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Confinamento: alto grão ou não? Eis a questão!

Dietas de pouco volumoso parecem ser a tônica da “modernidade” em confinamentos aqui no Brasil… Sim, porque nos EUA essa discussão é coisa do passado, já que para os yankes, produzir fibra de boa qualidade sempre foi muito caro e há algum tempo, decidiram que seria mais fácil transformar o ruminante num monogástrico (ao menos no fim da vida)!


É certo que temos um enorme potencial de produção de grãos e que podemos seguir o mesmo caminho com grande sucesso, já que nossos grãos são bastante competitivos.

Mas será que o degrau de competitividade não é ainda maior quando se compara capins tropicais com forragens temperadas?

Será que embalados pelos ensinamentos de universidades bem estruturadas, nossos técnicos que aprenderam outra língua, não estão exagerando na cópia de um modelo sem que se discuta mais sobre o as melhores opções para a nossa situação?

Nosso maior problema está na falta de competência para saber aproveitar o potencial de produção de biomassa e adequar um sistema que tenha desempenho animal semelhante.

O pecuarista deve tomar cuidado para não entrar num sistema engessado demais na dependência de grãos sob pena de perder a flexibilidade de seu negócio.

Além disso, um outro alerta importante é ter consciência do impacto ambiental da concentração exagerada de nutrientes, pois a tendência é que se tenha no mínimo, os mesmos problemas das granjas de suínos.

A questão não é ser contra ou a favor, mas decidir de forma consciente analisando a melhor opção para cada caso.

10 Comments

  1. Thiago Fernandes Bernardes disse:

    Prezado José,

    Oportunas as suas colocações, pois o Brasil continua no embalo do “copia e cola”.

    Em ciências humanas quando se copia um modelo, a chance dos resultados darem certos é grande, porém na biologia isso é diferente e você deixou bem claro isso.

    Comprar concentrado é bem mais fácil que produzir forragem conservada de alta qualidade (quando não se faz os cálculos econômicos, pratica comum no nosso País).

    O negócio chega empacotadinho na fazenda. Não precisa planejar, basta fazer um telefonema.

    Parabéns pelo artigo!

  2. Marco Aurélio Ferro de Melo disse:

    Concordo plenamente com a colocação do Eng. Agron. e acho que os técnicos deveriam preocupar com o alto lucro!

    Não adianta fazer dieta acreditando em um modismo e achar que essa é a única que dá resultado.

    Deve ser feito um balanceamento correto e eficaz para fazer a boiada ganhar bem, mas também fazer o pecuarista ganhar mais. É o simples custo X benefício!

    Marco Aurélio Ferro
    Médico Veterinário – Purina
    Goiás

    Resposta do autor

    Prezado Marco Aurélio,

    Não colocaria a coisa dessa forma tão enfática e se fui mal interpretado que me desculpem…

    Só penso que temos que conhecer e discutir mais sobre sistemas, suas virtudes e limitações.

    Num ano como 2005 com preços de grãos tão deprimidos, certamente teve êxito econômico quem utilizou ao máximo os concentrados, mas isso não significa que essa situação vá se repetir indefinidamente.

    Precisamos identificar e corrigir nossas reais deficiências e não abrir mão, em hipótese alguma, de uma observação mais ampla e principalmente do bom senso.

    Atenciosamente,

    José Ultímio Junqueira Jr
    Engenheiro Agrônomo
    Via Verde Consultoria

  3. Louis Pascal de Geer disse:

    Muito feliz e oportuno o questionamento feito pelo José Ultímio Junqueira Junior sobre o uso ou não de rações de alto grão em confinamentos.

    Temos que usar ao máximo os pontos fortes da nossa situação de clima, pasto e gado, os quais permitem uma vantagem substancial e sustentável sobre quase todo mundo.

    Um mínimo grau de sangue zebuíno e principalmente do Nelore aumenta e muito a eficiência de convertibilidade alimentar e elimina a necessidade de incluir muito grão quando tem uma silagem de boa qualidade (milho ou sorgo).

    Usando um sistema de alimentação mais barato e por um período curto, podemos produzir carne de primeira qualidade e muito mais barata de que o pessoal lá fora consegue.

    Gostei do artigo.

    Ótimo.

    Louis Pascal de Geer

  4. Daniel Furquim disse:

    Prezado Junqueira,

    Concordo com o seu artigo, só gostaria de fazer um comentário a respeito disto.

    Acredito que dietas de alto grão estão na moda, devido a outro fator extremamente prejudicial para a produção de carne de qualidade que é o aumento cada vez maior de animais inteiros no confinamento devido a um melhor desempenho dos mesmos no cocho.

    Os principais consultores desta área recomendam a não castração dos animais, e para os mesmos não serem rejeitados no frigorífico pela falta de gordura de cobertura se faz necessário o aumento da energia da dieta para que machos “inteiros” consigam pelo menos o mínimo exigido pelos frigoríficos.

    Se trabalharmos com machos castrados, poderemos reduzir o nível de energia da dieta, pois os mesmos depositam gordura com maior facilidade na carcaça, fator este que deve ser do seu conhecimento.

    Já basta o aumento significativo de animais inteiros no confinamento e sem gordura de acabamento!

    Assim, só conseguiremos exportar carne para o Oriente Médio, mercado este pouco exigente e com baixa remuneração se comparado a UE.

    Grande abraço

    Daniel Furquim

  5. José Francisco Rosa Guedes disse:

    Só pelo fato do artigo do Sr. Junqueira ter gerado essa enorme discussão, já é merecedor de todos os elogios.

    Acredito que a questão esteja no custo da arroba produzida e no valor a ser recebido por essa arroba!

    Dias de cocho;
    Qualidade na carcaça e premiação;

    Façamos as contas e adotemos o sistema mais adequado para cada caso!

