O desenvolvimento das DEPs e o uso criterioso desta ferramenta na seleção têm contribuído grandemente para o melhoramento genético dos rebanhos. As DEPs de indivíduos jovens (sem progênie) combinam duas fontes de informação: própria e dos pais, um estudo foi desenvolvido para decompor as DEPs nesses componentes e apresentá-los de uma forma simples e objetiva que pudesse ser usada pelos produtores na seleção de animais geneticamente superiores e possivelmente com maior aceitação comercial.
Por Fernanda Varnieri Brito, Vânia Cardoso, Roberto Carvalheiro, Luiz Alberto Fries, Carlos Dario Ortiz Peña, Mario Luiz Piccoli, Vanerlei Mozaquatro Roso, Flávio Schramm Schenkel e Jorge Luiz Paiva Severo1
Fontes de informação utilizadas no cálculo da DEP
O desenvolvimento das DEPs (Diferença Esperada na Progênie) e o uso criterioso desta ferramenta na seleção têm contribuído grandemente para o melhoramento genético dos rebanhos. Quando combinadas adequadamente na forma de índices, as DEPs são efetivas na identificação de animais com características econômicas desejáveis, harmônicos e adaptados às condições ambientais.
Nos modernos métodos de avaliação genética as DEPs são obtidas combinando-se diferentes fontes de informação: própria, dos pais e da progênie. A contribuição da informação própria é determinada pela segregação mendeliana, ou, em outras palavras, pela amostragem dos genes que um indivíduo herdou de seus pais. Assim, dois animais filhos de um mesmo touro e de uma mesma vaca (irmãos completos), criados sob as mesmas condições ambientais, podem apresentar desempenhos muito diferentes, dependendo da amostragem de genes que eles herdaram de seus pais.
O fato de um indivíduo ser filho de um touro e/ou vaca superior em relação à média do rebanho aumenta suas chances de também ser superior, mas não é uma garantia absoluta de superioridade.
As DEPs de indivíduos jovens (sem progênie) combinam duas fontes de informação: própria e dos pais. Muitos produtores de gado de corte acreditam que a informação dos pais deveria ter uma influência menor do que a informação própria no cálculo das DEPs de animais jovens, mesmo que isto diminua a correlação entre as DEPs e os valores genéticos verdadeiros. Esta opinião é justificada pelo fato de que entre animais com DEPs semelhantes, os produtores geralmente preferem aqueles cujas DEPs parecem ser mais associadas com o desempenho próprio.
Isto sugere que dentro de uma amplitude de valores de DEPs adequadas ao sistema de produção, ao escolherem os futuros reprodutores, empiricamente os produtores estão selecionando aqueles mais harmônicos com relação aos componentes das DEPs (segregação mendeliana e média genética dos pais).
Para ilustrar esta situação, tomemos como exemplo dois touros jovens, A e B (Tabela 1). Os dois touros têm DEPs para ganho de peso pós-desmama iguais a 10 kg. Se o critério de seleção for baseado apenas na DEP, os dois touros terão chances iguais de serem selecionados. Mas os dois touros diferem bastante com respeito à contribuição de cada fonte de informação para a DEP. O touro B é superior ao touro A com relação ao desempenho próprio, mesmo sendo filho de pais inferiores. É provável que o touro B tenha herdado uma das melhores amostras de genes de seus pais e, o touro A, uma das piores.
Tabela 1. Contribuição de cada fonte de informação no cálculo da DEP
Decomposição das DEPs de animais jovens – Possível uso na seleção
Um estudo foi desenvolvido para decompor as DEPs dos animais jovens nos componentes segregação mendeliana e média genética dos pais e apresentá-los de uma forma simples e objetiva que pudesse ser usada pelos produtores na seleção de animais geneticamente superiores e possivelmente com maior aceitação comercial.
Os dados utilizados no estudo fazem parte do banco de dados utilizado nas análises genéticas para o Sumário de Touros Aliança Nelore, totalizando 604.862 produtos, nascidos no período de 1984 a 2006. Foram avaliadas as características:
• ganho de peso do nascimento a desmama (GD);
• conformação na desmama (CD);
• precocidade na desmama (PD);
• musculatura na desmama (MD);
• ganho de peso pós-desmama (GS);
• conformação no sobreano (CS);
• precocidade no sobreano (PS);
• musculatura no sobreano (MS);
• perímetro escrotal no sobreano (PE).
