Parece que sim. Embora longos períodos de seca severa possam ocorrer (e ocorrem) naturalmente, as últimas secas recentes dos Estados Unidos têm sido relacionadas com o aquecimento de ampla escala do planeta. Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando e as temperaturas continuarem aumentando, disseram os cientistas, podemos esperar secas mais sérias e persistentes nos próximos anos.
Mais da metade dos Estados Unidos continentais (48 estados contíguos da parte central da América do Norte, e o distrito de Colúmbia, sem incluir o Alasca nem o Havaí) está atualmente sofrendo a pior seca em 50 anos, com o calor e a falta de chuvas se propagando no meio do país. As colheitas estão definhando, os solos estão rachados e algumas florestas secas estão pegando fogo. A produção de milho dos Estados Unidos está particularmente caindo.
Então, esse é um vislumbre do futuro mais seco e mais quente do país? Parece que sim. Embora longos períodos de seca severa possam ocorrer (e ocorrem) naturalmente, as últimas secas recentes dos Estados Unidos têm sido relacionadas com o aquecimento de ampla escala do planeta. Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando e as temperaturas continuarem aumentando, disseram os cientistas, podemos esperar secas mais sérias e persistentes nos próximos anos. Aqui está o que se sabe sobre o futuro potencialmente seco dos Estados Unidos:
1) A atual seca não está nos níveis do “Dust Bowl” (fenômeno climático de tempestade de areia que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1930 e que durou quase dez anos), embora seja muito grande do ponto de vista histórico. O pior mês seco registrado na história dos Estados Unidos foi julho de 1934, o pico de seca do Dust Bowl, quando 79,9% do país estava em condições de seca (e 63% do país estava sofrendo com secas extremas). A seca do mês passado não chegou nem perto desse nível – e não tem persistido por anos como ocorreram com as secas de vários anos do Dust Bowl. Porém, ainda está no top 10 do último século, de acordo com análises do Weather Channel do Índice de Severidade de Seca:
Na realidade, a atual seca está também mais disseminada do que a onda de calor de 1936, quando mais de 5.000 americanos morreram e os produtores rurais sofreram amplas perdas nas colheitas. Então, porque a diferença no impacto? Alguns créditos vão para as práticas modernas de agricultura. Nos anos trinta, o excesso de pastagens levou à erosão e tempestades de poeiras que cobriram as planície e pioraram a seca. O controle moderno de erosão e as colheitas resistentes à seca têm evitado parte dos danos. Mas não todos…
2) As atuais secas podem estar prejudicando a produção de milho dos Estados Unidos, mas não estão ainda causando uma crise global de alimentos. Os Estados Unidos é o maior exportador de milho do mundo e um importante fornecedor de soja. Atualmente, a produção de milho e soja parecem estar definhando pelo calor – o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu sua estimativa de produção de milho em 12%. Se a produção cair, aumentaria o preço do milho, dos biocombustíveis e, por sua vez, da carne bovina (uma vez que o milho é usado para alimentar o gado).
Mais amplamente, entretanto, os analistas ainda não acham que estamos enfrentando uma situação como a de 2007 e 2008, quando os aumentos dos preços dos alimentos desencadearam tumultos em dúzias de países, do Haiti ao Egito. Isso porque os aumentos globais nas ofertas de trigo e arroz estão se mantendo bastante estáveis, pelo menos agora.
3) A mudança climática pode já estar tornando algumas secas nos Estados Unidos mais prováveis. Considerando que os Estados Unidos apresentaram secas ainda mais severas nos anos trinta e cinquenta, quando as emissões de carbono eram menores do que são hoje, pode-se pensar que as secas modernas nos Estados Unidos têm pouco a ver com o aquecimento global. E, de fato, dados sugerem que as secas na América do Norte fizeram parte de um ciclo natural no passado, frequentemente relacionadas com fortes eventos La Niña. Ainda, os cientistas estão agora tentando descobrir se as maiores temperaturas globais estão tornando as secas atuais mais comuns do que as condições naturais sugeririam.
