Nesta segunda-feira, o trigo fechou em alta na bolsa de Chicago, depois de o governo da Rússia rechaçar a proposta da Organização das Nações Unidas (ONU) de criação de um corredor para exportar os grãos produzidos na Ucrânia. Os embarques ucranianos pelos portos do Mar Negro estão paralisados desde o início da invasão russa, há quase três meses.
A Rússia produzirá 20% do trigo a ser comercializado no mundo em 2022/23. Isso faz do produto um trunfo adicional do país em sua pressão contra os embargos de que tem sido alvo por causa da guerra com a Ucrânia.
Os papéis do cereal mais negociados em Chicago, que vencem em julho, subiram 1,82%, a US$ 11,90 por bushel, e os contratos para janeiro de 2023 avançaram 1,96%, a US$ 11,975 por bushel. Segundo Andrey Sizov, analista da consultoria russa SovEcon, uma eventual paralisação completa das exportações de trigo da Rússia pode levar as cotações para a faixa de US$ 20 por bushel.
O Kremlin informou que só concordará com os corredores para exportação se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se retratar com o país, disse a AgResource. “A retirada das sanções é altamente improvável, já que elas são a única resposta não-militar da Otan à guerra”, afirmou a consultoria, em nota.
As perspectivas para a oferta global não são das mais favoráveis. Na semana passada, o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) reduziu sua previsão para a safra global em 1,4%, agora estimada em 769 milhões de toneladas.
O clima adverso tem sido um forte oponente para o cereal em importantes países produtores. Boletins climáticos recentes indicam que o fenômeno La Niña vai deixar o tempo muito seco na Argentina e no cinturão de cultivo de trigo da Europa Ocidental.
A seca também é um problema nos Estados Unidos. Nos últimos 14 dias, pouca ou nenhuma chuva caiu em grande parte das planícies do sul do país, onde o trigo de inverno vermelho está crescendo, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia.
Nos Estados americanos do Kansas e de Oklahoma, os dos maiores produtores de trigo de inverno dos EUA, mais da metade das lavouras sofriam com a forte estiagem na semana passada, e o número de plantações enfrentando uma seca excepcional — a pior classificação possível no Monitor de Secas — está aumentando.
Milho
No mercado de milho, os lotes para julho encerraram em alta de 0,96%, a US$ 7,8625 por bushel. Os compromissos para entrega em janeiro de 2023 subiram 1,04%, para US$ 7,5475 o bushel.
O mercado aguarda a divulgação dos dados sobre o plantio nos Estados Unidos, que sairão ainda hoje. Dona Hughes, analista da StoneX, disse ao jornal “The Wall Street Journal” que o mercado está prevendo uma possível transferência de área de milho para a soja, já que a janela ideal de plantio está ficando para trás.
O analista Karl Setzer, da AgriVisor, não acredita nessa hipótese. Segundo ele, os agricultores não demonstram interesse em aumentar as áreas de outras culturas porque o milho está bastante valorizado neste momento O IGC, por sua vez, reduziu sua expectativa para a produção global em 2022/23. O órgão cortou sua estimativa de 1,197 bilhão para 1,184 bilhão de toneladas.
Soja
O contrato da soja para julho recuou 1,07% na sessão de hoje, para US$ 16,87 o bushel, enquanto o papel de segunda posição, para agosto, caiu 0,79%, a US$ 16,2875 por bushel. “Se não plantarmos milho suficiente — o momento ideal é meados de maio —, essa área vai para a soja”, afirmou Donna Hughes, da StoneX.
Para a analista Virginia McGathey, da McGathey Commodities, uma queda de 20 centavos hoje é quase insignificante em relação às altas recentes, ponderou ela em entrevista ao “The Wall Street Journal”, segundo a Dow Jones Newswires. Nas últimas duas semanas, a soja avançou 6,5%.
Na semana passada, o IGC aumentou sua estimativa para a produção mundial em 2022/23, em 4 milhões de toneladas, para 387 milhões de toneladas. Em nota, o órgão atribuiu a revisão às novas perspectivas para a safra no Brasil, Argentina e China.
A queda do óleo de soja também pressionou as cotações do grão — o contrato do derivado para julho caiu 0,57%, a 80,47 centavos de dólar por libra-peso. Hoje, a Indonésia retomou as exportações de óleo de palma, o que dá margem para ajustes nos preços de outros óleos vegetais.
Fonte: Valor Econômico.