As características CD, PD, MD, CS, PS e MS foram avaliadas através de escores visuais com variação de um a cinco, de forma relativa dentro de grupo de manejo, sendo que as notas mais altas indicam presença mais marcante da característica. Após obtenção das DEPs dos touros, vacas e produtos, as estimativas de segregação mendeliana (SM) foram obtidas por SM = 2(DEPproduto – ½ DEPtouro – ½ DEPvaca).
Uma amostra contendo 100.991 produtos com avaliação completa para GD, CD, PD, MD, GS, CS, PS, MS e PE, com paternidade conhecida, em grupos contemporâneos com 10 ou mais indivíduos, de rebanhos integrantes da Conexão Delta G, foi utilizada no cálculo dos índices.
Dois índices foram calculados para cada produto, um com base nas DEPs (Índice DEP) e outro com base nas estimativas de segregação mendeliana (Índice SM). As ponderações percentuais aplicadas sobre os valores padronizados das DEPs e estimativas de segregação mendeliana para cada característica foram as seguintes: GD (23), CD (4), PD (8), MD (8), GS (23), CS (4), PS (8), MS (8) e PE (14). As DECAs dos Índices DEP e SM foram utilizados conjuntamente para identificar produtos superiores geneticamente e com maior harmonia entre os componentes da DEP.
O número de produtos em cada uma das DECAs do Índice DEP e a distribuição destes produtos nas DECAs do Índice SM estão na Tabela 2. O Índice DEP corresponde ao Índice Final, usado rotineiramente na seleção de animais Nelore no programa de melhoramento genético da Conexão Delta G. Neste programa de melhoramento, após descartar parte dos produtos inferiores na desmama e parte no sobreano, somente os 20% melhores de cada safra (DECAs 1 e 2 para Índice Final), sem defeitos funcionais, aprovados no exame clínico e sanitário (incluindo exame andrológico), estão qualificados para receber o CEIP – Certificado Especial de Identificação e Produção, autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.
Observações de técnicos e produtores sugerem que alguns produtos qualificados para receber o CEIP, por apresentarem desempenho próprio abaixo da média, têm pouca aceitação, mesmo sendo filhos de pais geneticamente superiores. Estes produtos provavelmente são aqueles que herdaram as piores amostras de genes de seus pais. O Índice SM foi calculado alternativamente para contribuir na identificação destes animais. Conforme os resultados apresentados na Tabela 2, 19.853 produtos foram classificados como DECAs 1 e 2 (20% superiores) para Índice DEP.
Desconsiderando os filtros complementares ao Índice DEP (Índice Final), estes produtos estariam aptos para receber o CEIP. Com relação ao Índice SM, as DECAs dos 20% superiores para Índice DEP variaram de 1 a 10, com maiores proporções de animais nas DECAs 1 e 2. O número total de produtos abaixo da média (DECAs 6 a 10) com respeito ao Índice SM foi de 1.026. Portanto, 5,2% dos produtos DECAs 1 e 2 para Índice DEP foram classificados abaixo da média com relação ao desempenho próprio, determinado pela amostragem de genes herdados dos pais (segregação mendeliana).
Uma possível alternativa a ser considerada na seleção seria o produtor substituir os produtos que estão entre os 20% superiores para Índice DEP e abaixo da média para Índice SM por produtos DECA 3 para Índice DEP, não inferiores à média para Índice SM (DECAs 1 a 5), sendo estes mais harmônicos com relação aos componentes da DEP. Para avaliar o efeito desta substituição sobre a tendência genética, as médias anuais do Índice DEP foram calculadas considerando duas alternativas:
• incluindo todos os produtos entre os 20% superiores (DECAs 1 e 2) para Índice DEP;
• substituindo os produtos DECAs 1 e 2 para Índice DEP que estavam abaixo da média para Índice SM por produtos DECAs 3 com Índice SM não inferior à média.
Como era esperado, as médias anuais do Índice DEP obtidas na alternativa 1 foram superiores às médias obtidas na alternativa 2. Entretanto, a magnitude das diferenças entre as médias das duas alternativas foi pequena. No período analisado, as médias do Índice DEP nas alternativas 1 e 2 foram iguais a 8,82 e 8,57, respectivamente.
Estes resultados sugerem que a seleção dos produtos pelo Índice DEP levando em conta ou não o Índice SM resultaria em ganhos genéticos similares. Na segunda alternativa, entretanto, existe a possibilidade de identificar os produtos geneticamente superiores e discriminar estes animais quanto ao grau de harmonia dos componentes da DEP.
Tabela 2. Número de produtos nas DECAs do Índice DEP e Índice SM
1Equipe Gensys