A Conexão Delta G é uma associação de pecuaristas, sem fins lucrativos, sem atividade mercantil que coordena um programa de melhoramento genético nas fazendas associadas. Nesse artigo, Daniel Biluca, executivo da Conexão Delta G, relata a história da associação, os objetivos, as características dos associados e os desafios encontrados e superados.
História
A Conexão Delta G é uma associação de pecuaristas, sem fins lucrativos, sem atividade mercantil que coordena um programa de melhoramento genético nas fazendas associadas.
Tudo começa com uma conversa. E algum tempo atrás, de uma conversa de um rapaz chamado Luiz Alberto Fries e o proprietário de uma fazenda chamada Estância Pitangeiras surgiu a ideia de criar um programa de melhoramento genético.
A história da associação teve início em 1974 quando Prof. Joel Kemper e Prof. João Vieira de Macedo Neto e o próprio Fries elaboram um programa de melhoramento usando escores visuais.
Esse programa chamava-se Promebo – Programa de Melhoramento Genético de Bovinos de Corte – que foi difundido pela Associação Nacional dos Criadores (ANC). A partir de então, começaram a surgir fazendas interessadas no programa. Criada a oportunidade começaram a surgir as pessoas e uma das primeiras visitas feitas por Fries foi a Valter José na Estância Guatambu, dois grandes sonhadores que encamparam essa ideia.
Em 1984, começam a surgir discussões sobre os problemas técnicos encontrados na implantação do programa, como por exemplo, os animais atingiam o peso de abate, mas sem o acabamento necessário.
Para solucionar esse problema, surge então, o Grupo Delta G (Guatambu e amigos) que inicia uma nova avaliação, considerando os seguintes aspectos: peso, CPM (Conformação, Precocidade e Musculatura), modelos mistos (inter-rebanho), notas relativas e foco em características produtivas. A definição dessas características nada mais era do que criar um jeito comum de fazer pecuária.
Em 1987, o grupo Delta G, juntamente com outras fazendas que faziam melhoramento animal, adere ao Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP) como forma de buscar o seu reconhecimento.
Em 1988, um grupo de consultoria e melhoramento genético, o GenSys, assume a responsabilidade de liderar as avaliações genéticas do programa. Com Fries encabeçando essa ideia e um grupo de alunos sonhadores.
Em 1992, o grupo passa a buscar novas fronteiras, principalmente no Brasil central, e tem-se a entrada do primeiro rebanho de animais Nelore no grupo.
Em 1995, o CEIP foi normatizado pelo MAPA, e era necessário uma associação para a emissão desse certificado. Assim, o grupo Delta G se reuniu com a Conexão Braford DEP, formando a Conexão Delta G.
Essa foi é a data de nascimento da Conexão Delta G, como a gente conhece hoje. O grupo já tinha uma história, mas na realidade era meia dúzia de gente com um ideal, um sonho de fazer melhoramento genético.
A partir de 1998 começa a crescer o número de associados, e em 2001 a associação já possuía 12 associados representando a raça Nelore no Brasil Central. Devido às diferenças regionais no sistema de produção, o grupo se subdividiu em duas regiões de trabalho. A Conexão Norte, mais focada na raça Nelore, na administração profissional e grandes propriedades e a Conexão Sul, mais focada nas raças Hereford e Bradford, criadas no Rio Grande do Sul.
Nessa época, o grupo começou a trabalhar as vantagens do associativismo, principalmente às ligadas ao marketing e a venda em conjunto. Para isso eles organizaram leilões e dias de campo, como forma de divulgação.
Em 2004, com o novo código civil, a associação cria um novo estatuto e passa a profissionalizar os serviços da Associação, através da contratação de um técnico responsável por organizar as atividades. O estatuto também previa questões da organização institucional, indicando como deveria ser formada a diretoria e como deveriam ser feitas as eleições.
Hoje, a Conexão Delta G é formada por 37 membros, estando presente nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Tocantins, Bahia e Maranhão.
O rebanho total é de aproximadamente 400 mil cabeças, com 85 mil vacas avaliadas. Desse total, 70% é da raça Nelore e se encontra no Brasil Central.
Objetivos
Os objetivos do grupo evoluíram com o tempo. Inicialmente era apenas discutido o melhoramento genético e venda de reprodutores, depois passaram a agregar a identidade do grupo, as características regionais, as parcerias com a cadeia produtiva – frigoríficos e empresas de insumos – e crescimento e evolução institucional, buscando a longevidade. É preciso olhar sempre para frente.
O objetivo geral é gerar produtividade para o associado, ou seja, aumentar o lucro através do incremento da produtividade, alcançado através das ferramentas que a associação oferece. As atividades da associação são: o melhoramento genético e as negociações de compra e venda, feitos através dos programas de melhoramento animal, de gestão e qualidade e de parcerias com as empresas de insumos.
E os objetivos específicos são:
Explorar e otimizar o potencial genético dos animais.
