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11 de março de 2009
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13 de março de 2009

Compradores forçam novos recuos e indicador recua 2,07% em mais uma semana de baixa

O mercado do boi gordo segue bastante pressionado e apesar dos negócios caminharem em ritmo lento e a oferta ser considerada reduzida - levando em conta que estamos no período de safra - o sentimento dos agentes que atuam nesse mercado é bastante pessimista. Em parte podemos creditar o fortalecimento da pressão baixista à notícia de recuperação judicial e paralisação das plantas do Independência, que diminuiu a concorrência pelo boi gordo em regiões importantes e aumentou o sentimento de desconfiança na saúde financeira dos frigoríficos brasileiros.

O mercado do boi gordo segue bastante pressionado e apesar dos negócios caminharem em ritmo lento e a oferta ser considerada reduzida – levando em conta que estamos no período de safra – o sentimento de agentes consultados pelo BeefPoint é bastante pessimista.

O indicador registra mais uma semana de baixa, com o valor divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP (Cepea) para negócios à vista registrando recuo de 2,09% na semana e fechando a R$ 77,15/@ nesta quarta-feira. O indicador a prazo foi cotado a R$ 78,17/@, com desvalorização de 2,07% no mesmo período.

Em parte podemos creditar o fortalecimento da pressão baixista à notícia de recuperação judicial e paralisação das plantas do Independência, que diminuiu a concorrência pelo boi gordo em regiões importantes, como MS e MT e aumentou o sentimento de desconfiança na saúde financeira dos frigoríficos brasileiros. Desde o dia 26/02, quando foi anunciada a paralisação dos abates pelo grupo, o indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo já apresentou recuo de 3,74%.

Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio

O mercado segue bastante agitado, com frigoríficos forçando novos recuos, e pecuaristas evitando vender nos preços propostos, sem saber em quem e no que confiar e com muita incerteza sobre o futuro dos preços. Realmente, existe tanto ruído e, principalmente, tantos boatos, que fica difícil definir com precisão tendências para o curto prazo. Com toda essa agitação o mercado físico vai se desenrolando com poucos negócios sendo efetivados a cada dia, oferta enxuta e escalas curtas.

Muitos leitores tem me perguntado sobre essa oferta, questionando que quando a oferta é pequena o preço deve subir. Isso é verdade, mas temos que levar em conta que existe muita ociosidade nos frigoríficos que diante do cenário turbulento preferem não esticar muito as escalas e demonstram certo desinteresse pelas compras. Ou seja, a oferta é enxuta para o período de safra, onde normalmente temos um volume maior de animais prontos para o abate, por diversas razões (abates de matrizes em anos anteriores, aumento do parque industrial e consequente aumento dos abates, descontentamento com os preços ofertados, medo de calote, entre outros), mas está sendo suficiente para atender a demanda que segue menor do que em anos anteriores.

Só no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, 31 das 76 unidades credenciadas para a exportação estão com os abates suspensos. Em Goiás, dois dos maiores frigoríficos locais estão sob recuperação judicial, contribuindo para a redução na necessidade de animais para abate, isso sem contar na plantas que estão funcionando com ociosidade.

Apesar do sentimento de aumento na oferta em algumas regiões, após a redução na capacidade de abates com a paralisação das atividades em alguns frigoríficos, para Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), ainda há falta de boi. As indústrias que estão operando estão com dificuldades de firmar escalas de abate por mais de sete dias, e a queda no preço da arroba do boi é mais reflexo do pânico que tomou conta do mercado com a saída do frigorífico Independência.

Na terça-feira (10/03), o broker da TradeWire Brazil, Rodrigo Brolo comentava que o mercado está curto de ofertas a R$ 72,00 no MS, porém a situação de crédito dos frigoríficos é tão crítica que é muito difícil que tenham fôlego para pagar mais que isso. Brolo ressaltava, “não existe cenário de alta no físico até o final do primeiro semestre”.

