O trigo despencou na sessão desta quarta-feira na bolsa de Chicago, fechando no limite mínimo de variação para um só dia, de 85 centavos por bushel. O contrato para maio, o de maior liquidez, caiu 7,36%, para US$ 10,6925 por bushel, enquanto a posição seguinte, para julho, recuou 7,54% (85 cents também), a US$ 10,4250 o bushel.
O contrato mais negociado do cereal vem passando por forte correção desde a semana passada, quando as cotações atingiram patamar recorde. Da última semana até agora, os papéis recuaram 21%.
A notícia de aumento das chuvas nas áreas produtoras dos Estados Unidos, que passam por forte estiagem neste momento, foi um dos gatilhos para a liquidação dos futuros. A nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia também pesou sobre as cotações.
Mas o grande fator de pressão no mercado de grãos nesta quarta foi o anúncio da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de elevar as taxas de juros do país. Ainda que o movimento já fosse esperado, ele reiterou as perspectivas de pressão inflacionária em 2022, que sinalizam que a autoridade monetária deverá seguir elevando os juros ao longo deste ano.
Com o aumento da taxa básica, a compra de títulos do Tesouro americano fica mais atrativa para os investidores. Além de a alta dos juros elevar o rendimento desses papéis, eles são considerados um ativo mais seguro, ao contrário das commodities agrícolas, mais arriscadas.
Milho
A forte liquidação de contratos nas negociações do trigo teve influência sobre o milho, que também caiu. O contrato para entrega em maio, o mais ativo, fechou o dia em baixa de 3,69% (28 centavos de dólar), a US$ 7,300 o bushel. Já a posição seguinte, que vence em julho, desvalorizou-se 3,63% (26,25 centavos), a US$ 6,970 o bushel.
A AgResource informou que os fundos de investimentos negociaram ao menos 15 mil contratos de milho, 7,6 mil de trigo e 3,4 mil de soja durante o pregão. Segundo a consultoria, além do ajuste técnico de posições, também as incertezas sobre uma solução para a guerra entre Rússia e Ucrânia tem alimentado as fortes oscilações dos preços dos grãos.
“Temos alertado os clientes sobre a volatilidade desde fevereiro, e não há sinal de que ela vá acabar tão cedo”, disse a consultoria.
Outro elemento de pressão sobre as cotações foram os dados sobre a produção de etanol nos EUA, onde o milho é o principal insumo para a fabricação do biocombustível. Segundo a Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês), os estoques americanos de etanol alcançaram 25,95 milhões de barris na semana encerrada em 11 de março, seu maior nível desde abril de 2020. O mercado esperava que os estoques chegassem a um intervalo entre 25,25 milhões e 25,5 milhões de barris. O aumento em relação à semana anterior foi de 680 mil barris.
Já a produção diária do biocombustível recuou 0,2% entre uma semana e outra, para 1,026 milhão de barris por dia. O volume ficou dentro do esperado por analistas ouvidos pelo jornal “The Wall Street Journal”, que previam produção na faixa entre 1,013 milhão e 1,035 milhão de barris por dia.
Soja
A soja, por fim, caiu pela quarta sessão consecutiva na bolsa de Chicago, em um movimento de correção de preços após o forte aumento do mês passado. O contrato com entrega para maio, o mais negociado atualmente, caiu 0,57% (9,50 centavos de dólar), a US$ 16,4925 o bushel, e a posição seguinte, para julho, recuou 0,6% (9,75 centavos), a US$ 16,260 o bushel.
A avaliação de parte do mercado é que as perdas da safra da América do Sul já foram contabilizadas. Com isso, o mercado passa a concentrar sua atenção sobre a perspectiva para a temporada 2022/23 dos Estados Unidos, que será cultivada dentro de alguns meses.
“A tendência é que os números sobre a intenção de plantio neste verão [dos EUA] tenham uma atenção maior do que teriam normalmente”, afirmou Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage, em relatório.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgará no próximo dia 31 os números de intenção de plantio dos produtores do país; a primeira estimativa indicou aumento de área de 0,9% em relação a 2021/22. Há preocupação com o preço dos fertilizantes e se isso afetará os trabalhos no campo.
Fonte: Valor Econômico.