Por Leandro F. Gofert1
A IATF é hoje uma realidade no cenário da pecuária brasileira. A sua utilização pode influir drasticamente sobre o desempenho reprodutivo do rebanho, melhorando a produtividade.
Com o grande volume de pesquisas, que levaram ao aprimoramento da técnica em condições brasileiras, os resultados de prenhez conseguidos com a utilização desses programas melhorou muito. Contudo, existem muitos técnicos de campo reticentes em utilizar essa ferramenta, devido a experiências anteriores com maus resultados.
Deve-se lembrar que a técnica de IATF não é milagrosa, nem capaz de emprenhar animais com problemas reprodutivos ou nutricionais. Dessa forma, busca-se nesse artigo relacionar as principais causas de insucesso na realização dos programas de IATF e como evitá-las:
Fatores ligados ao estado nutricional do rebanho
Somente animais que tenham escore corporal igual ou acima de 2,5 (numa escala de 1 a 5) estão em condições de entrarem num programa de IATF. Animais abaixo dessa condição não terão condições de manter a prenhez, (mesmo que o protocolo consiga fazer esse animal ovular e ocorrer a fertilização, a indisponibilidade de energia, levará a que esse embrião seja reabsorvido).
Vale a pena citar também que, apenas o escore corporal pode ser uma medida imprecisa, pois se nota que, mesmo em vacas com bom escore corporal, (3, por exemplo) mas que estejam perdendo peso rapidamente, o resultado do programa de IATF também tende a ser mais baixo, (o organismo da vaca se defende, de uma prenhez que consumiria muita energia e, talvez, comprometesse sua sobrevivência, numa época de futura privação).
Vale a pena, portanto, avaliar os lotes de animais em relação à sua condição corporal, mas também, avaliar como está o pasto em relação à disponibilidade de alimento aos animais.
Fatores ligados ao manejo de execução do programa IATF
Os passos dos protocolos de IATF são técnicas de controle farmacológico do ciclo estral, responsáveis, ao final, pela ovulação e possibilidade da inseminação com hora marcada. Dessa forma, conclui-se que, se cada uma das etapas do protocolo não for bem executada, compromete-se todo o resultado de prenhez do programa.
São erros comumente observados no campo:
1) Esquecimento da aplicação de um ou mais fármacos durante o programa.
2) Desrespeito aos horários de aplicação recomendados no protocolo.
3) Erros de dosagem dos hormônios indicados.
4) Erro na via de aplicação indicada.
5) Erros de manipulação dos hormônios (não manter refrigerados hormônios que o necessitam, deixar hormônios expostos ao sol ou calor excessivo).
6) Ausência de marcação confiável nos animais (corre-se o risco de aplicar 2 vezes os hormônios num animal e não realizar a aplicação em outros)
7) Falta de organização da fazenda (mistura de lotes, presença de vacas prenhes junto de vazias, presença de touros nos lotes a sincronizar, etc).
8) Erros na execução do desmame temporário dos bezerros (também chamado Shang), mantendo os bezerros próximos do piquete das vacas, falhando em promover o estímulo da função ovariana e do crescimento folicular.
9) Currais inadequados ou pessoal despreparado, o que provoca stress nos animais a serem trabalhados (resistência dos animais a passarem no tronco, demora excessiva para realizar os passos do programa, quedas e fraturas, etc).
10) Colocar-se número excessivo de animais para trabalhar de uma só vez
Fatores relacionados ao sêmen utilizado no programa
Deve-se dar uma atenção especial em relação à qualidade do sêmen utilizado nos programas de IATF, pois de nada adianta fazer uma vaca ovular, se a fertilização desse óvulo for comprometida por causa da utilização de sêmen inviável, ou de baixa fertilidade.
São problemas comuns de serem observados na prática de campo:
1) Armazenamento inadequado do sêmen (deixar o nitrogênio descer abaixo de 15 cm).
2) Ao manejar as racks, permitir que elas sejam expostas à temperatura ambiente e novamente mergulhadas no nitrogênio (stress térmico e perda de viabilidade).
3) Descongelamento inadequado, comprometendo a viabilidade dos espermatozóides.
