O Brasil conta com o maior rebanho comercial de bovinos de corte do mundo, estimado em cerca de 180 milhões de cabeças, com uma produção de 7,8 milhões toneladas em equivalente carcaça. Em 2004 a, exportação de carne bovina poderá atingir a marca de 1,5 milhões de toneladas (20% do total produzido), consolidando o País como um dos principais exportadores de carne do mundo. Frente a isto, há a necessidade de melhorar os índices de produtividade, através da maximização do desempenho animal com uso de tecnologias viáveis economicamente.
Porém, a maior dificuldade para produção de carne em condições tropicais é a ocorrência da estacionalidade de produção das plantas forrageiras. Isto reflete em oscilações na produtividade e na qualidade das forrageiras durante o ano, sendo responsável por baixos índices zootécnicos.
A estacionalidade de produção de plantas forrageiras associada à menor qualidade das plantas no período, e conseqüentemente a ingestão inadequada de nutrientes, prejudica o desempenho dos animais, sendo estes abatidos com idade “avançada” (4-5 anos). Com isto, há a necessidade do uso de estratégias como a suplementação com concentrados energético-protéico e confinamento, eliminando as fases negativas do crescimento, reduzindo a idade de abate e diminuindo o custo fixo, e aumento no giro de capital.
O uso estratégico da suplementação no sistema de produção permite que o animal tenha um crescimento linear, sem interrupções nos períodos adversos, reduzindo a idade de abate, aumentando o giro no capital. A figura 1 apresenta duas situações onde é possível manter ganhos de 500 g/cab/dia e abater os animais com 28 meses de idade, ou então, confinar os animais com 355 kg de PV (20 meses) e abater com 24 meses. Ou seja, é possível reduzir a idade de abate em até 50 % da idade do sistema convencional.
Na tabela 1 é possível observar a comparação entre diferentes estratégias aplicadas aos animais no período de recria e terminação. A suplementação na primeira seca e confinamento na segunda apresentou menor tempo para o abate, enquanto animais exclusivamente a pasto gastaram aproximadamente 50 % a mais do tempo. A suplementação na primeira e segunda seca do animal também reduziu o tempo de abate, mostrando-se uma estratégia bastante atraente do ponto de vista econômica. Ambas as estratégias permitem incremento com relação aos animais exclusivamente a pasto em função da rapidez no giro do capital.
Tabela 1: Simulação da avaliação comparativa de diferentes estratégias de produção animal
*Custo ton de MS da forragem = 81 kg/ton; custo do suplemento = R$ 0,55/kg; diária de confinamento = R$ 2,6/animal/dia; valor do bezerro = R$ 380,00.
Fonte: Adaptado Feijó et al. (2001)
As vantagens do confinamento seriam basicamente a maior uniformidade das carcaças e redução no tempo de engorda, como um efeito direto, além da liberação das áreas de pastagens para outras categorias (vacas, desmama, fêmea de reposição), sendo este um efeito indireto da estratégia.
Ainda com relação à tabela 1, é possível notar que a suplementação apenas na primeira seca tem seu efeito praticamente perdido, sendo inviável. No caso de optar pela suplementação em apenas um período seco da vida do animal, deve ser feito na segunda seca.
Tabela 2: Comparação entre diferentes estratégias de terminação na lotação e produtividade por área (kg/ha)
Adaptado Burgui (2001).
O uso de técnicas para reduzir a idade de abate possibilita incremento não só na produção individual pelos maiores pesos de carcaça, mas também aumento na produtividade e lucratividade por unidade de área, devido ao aumento na capacidade de suporte da propriedade com maior produção por unidade de área (Tabela 2). Outros benefícios estariam ligados à qualidade da carcaça, por serem mais uniformes e com melhor acabamento, sem mencionar o aspecto da maciez pelo abate de animais mais jovens.
A terminação pode ser melhor explorada com relação a estratégias adotadas, quanto ao valor da aquisição do animal, tipo de animal e peso de abate. Na tabela 3 é apresentado resultado econômico do uso do semi-confinamento, e de confinamento com diferentes pesos de entrada dos animais. O semi-confinamento, de forma geral apresentou as menores lucratividade com relação ao confinamento, pois apesar do menor custo diário os animais permaneceram por muito mais tempo em engorda. Entretanto na simulação não foi considerado o capital mobilizado em estrutura e o operacional.