Acesse a tabela completa com as cotações de todas as praças levantadas na seção cotações.

A BM&FBovespa teve uma semana de baixa com todos os vencimentos acumulando variações negativas. Março/09 fechou a R$ 75,40/@ nesta quarta-feira, registrando desvalorização de R$ 1,10 na semana. Os contratos que vencem em maio/09, considerado o pico da safra, recuaram R$ 1,61 no período, fechando a R$ 71,99/@ no último pregão. Outubro/09 vale R$ 77,87/@, com variação de -R$ 1,38. Vale lembrar que no momento o volume de negócios realizados na bolsa é bastante reduzido.

Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&FBovespa e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 04/03/09 e 11/03/09

Agentes que atuam no mercado de reposição comentam que esse mercado segue bastante lento, e os negócios estão difíceis para serem efetivados. Quem quer vender firma o pé e diz que não vai baixar o preço, baseado no argumento de que a oferta de animais de reposição também é curta e na esperança de conseguir preços melhores na venda dos lotes de bezerros. Do outro lado o comprador segue desestimulado olhando os preços do boi gordo e desanimado com a relação de troca.

O indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista foi cotado a R$ 632,76/cabeça, nesta quarta-feira, com valorização de 0,39% na semana. A relação de troca recuou para 1:2,01, no mesmo período do ano passado esta relação se encontrava em 1:2,44.

Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista x relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros)

Segundo o Boletim Intercarnes, o atacado da carne bovina terminou a quarta-feira com preços aparentemente estáveis, contudo não pode ser definido como firme. A demanda no varejo segue abaixo da regularidade considerando a época do mês e com ofertas mantendo-se regulares. Na carne desossada osberva-se uma procura mais regular com ofertas e preços mais estáveis.

O traseiro foi cotado a R$ 6,10, o dianteiro a R$ 3,90 e a ponta de agulha a R$ 3,60, assim o equivalente físico foi calculado em R$ 73,76/@, com desvalorização de 3,59% na semana. O spread (diferença) entre indicador e equivalente está em R$ 3,40/@.

Gráfico 4. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista x equivalente físico

O fechamento de plantas frigoríficas impõe perdas para toda a cadeia pecuária e coloca o setor nas mãos de um menor número de indústrias, reduizndo as opções de venda assim como a necessidade de animais para abate. “Precisamos encontrar uma saída, pois todos dependem da indústria para comercializar suas mercadorias”, diz o presidente da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), Mário Cândia. O pecuarista e atual vice-presidente da Acrimat, Jorge Pires, cometa, “queremos que todas as plantas paradas voltem a funcionar com saúde financeira para que possamos retomar as atividades normais. Pecuaristas e indústrias devem caminhar juntos”.

Tentando justificar os últimos recuos no preço da arroba, o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado (Sindifro), Luiz Antônio Freitas Martins, diz “na verdade, os preços ainda estão acima da realidade para os importadores e temos perdido muitas vendas por causa disto. Lá fora [mercado externo] a situação está mais difícil porque as empresas que compram nossa carne não têm onde buscar crédito e, com isso, somos afetados diretamente”.

Mauro Mendonça, pecuarista na região de Pontes e Lacerda, conta que reduziu suas vendas em mais de 80% nas últimas semanas. “Só estou vendendo o mínimo, para pagar as despesas”. “Não sabemos para quem vender, temos poucas opções”, completa Mendonça. Para 2009, o Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea) traça perspectivas conservadoras à pecuária. “A volatilidade dos preços deve continuar, com a cotação da arroba não ficando muito distante dos patamares de 2008”. O Imea prevê que o setor de carnes será pressionado pela crise e redução da demanda, e o abate total de animais deve continuar baixo.

O quadro que se vislumbra no momento é de que 2009 será de “desaceleração” da atividade pecuária como reflexo direto da crise que já chegou aos frigoríficos e começa a incomodar os produtores.