4) Uso de sêmen congelado na fazenda, sem o devido controle sanitário, de qualidade e de fertilidade.
Vale a pena citar que existe variação de fertilidade entre os variados touros disponíveis nas centrais de inseminação, mesmo que as partidas estejam dentro dos padrões exigidos pelo Ministério da Agricultura.
Notamos que, alguns touros emprenham as vacas muito mais eficientemente (chamado efeito touro). Para evitar corrermos o risco de selecionar um touro menos eficiente, e termos diminuídas as taxas de prenhez conseguidas na IATF, devemos procurar essa informação, (quais touros apresentam resultados superiores de concepção), dos nossos fornecedores, e se não for possível obter essa informação, utilizar sêmen de, pelo menos, 3 touros no programa, assim diminui-se a chance de baixos resultados.
Fatores sanitários
São problemas sanitários comumente observados à campo e que influenciam nos resultados dos programas de IATF:
1) Incidência de doenças reprodutivas (brucelose, leptospirose, neosporose, IBR, BVD, etc).
2) Doenças sistêmicas ou parasitoses, levando a comprometimento físico e conseqüentemente reprodutivo.
3) Alta incidência de retenção de placenta, de partos distócicos, gerando alta incidência de metrites pós-parto.
Deve-se sempre monitorar o estado sanitário dos rebanhos a sincronizar, evitando maus resultados oriundos desses fatores.
Outros fatores importantes
Podem-se citar, ainda, como fatores fundamentais no sucesso do programa IATF:
1. A escolha da melhor opção de protocolo, de acordo com a categoria animal, idade pós-parto e condição ovariana dos animais, (alta incidência de anestro, por exemplo), que se está trabalhando.
2. Observar se na dieta dos animais trabalhados, não existe excesso de proteína ou de nitrogênio não protéico (podem causar níveis excessivos de amônia e uréia nas fêmeas em reprodução, gerando efeitos deletérios aos embriões).
3. Cuidado com consumo excessivo de caroço de algodão (experimentos demonstram que níveis elevados de ingestão de gossipol comprometem a fertilidade das fêmeas).
4. Evitar mudanças bruscas de dietas, vacinações, marcações, ou qualquer evento capaz de provocar stress nos animais durante a execução do protocolo e nos primeiros 35 dias de gestação.
5. Na IATF de novilhas é fundamental que apenas animais que já entraram na puberdade sejam colocados no programa. Erro muito comum é a colocação de lotes de novilhas baseados apenas nos critérios peso ou idade, julgando-se que esses animais já estariam púberes. É fundamental o exame ginecológico individual e colocar-se no programa apenas animais com presença de corpo lúteo no ovário, ou com histórico de cios já observados. Animais denominados pré-púberes, que já têm útero e ovários desenvolvidos, porém nunca ovularam, acabam não respondendo ao programa, porque ainda não são capazes de produzir LH endógeno suficiente para a ovulação, ao final do programa, (exceção se for utilizado indutores diretos como o LH ou o hCG).
Nota-se que dentro do universo de fatores capazes de influenciar os resultados num programa de IATF, a maioria deles está sob o controle de um veterinário meticuloso e experiente. Dessa forma, poderíamos encerrar este artigo dizendo que o auxílio desse profissional, que seja capacitado e com uma postura ética e realista em relação à técnica, realmente pode fazer a diferença nos resultados conseguidos.
___________________
1Leandro F. Gofert, Médico Veterinário, departamento técnico da Tecnopec
0 Comments
Leandro, recentemente fiz um trabalho em em 250 vacas/novilhas nelores e dessas 250, 50 eram novilhas e estavam com corpo luteo e usei o protocolo da tecnopec com BE no D8. 180 eram vacas 60 dias pos parto e usei o protocolo com BE no D9. O restante, 20, eram vacas em anestro e utilizei tambem o protocolo com BE no D9. Faz 1 semana que realizei esse trabalho, gostaria de saber se a escolha dos protocolos foi correta e se nao foi, qual vc me indica para essas categorias de animais. OBS: Usei ECG e nao folltropin.