Tabela 3: Comparação entre confinamento e semi-confinamento, e diferentes pesos de entrada de animais em confinamento
@ = R$ 60,00
1Adaptado Souza (2002)
2Simulação utilizando o programa RLM.
Ao comparar apenas o confinamento, com diferentes pesos de entrada, e conseqüentemente diferentes valores de compra (boi magro x garrote), o abate de animais que entraram com 295 kg, e abatidos com 16,8 arrobas (450 kg PV), apresentaram maior retorno na simulação. Este fato se deve principalmente pelo menor investimento feito na compra dos animais, devendo levar-se em conta que estes animais são mais eficientes na conversão do alimento em carne, e conseqüentemente menor custo diário e menor custo por arroba ganha no confinamento. No entanto ao aumentar o peso de abate destes animais de 16,8 para 18 arrobas, a estratégia tornou-se menos viável que o uso de animais mais pesados, pois o custo a mais no tempo de confinamento “inviabilizou” a estratégia.
A pecuária de corte vem sendo desafiada a produzir carne bovina de boa qualidade e a baixo preço, com redução na idade de abate de modo a aumentar a eficiência bio-econômica do sistema. A intensificação dos sistemas de produção de carne vem se tornando quase que uma necessidade para que o setor seja tão competitivo e lucrativo como a já intensificada agricultura.
Literatura Consultada:
Feijó, G. L. D.; Euclides Filho, K.; Euclides, V. P. B.; Figueiredo, G. R. Avaliação das carcaças de novilhos F1 Angus-Nelore em pastagens de Bracharia decumbens submetidas a diferentes regimes alimentares. Rev. Bras. Zootecnia, v. 30, n. 3. P. 1015-1020(suplemento 1). 2001.
Burgui, R. Confinamento estratégico. In. A Produção animal na visão dos Brasileiros. Anais. Reunião Anual da Sociedade Brasileira d Zootecnia, 2001. p.276-283.
Souza, A. A. Uso de subprodutos da agroindústria para suplementação de novilhos em terminação durante o período da secas. ESALQ-USP Dissertação (Mestrado), Piracicaba, SP. 2002
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Dr. Marcelo
Gostaria de saber em que se trata o semi-confinamento.
Caro Marcelo,
Gostaria de realizar alguns comentários a respeito de seu artigo.
Citado artigo, apresenta informações bastante interessantes quanto a diferentes sistemas de produção animal; mas quando você cita fatores econômicos, na realidade, isto não é bem da forma que se foi pautado em seu trabalho. Acredito que as bases de informações que você aqui oferece são dados financeiros e não econômicos.
Te digo isto por que não é preciso ser Doutor para se ver que a realidade da produção pecuária brasileira, assim como outros setores produtivos, são baseados somente em fatores financeiros.
Seria muito importante em artigos como estes, mostrar ao produtor que outros fatores como retorno de capital, custo oportunidade, valores operacionais, políticas econômicas, impostos e demanda de mercado, apresentam pontos fortes para a tomada de decisão frente a escolha de um sistema de produção.
Da forma que você demonstra em seu artigo, parece que estes sistemas são realmente lucrativos. Mas o próprio produtor sabe que isto não é assim.
Peco-lhe desculpas caso esteja sendo radical com meus comentários, mas é que conforme você mesmo cita em seu artigo, que a pecuária de corte vem sendo desafiada, é preciso melhorar a eficiência bio-econômica do setor, desta forma acredito que, para que isto se realize de uma forma concreta, é preciso que nós como técnicos e profissionais transmitamos ao produtor e até mesmo aos colegas de profissão, a verdadeira realidade do setor.
Não tenho certeza, mas acredito que nos conhecemos de algum lugar. No mais um grande abraço.
Alecsandro Rufino
PhD. Student
Mississippi State University
Animal Science Department
Agriculture Economics Department
Caro Colega,
Não sou economista para me aprofundar tanto no aspecto econômico. O artigo tem a função de realizar uma comparação na parte técnica entre os sistemas, e a econômica é apenas “grosseira”, caso contrário este artigo estaria publicado no radar de Gerenciamento.
Infelizmente a realidade da pecuária no país não é um mar de rosas. Mas é melhor do que pintam. E não estou tentando maquiar ou esconder nada! Os radares técnicos do site foram criados para que pessoas que não são do meio acadêmico (técnicos e produtores) possam ter acesso a informações e opiniões para se atualizarem, e que formem suas próprias opiniões.
Abraço,
Marcelo