Fechamento 12:09 – 06/03/02
6 de março de 2002
Produtor mineiro tem R$ 110 mi para melhorar bovinos
8 de março de 2002

Complicômetro

Fernando Penteado Cardoso1

Continuamos deslumbrados com a nova palavra mágica: rastreabilidade.

A matéria vem sendo habilmente manipulada pelos interesses comerciais que querem vender produtos (brincos, ferros de marcar, transponders estomacais, chips, etc etc.) ou serviços como cadastramentos informatizados, fiscalização e controles pro forma de toda a sorte.

Pouca gente analisa e se preocupa com a tremenda burocracia a ser cumprida, ou “facilitada” via gratificação. Quem conhece as reais exigências dos mercados importadores? Quem analisou o “máximo” que poderíamos aceitar para evitar que o sistema se torne elitista privilegiando os grandes rebanhos empresariais?

Como vai ficar o boi que troca de mão várias vezes ao longo de sua vida? Vamos acabar com o sistema tradicional de criadores, re-criadores e invernistas que envolve centenas de milhares (ou milhões), de pequenos pecuaristas? Isso é bom? Para quem? Será que é bom para os grandes e pequenos pecuaristas do cerrado, do pantanal, da Amazônia, das coxilhas ou dos rincões leiteiros de MG, SC e PR ?

Alem do mais, a “onda ” provocada pelos interesses comerciais implica na premissa de que nossos rebanhos estão infectados do mal da “vaca louca” e outros males, ou têm risco de virem a estar. Por isso é preciso rastrear ( desde o útero, ovário ou testículo?) o animal a abater.

Ao comprar uma rês será preciso consultar eletronicamente (e pagar) uma nova agência, a CENACBOV – Central Nacional de Controle Bovino, a exemplo do que ocorre com os cartões de crédito. Na falta de atendimento o animal será excluído do leilão ou do negócio e segue para morte natural em hospitais especializados como acontece na Índia! Não poderá vir a ser abatido porque os papéis, sejam os “dígitos”, não estão em ordem! Isso tudo em um contexto em que o número de couros comercializados é muito superior á estatística dos animais abatidos.

Se não fizermos tudo isso iríamos comprometer a saúde do consumidor europeu…e, – porque não? – igualmente a sanidade de nossos patrícios !

Nessa jogada toda quem vai “pagar a conta” será certamente o pecuarista não elitizado nas diversas fases de seu trabalho, nas incontáveis grandes e pequenas pastagens, desde o sertãozão do Brasil Central até os grotões da Mantiqueira e as bacias leiteiras pelo país afora. Terão de arcar com as novas taxas que certamente virão para custear o próximo “enxame” de burocratas ocupados em “registrar” “cadastrar”, “autorizar”, “inspecionar”, “emitir guias de recolhimento” e “certificar” a saúde dos bovinos, inclusive do nosso inigualável “boi branco do verde.”

Os certificadores virão garantir que o animal não tem miolo esponjoso, sabendo de antemão que é produzido, em ambiente natural de sol e chuva o ano todo, lavado por mais de 1000 mm de precipitação e higienizado por mais de 1000 horas de radiações UV, ao menor custo em todo o mundo!

No dia em que passar o pânico da “vaca louca” e sobrar vitelo e vaca de leite velha na Europa, virão dizer que não trabalhamos direito e assim… Ficam suspensas as importações do Brasil. Estamos aceitando a futura vigência de nova barreira aduaneira não fiscal… e nos arriscando a um “recall” (retirada do mercado) da carne vermelha “made in Brazil” (produzida no Brasil).

Parece até que tem gente que não se conforma com o sucesso das exportações de 2001!
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1Engenheiro Agrônomo – AGROLIDA

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