Por Lance Zimmerman, vice-presidente sênior e analista de proteínas animais da RaboResearch Food & Agribusiness.
Os ciclos pecuário passados fornecem um panorama das tendências que normalmente moldam o rebanho e a produção ao longo de anos e décadas. Embora os estoques de vacas de corte dos EUA estejam se estabilizando em 2024, a indústria pode enfrentar um período de transição mais longo, pois riscos sem precedentes abafam sinais de lucro que normalmente impulsionariam os esforços de reconstrução dos rebanhos.
O USDA relatou um rebanho de vacas de corte de 28,2 milhões de cabeças em 1º de janeiro, e o Rabobank prevê um rebanho relativamente estável nos próximos três anos, entre 27,9 e 28,3 milhões de cabeças. Os produtores de gado de cria permanecem cautelosos quanto às perspectivas de reabastecer pastagens, em contraste com o debate contínuo sobre os riscos de produção e preço que geram incertezas no segmento.
A última reconstrução de rebanhos começou em 2014, mas é importante lembrar dos marcos que a precederam. A porcentagem de novilhas abatidas atingiu seu pico em 2010, a taxa de abate de vacas de corte aumentou drasticamente em 2011, e o estoque de novilhas de reposição não registrou um aumento anual até 1º de janeiro de 2012.
Mais recentemente, o abate de novilhas atingiu o pico em 2023, e a taxa de descarte de vacas alcançou níveis máximos em várias décadas em 2022. Agora, o foco está na retenção de novilhas, e isso continua sendo um ponto crítico para essa fase de reconstrução.
Nos últimos 30 anos, a indústria de carne bovina dos EUA tem operado em um mercado de oferta decrescente e demanda crescente. Embora os preços absolutos e a volatilidade tenham aumentado significativamente durante esse período, as margens de lucro por cabeça não seguiram a mesma tendência de alta.
Os produtores de commodities geralmente operam com margens reduzidas e a concorrência dentro e entre os segmentos de produção de carne e gado manteve essas margens baixas, enquanto a volatilidade nos retornos aumentou. Isso explica por que os pecuaristas americanos estão expressando mais cautela durante essa fase de reconstrução.
O papel do consumidor de carne bovina em apoiar cada reconstrução do rebanho dos EUA foi discutido muitas vezes. A redução da oferta motiva o aumento dos preços nos pontos de venda de carne, permitindo que os produtores recebam uma maior porcentagem dos gastos com carne bovina. O preço médio de varejo da carne bovina nos EUA em julho chegou a novos máximos de US$ 17,97 por quilo. Mesmo com a demanda relativamente estável, o Rabobank espera que os preços anuais médios no varejo de carne bovina se aproximem de US$ 20,94 por quilo em torno de 2027.
Isso significa que o preço dos bezerros de 227 quilos poderia avançar para médias anuais perto de US$ 881,85 por 100 quilos já em 2026, e os preços das fêmeas de reposição seguirão o mercado de bezerros. É possível que novilhas prenhes cheguem a valer US$ 4.000 no futuro. A CattleFax estima os preços atuais em torno de US$ 2.800 por cabeça. Isso tem gerado uma pausa para um segmento dominado por operadores de meio período, que enfrentam riscos de produção e menos apetite para assumir mais compromissos.
O fenômeno climático El Niño não trouxe os benefícios climáticos necessários para recuperar as pastagens nas principais regiões produtoras de gado de cria em 2023 e início de 2024, e o retorno do fenômeno La Niña no final de 2024 lançará dúvidas sobre a disponibilidade de forragem.
Há uma década, as taxas de juros eram de 3% a 4%. Hoje, esses empréstimos têm uma taxa de 8% a 9%. Produtores mais velhos estão buscando sair do negócio, mas produtores mais jovens estão lutando para preencher o vazio.
Essas pressões provavelmente amplificarão a taxa de consolidação dentro do segmento de gado de cria e silenciarão as oportunidades para operações menores expandirem de forma lucrativa no futuro.
Fonte: Drovers, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.