“O cenário é preocupante, pois sem os abates está havendo uma sobreoferta e o gado vai sobrar no pasto”, diz Luiz Carlos Meister, consultor da Famato. A entidade divulgou nota de alerta, na qual diz que a crise “afetou todos os segmentos, inclusive empresas que têm tradição de boa gestão”. A nota recomenda que os pecuaristas comercializem apenas “a quantidade estritamente necessária”.

Segundo Meister, grandes mercados diminuem rapidamente as importações do Brasil. Ele cita Oriente Médio, Venezuela e Rússia, afetados pela queda no valor do petróleo. A crise da indústria frigorífica, diz o consultor, “começou antes da crise internacional”. “Os frigoríficos começaram a sentir o primeiro baque em fevereiro de 2008, quando a União Europeia estabeleceu restrições à carne brasileira. Com a crise generalizada, vieram a redução na demanda e a falta de crédito para exportar.”

Para o vice-presidente da Federação da Agricultura de Goiás, Mozart Carvalho, a falta de uma administração profissional em frigoríficos do Estado contribuiu para a situação. Segundo ele, as empresas cresceram muito em pouco tempo. José Magno Pato, do sindicato da indústria da carne em Goiás, acha que não houve falta de planejamento. Diz que a crise “pegou todo mundo de surpresa” e que a situação deve melhorar até o meio do ano.

Comentando as causas da crise, Péricles Pessoa Salazar, presidente Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), enviou uma carta ao BeefPoint, onde enumera os fatores que estão gerando as dificuldades atuais, entre eles: descarte de matrizes no passado recente; migração da pecuária para produção de etanol; em sentido inverso do mercado pecuário a elevação da capacidade instalada nas indústrias; fechamento das torneiras no sistema financeiro, com a brusca interrupção dos ACC e financiamentos diversos; a estratégia equivocada de alguns dirigentes de frigoríficos, motivada pela ambição de crescer sem medir consequências de longo prazo; a desunião crônica entre os elos da cadeia produtiva; e, finalmente, o apetite voraz dos supermercados fazendo de conta que da crise nunca ouviram falar, mantendo margens incompatíveis em relação aos demais setores, inibindo o maior giro da mercadoria em suas prateleiras.

Salazar ressalta, “vejo como natural a apreensão dos pecuaristas, todavia, embora o quadro esteja realmente difícil, nem todos estão na UTI. Muitos se encontram longe disto e ainda com muita força e disposição. Aqueles que prudentemente souberam se proteger, ainda quando os ventos sopravam a favor, se encontram em melhor situação e merecem o crédito geral”.

Esta semana, o leitor do BeefPoint Thomas C. S. Kim também nos enviou um comentário sobre o cenário atual. “A gente vê que está havendo um ajuste no segmento. No momento, há muita insegurança e preocupação, porém confio que o cenário vai mudar em breve, pois o Brasil é um país de grande potencial agropecuário e o mundo não vai deixar de comer, principalmente proteínas de animais. Há muitos empresários sérios no segmento, tanto produtores como industriais. Mesmo aqueles que estão em dificuldades, acredito que alguns conseguirão encontrar saídas logo e estes se fortalecerão baseado na experiência obtida nesses tempos difíceis”.

Foram muitas contribuições dos leitores nos últimos dias discutindo a situação em que se encontram os frigoríficos brasileiros, agradecemos a todos que colaboraram com este debate e incentivamos uma discussão permanente, pois acreditamos que ela é essencial para o crescimento da cadeia. Dentre as participações algumas chamaram a atenção, uma delas foi a carta do leitor João Luiz Mella, de Nova Andradina/MS, ele acredita que apesar do cenário nada animador devemos nos mexer e trabalhar para melhorar o setor.