Um estudo recente de pesquisadores do NOAA e do Met Office concluiu que o aquecimento global tornou a severa seca do ano passado no Texas 20 vezes mais provável. Ou seja, se não fosse a mudança climática direcionada por humanos, as condições climáticas no Texas teriam sido mais parecidas com as dos anos sessenta, quando as chuvas eram mais abundantes. Esse é um fragmento de evidência precoce de que os impactos do aquecimento global já estão sendo sentidos, apesar de ainda precisar ser feito mais trabalhos para determinar o que, precisamente, está direcionando a seca desse ano. (O estudo do NOAA admite que “a atribuição de eventos extremos isolados à mudança climática antropogênica ainda é desafiadora”).
4) O futuro aquecimento global poderia secar seriamente os Estados Unidos. Mantenha em mente que a atividade humana aqueceu o planeta cerca de 0,8ºC acima dos níveis pré-industriais. De acordo com a Agência Internacional de Energia, estamos nos encaminhando para aquecer o planeta em 6ºC até final do século. Isso seria uma grande diferença. Muitas evidências científicas sugerem que o aquecimento poderia aumentar dramaticamente a seca no mundo, incluindo a América do Norte.
Esse trabalho de revisão de 2011 por Aiguo Daí, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, sumariza muito do que se sabe sobre mudança climática e seca. Modelos de computador sugerem que na América do Norte, a chuva não vai embora. Porém, as temperaturas mais quentes e a maior evaporação deverão continuar secando os solos e tornando as secas persistentes mais prováveis nos próximos 20 a 50 anos. (Novamente, essas secas não são sem precedentes, mas deverão se tornar mais frequentes). Aqui está uma projeção sobre como o mundo seria no meio do século em um cenário de emissões “moderadas”:
Esse é um modelo de previsão do Palmer Drought Severity Index (PDSI) no mundo no meio do século. Observe os Estados Unidos, onde o PDSI está entre -4 e -8 nas Planícies. Como Joe Romm disse, o PDSI aumentou para -6 nas Planícies durante o Dust Bowl, mas raramente excedeu -3 no restante dos anos trinta. Em outras palavras, essa é uma precisão de condições de secas mais severas do que ocorreu durante o Dust Bowl.
5) Os produtores agrícolas podem tomar medidas para se adaptar, embora um mundo mais seco seja difícil de trabalhar. Considerando que a mudança climática pode já estar tornando a seca mais provável, os produtores rurais dos Estados Unidos provavelmente precisarão se adaptar não importa o que seja feito. Um trabalho de 2009 feito por John Antle da Montana State University, pesquisou isso. Até 2030, os produtores rurais na faixa de produção de milho dos Estados Unidos e no Sudoeste deverão ver perdas significantes, o que poderia ser parcialmente compensado por ganhos no norte. (Antle estimou que a seca geral na produção agrícola dos Estados Unidos seria modesta, entre 4% e 13%). Tenha em mente, entretanto, que as projeções de seca parecem estar crescendo mais severas nos últimos anos. Assim, os impactos econômicos podem ser maiores.
Melhores técnicas de produção agrícola podem amortizar alguns danos, da mesma forma que um controle de erosão teria evitado tempestades tipo Dust Bowl. O trabalho de Antle sugere que o Governo dos Estados Unidos pode precisar mudar algumas políticas – por exemplo, subsídios para milho e soja podem evitar adaptação fechando nos atuais padrões de produção. Ao mesmo tempo, Tom Philpott argumenta que a produção orgânica pode precisar ter um papel maior no futuro. Embora a prática normalmente produza menos rendimentos do que a produção industrial, um recente trabalho da Nature mostrou que os solos manejados com técnicas orgânicas tendem a manter mais água e ter melhor desempenho nas secas. E as secas estão se mostrando cada vez mais difíceis de serem evitadas.
A reportagem do The Washington Post, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.