Eficiência produtiva com animais adaptados buscando: fertilidade; precocidade sexual, de crescimento e de terminação; rendimento de carcaça e qualidade de carne.
Produzir reprodutores selecionados por características produtivas.
Gerar, utilizar e difundir tecnologias.
Integração e intercâmbio entre os associados, somando esforços e reduzindo os riscos da atividade.
Lutar pelo fortalecimento e articulação da cadeia produtiva de carne bovina, buscando parcerias e vantagens com os diferentes segmentos do setor.
Pra isso, existem regras que devem ser rigorosamente cumpridas pelos associados, de modo que aqueles que não estiverem comprometidos não irão fazer parte da associação. As exigências são: Estação de monta; Descartar vacas falhadas (opcional chance para as primíparas), Grupo de manejo; Jejum; Datas para entrega de dados; Somente 25,2% poderão ser touros (CEIP); Usar Touros Jovens (10% dos nascidos).
Associados
A conexão é aberta a todos que queiram participar, independente do tamanho do rebanho. Possuem associados com 300 vacas e com 30.000 vacas. Porém, exigem um mínimo de estrutura material, recursos humanos e técnicos.
A preocupação do grupo é de conseguir associados comprometidos, independente do número.
Cada associado recebe um manual, que explica passo-a-passo como ele deve agir, quais são as regras, com todos os detalhes e toda documentação oficial da conexão Delta G.
A Conexão Delta G acredita que é preciso fazer os procedimentos de forma correta, para atingir o objetivo dos associados, que é a produção de um bom bezerro por vaca/ano. Na verdade isso não é nada mais do que o desejo de todo pecuarista.
Para a Delta G, uma associação para que de certo, precisa do comprometimento de todos e de algo que liga os produtores, unindo para um mesmo objetivo. No caso deles, esse objetivo é o melhoramento genético, mas eles também tentam oferecer outros benefícios.
Comprar e vender juntos, conseguindo melhores preços, é uma vantagem, mas talvez seja pouco para garantir o sucesso de uma Associação. Tão importante quanto isso é a troca de informações entre os produtores associados e busca pelos mesmos objetivos.
Em exemplo disso, é o que a Conexão tem aprendido na negociação com os frigoríficos, que é muito difícil. Em 2001 foi a primeira negociação, conseguiram premiação de 15% sobre a carcaça, a última no ano passado foi de 2%. Para conseguir êxito nessa negociação, a Associação enxerga que mercado hoje quer informação. A questão de volume não é mais tão importante, e sim a qualidade do produto, questão de sustentabilidade, informação da onde vem o animal. Só o produtor pode dar essa informação e a Associação pode contar essa história é preciso buscar esse diferencial: animal com padrão, qualidade, informação, e gerando receita.
Desafios
O maior desafio é o financeiro. Depender de mensalidade não é fácil, e no inicio é mais difícil, pois os benefícios ainda não são tão claros. O orçamento da associação é sempre feito de modo que a entidade sobreviva considerando possíveis mudanças no cenário mundial.
A questão da democracia também é delicada, pois “não é fácil estar em uma associação em que cada um tem o seu voto. Fica difícil chegar a uma decisão e implementá-la, mas as discussões estão evoluindo a cada reunião, respeitando a opinião de todos.”
É preciso manter os objetivos mesmo com as inúmeras opiniões e idéias novas que surgem a cada reunião. Escutar e avaliar, mas manter o foco.
A associação também tem que trabalhar para apresentar o custo-benefício aos associados, que deve ser igual e atingir a todos, pequenos, médios e grandes.
Outro desafio é a continuidade, ou seja, trabalhar para a associação continuar existindo. Para isso, é preciso buscar interesses em comum entre os associados, um elo de ligação que mantenha os associados fortes e unidos.
A associação também tem que se preocupar em adequar a sua estrutura – física, pessoal e administrativa – à demanda de associados, para que todos sejam bem assessorados.
Conquistas
Esse ano serão 10 leilões de associados da Conexão Delta G, mostrando que o produto tem valorização e gera lucro ao produtor.
Além disso, a associação conquistou estabilidade financeira, continuidade, respeito e reconhecimento.
Em linhas gerais é possível concluir que Associativismo é Oportunidade, Genética é sinônimo de Produtividade. Tendo isso, Lucro é conseqüência.
Esse artigo é baseado na palestra Conexão Delta G: associativismo, genética e lucro, apresentada por Daniel Biluca, zootecnista e executivo da Conexão Delta G, no Workshop BeefPoint Associações de Pecuaristas, realizado pela AgriPoint em 21 maio 2010.
Compre o conjunto de DVDs com todas as palestras
O evento aconteceu em 21 de maio e foi um grande sucesso. Todas as palestras foram gravadas. Aproveite e encomende o box com os DVDs contendo o vídeo de todas as palestras, na íntegra. Clique aqui para saber mais.