“Parece que tudo de ruim que está sendo falado, escrito ou noticiado, é verdadeiro! O que nós temos que acreditar, é que existem outras verdades, e que podem ser benéficas à nossa saúde”, comenta Mella. Ele aponta algumas ações que acredita serem essenciais para enfrentar esse momento difícil: “não vendermos animais para abate que não seja à vista; neste momento de dificuldade comercial em que os frigoríficos estão exagerando na baixa do boi, temos que só vender o estritamente necessário, pois só assim vamos equilibrar a oferta e procura; em momentos de dificuldades é que devemos procurar saídas inteligentes para nossos problemas, uma delas pode ser o agrupamento, por afinidades, qualquer afinidade que forme um grupo, onde todos fiquem mais fortes, para negociar com a indústria; acredito, também, que devemos produzir, aquilo que o consumidor está querendo, e para isto, devemos estar em sintonia com a indústria; outra realidade é nossa falta de participação, tanto na política como em nossas associações e representações de classe”.

Na contramão das notícias pessimistas, o Conselho de Administração da JBS S.A. decidiu elevar a proposta de distribuição de dividendos para o ano fiscal de 2008 de R$ 51,1 milhões para R$ 102,3 milhões, seis vezes a mais que em 2007, em função do bom desempenho da Companhia no período representado por uma combinação de fatores. Repercutindo este anuncio, na terça-feira, os papéis ordinários do frigorífico JBS-Friboi (JBSS3) subiram 7,56%.

No mesmo sentido e em resposta ao comunicado da agência de risco Standard & Poor´s que confirmou o rating “B” para o Minerva sob condição de CreditWatch negativo, a Minerva S.A. também se pronunciou essa semana garantindo que “sua estrutura de capital forte e estratégias de gestão e de mercado estão garantindo uma confortável posição para a companhia, mesmo diante da recente instabilidade enfrentada por empresas do setor”.

Boas notícias vieram do Mato Grosso do Sul, que recebeu essa semana uma missão da OIE, a secretária de produção e turismo de MS, Tereza Cristina da Costa, disse “eles gostaram muito do que viram”, comentando sobre a impressão dos técnicos sobre o rebanho bovino do Estado. Tereza confirmou o otimismo do superintendente federal de agricultura em MS, Orlando Baez. Segundo a secretária, os técnicos ficaram surpresos com a reação do Estado.

O Mapa atualizou as projeções do agronegócio e segue otimista, o agronegócio brasileiro tem grande potencial de crescimento para os próximos dez anos, puxado pelo complexo soja, milho, trigo, etanol, leite e carnes. Segundo o coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Garcia Gasques, o aumento da demanda interna e a carência de áreas agricultáveis em outros países vão impulsionar o setor.

Gasques afirma que os baixos estoques mundiais de alimentos, a crescente urbanização e o aumento da classe média mundial, criam condições favoráveis para que países como o Brasil ocupem espaço. Os dados constam da atualização das projeções para o agronegócio até 2018/2019 elaborado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Mapa.

De acordo com o estudo, a produção das carnes (bovina, suína e de aves) terá acréscimo de 51% em relação a 2008, ou 12,6 milhões de toneladas. Em dez anos, as exportações brasileiras de carne bovina representarão 61% do mercado mundial. A carne de aves abastecerá 90% do comércio mundial e a suína, 21%. “Os resultados indicam que o País manterá a liderança no mercado internacional de carnes”, avalia o coordenador.

0 Comments

  1. FABRICIO PEREIRA DOS SANTOS disse:

    Muito me adimira técnicos renomados e experientes instruirem os pecuaristas segurem a venda dos seus animais já terminados, a curto prazo pode ajudar, pois o mercado pode reagir, porém o que muitos estão desconsiderando é que o período das chuvas está terminando, e que o excesso de gado sobre as pastagens, principalmente nesta hora, comprometerá todo o ciclo de produção, pois com a entrada do período seco, teremos um derramamento de gado acabado no mercado, o que só fará despencar ainda mais os valores pagos pela arroba. Isto sem mencionar o caos nutricional dentro da propriedade, pois teremos uma escasses de forragem para a seca. É indispensável que pensemos a médio e longo prazo!