra que os investidores têm optado por liquidar posições em alguns ativos, como a soja, devido à continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e, no momento, também com o indício de uma escalada de casos de covid-19 na China.
Outro elemento de pressão foi o registro sobre a queda do esmagamento de soja nos EUA em fevereiro. Segundo a Associação Nacional de Processadores de Sementes Oleaginosas (Nopa, na sigla em inglês), o processamento de soja no país somou 4,49 milhões de toneladas no mês passado, uma queda de 9,4% em relação a fevereiro de 2021 e o menor patamar em cinco meses.
Os estoques de óleo de soja subiram 17,2% em relação a fevereiro do ano passado, para 934,9 milhões de litros, o maior volume desde abril de 2020.
Fonte: Valor Econômico.