No artigo anterior abordei a necessidade de se aumentar a qualidade do produto brasileiro. Atualmente existem inúmeros programas que objetivam produzir grande volume de animais com padrão determinado, com qualidade garantida e segurança do produto final.
O produtor brasileiro vem buscando aumentar a produção de animais de qualidade. A produção padronizada e de alta qualidade é o primeiro passo para o acesso aos mercados mais exigentes, que melhor remuneram. O desafio seguinte é conseguir que essa melhor remuneração chegue ao produtor.
Atualmente existe um percentual de produtores que está buscando diferenciar sua produção, buscando produzir de acordo com as demandas de diferentes mercados, vislumbrando uma melhor remuneração. Muita gente já percebeu que a busca pela eficiência produtiva unicamente por si só não traz uma maior rentabilidade, uma vez que sempre que há ganhos de eficiência generalizada há uma tendência de diminuição do preço das comodities. Esses produtores procuram tornar sua produção adequada aos melhores mercados do mundo.
Exemplos muito claros são os programas de carne de qualidade das associações de Nelore e Angus, por exemplo. Há também outros pecuaristas envolvidos com a produção de carne em sistemas orgânicos ou em sistemas de produção com certificação EurepGAP. Todos esses produtores, por mais diferentes que sejam seus sistemas de produção ou a raça de seus animais, tem uma característica em comum: a busca por maior rentabilidade.
Para que o produtor consiga melhor remuneração pela qualidade de seus produtos é necessário que se consiga padrão (através de programas de qualidade), quantidade (através de associações e grupos de produtores).
Recentemente o BeefPoint conduziu uma pesquisa sobre como aumentar o poder de negociação do produtor. Recebemos depoimentos muito interessantes e bem embasados.
A solução encontrada pela maioria dos respondentes foi formar grupos de produtores para negociar. Afirmaram que o maior poder de barganha será alcançado pelo maior volume de bovinos ofertados, com padronização tanto na qualidade e quantidade de animais bem como na freqüência de fornecimento aos frigoríficos. Indicam ainda que a formação de associações de produtores com um cadastro de produtores e respectivos bois e vacas para abate, os quais serão negociados de forma única, é a única maneira de aumentar poder de negociação junto aos frigoríficos.
O resultado da pesquisa foi muito interessante, pois já está claro para muitos produtores que é necessário maior união. Atualmente algumas associações vêm se firmando no objetivo de reunir produtores de carne, com qualidade, padronização e freqüência. A ABNP (Associação Brasileira de Novilho Precoce) e ACNB (Associação de Criadores de Nelore do Brasil) são exemplos de associações que buscam reunir o produtor de gado de corte, o produtor de carne.
A ABNP tem um enfoque mais amplo e enfrenta dificuldades devido à ausência de recursos. Atualmente busca criar um banco de dados de produtores, para no futuro poder oferecer em conjunto uma grande quantidade de animais, com um mesmo padrão e com escala programada. Quanto maior o número de animais e maior a uniformidade desses animais inseridos no banco de dados e possivelmente negociados em conjunto, maior será o valor individual de cada animal. Associações como a ACNB (Nelore) e ABA (Angus) tem mais um ponto a favor que é a criação de marcas, controladas pelo produtor, através da associação.
Grupos ou associações de produtores que tiverem boa organização terão mais vantagens do que apenas maior poder de negociação. Serão capazes de modificar (em conjunto) mais rapidamente seu sistema de produção, visando adequação às exigências do mercado comprador.
A importância do mercado externo é cada dia maior. Há cada vez mais exigências dos compradores, dos consumidores. Atender essas exigências garantirá acesso a esses mercados. Não será mais uma exigência do governo de determinado país, mas sim dos consumidores desse mesmo país. Um nicho de mercado que só queira comprar carne de programas que certifiquem correto manejo ambiental e adequado manejo com os animais não comprará carne de programas não certificados, não será uma diferença de preço. A diferença será a possibilidade ou não de vender. Será como se tivéssemos somente carros brancos em mercados que só desejam carros prata, ou seja, não temos o produto procurado, logo não vamos vender.
O passo final é a criação e fortalecimento de marcas de carne, para assegurar a continuidade do sobre-preço que pode ser obtido com qualidade e quantidade. O grande desafio do produtor de hoje é descobrir como criar e gerenciar marcas do seu produto.
O Brasil se encontra em posição extremamente favorável no mercado mundial da carne. Tem todas as condições para produzir com elevada eficiência econômica e pode atender às demandas de mais exigentes mercados em sabor, maciez, segurança alimentar, bem-estar animal, manejo ambiental e responsabilidade social. Para isso é preciso (e urgente) se adequar a essas exigências. Não é fácil, muito menos impossível, mas é preciso avançar.
O produtor brasileiro que buscar os três pontos da rentabilidade, terá grande sucesso no futuro. É preciso ter padrão através de programas de qualidade assegurada, volume através de grupos e associações e controle do produto final através de marcas de carne.
0 Comments
Prezado Miguel,
Muito bom, pertinente e oportuno o seu Editorial.
Estou acabando de chegar de São Gabriel do Oeste, MS – onde fui prestigiar uma bem sucedida feira de animais Tabapuã, em uma região predominantemente agrícola (soja, milheto, sorgo, aveia, etc.)
Um dos assuntos abordados durante o evento, era extamente este: a perda de poder de barganha dos pecuaristas, e não apenas frente aos frigoríficos, também em relação à cadeia produtiva de uma forma geral, inclusive a de insumos pecuários.
Mudando um pouco de assunto: esta minha ida a São Gabriel do Oeste, MS – revigorou minha fé no Brasil. Exceto pelas péssimas estradas (governos que só arrecadam – mas não investem), parecia que se estava em outro país, e muito melhor: mais organizado, mais justo socialmente, e, sobretudo, mais viável. Até um assentamento do MST pareceu-me razoavelmente bem organizado e produtivo….
Parabéns pelo Editorial. Este é assunto da mais alta importância, e que eu – e tenho certeza, que os demais leitores do BeefPoint pensarão igual – gostaria que você desse continuidade.
Abraço,
Miguel parabéns pelo editorial.
Para que tenhamos condições para negociar, temos que investir na produção, para termos produtos competitivos e então exigirmos preço. Claro que existem riscos, mas em que momento na agropecuária não corremos riscos ? Tendo mercadoria de qualidade, exigida pelo mercado, devemos então negociar em blocos de produtores. O baixo poder de negociação, representado pela negociação isolada, me parece ser um problema crônico dos pecuaristas que não conseguem se alinhar.
O maior culpado pelos preços não atingidos talvez não seja o frigorífico.
Breno J P Barros
Grupo Braido