    Lembrando que se levarmos em conta o custo do nutriente, alimentos volumosos não são tão baratos quanto possa parecer…

    Sr. Furquim: Será que não estamos engordando machos inteiros como um último suspiro de sobrevivência frente aos vergonhosos preços pagos pela carne no Brasil?

    José Francisco R. Guedes
    Zootecnista

  6. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Como um apaixonado no assunto não poderia de deixar de expressar minhas opiniões. As divergências nas opiniões são basicamente em função das distintas experiências dos envolvidos nesta discussão.

    Particularmente, sou a favor da utilização da dieta de alto grão pelos fatores que tentarei descrever e que os maiores confinamentos do mundo e também grandes confinamentos no Brasil já conseguiram perceber.

    Devemos avaliar ganhos diretos e indiretos na operação.

    Ganhos diretos – custo da @ produzida, rendimento de carcaça e premiação por qualidade de carcaça. A utilização de alto grão propicia um custo de @ produzido mais baixo, isto é, tem um custo por kg de dieta maior, mas tem um, desempenho maior, melhora o rendimento de carcaça e o acabamento de gordura, consequentemente aumentando a % de carcaças premiadas.

    Ganhos indiretos – diminuição de mão-de-obra, diminuição de maquinários, diminuição de implementos, diminuição de risco com a agricultura, elimina a necessidade de área para produção de volumosos, facilidade para ampliação do projeto.

    Estas conclusões são baseadas em experiências práticas para confinamentos de médio/grande porte.

    Algumas perguntas deveriam ser proibidas em confinamento, como:

    1- Qual o custo diário da engorda?

    O que interessa ter um custo baixo e um ganho baixo, pois quanto mais tempo o animal ficar no confinamento, maiores serão os custos fixos acumulados.

    Se trabalhar com 2 ciclos de engorda de 90 dias para ganhos de 1,3kg/dia e reduzo meu ciclo de engorda para 75 dias com ganhos de 1,6 kg/dia, eu consigo engordar 20% mais animais com as mesmas instalações e equipamentos.

    2- Qual o ganho de peso?

    O que pode significar esta informação isolada se não acompanhar a informação de conversão alimentar e consequentemente o custo da @ produzida.

    Em resumo, mesmo o volumoso sendo teoricamente barato, eu não recomendaria sua utilização em grande % na dieta, pois os custos ocultos e as perdas geradas pela agricultura, ensilagem, dias de chuva no corte, perdas de qualidade e principalmente perda de área da propriedade, sem contar que limita consideravelmente as possibilidades de ampliação.

  7. José Ultímio Junqueira Junior disse:

    Prezado Roberto Barcellos,

    É um enorme prazer poder trocar idéias em alto nível como o fez nas suas considerações.

    Na minha opinião, o dado mais significativo que você acrescentou foi a questão do tamanho do confinamento. Realmente o quesito operacional tem uma importância bastante significativa para grandes plantas, e utilização mais larga de volumosos complica sobremaneira essa atividade.

    Como no Brasil tem coisas que já nascem grandes, nestes casos o mais fácil é simplificar tudo e diminuir o volume. Como sempre lembro… Na vida o difícil é a dose!

    Ainda assim, acho que nossa real dificuldade é não sabermos aproveitar bem o potencial de produção de forragem.

    A questão não é ser “silageiro” como mencionou meu amigo Luciano, mas se não conseguimos nem fazer silagem de boa qualidade com nossas forragens tropicais, que são as maiores produtoras de energia por hectare que se conhece, que dirá manejar essa forragem como pasto onde o animal entra como um grande complicador! Será que “liberar” área de pasto nessa situação não é ainda pior?

    Acho que o alerta, se é que posso chamar dessa forma, é para o fato de muitos pecuaristas estarem entrando num funil tecnológico que não terá espaço para todos…

    Se um dos maiores problemas da pecuária, para boa parte do setor, já é a concentração de poder, tenho impressão de que só vai continuar sendo dono do próprio negócio quem primeiro souber produzir bem seus volumosos, pois só assim terá a chance de realmente escolher se utiliza ou não a dieta de alto grão.

    Atenciosamente,

    José Ultímio Junqueira Junior

  8. Daniel Furquim disse:

    Prezado Sr. José Guedes,

    É fato que nos dois últimos anos o agronegócio no Brasil vem enfrentando algumas dificuldades, em particular a pecuária.

    Todos estes problemas são frutos de alguns fatores em que a cadeia não possui ação direta.

    – Política econômica, dólar frouxo inviabiliza exportações e conseqüentemente o preço da @.

    – Excesso de oferta de matéria prima no mercado, a carne é comoddity, portanto o preço é diretamente influenciado pela lei da oferta e procura.

    – Surto de febre aftosa há dois meses atrás.

    – A carne brasileira como se sabe não agrega os melhores preços lá fora, sendo que nós conquistamos o mercado pelo volume e não pela qualidade.

    – Baixo consumo interno, o consumo esta estagnado em 36kg/hab/ano.

    O nosso principal cliente lá fora, a UE exige animais castrados, e hoje estamos mandando carne de “touros jovens” como se fossem de bois castrados. Mais uma vez nós brasileiros estamos dando aquele “jeitinho”. O pecuarista deve produzir o que o mercado quer.

    A respeito dos consultores desta área, eu absolutamente não tenho nada contra eles, aliás, muitos são conhecidos meus, inclusive o autor do artigo. Só que a forma e o incentivo à não castração parte deles, portanto, somos obrigados a engolir este tipo de mudança, mas não aceitá-la.

    E digo mais, o mais novo câncer da pecuária se chama boi inteiro.

    Meus sinceros agradecimentos.

    Daniel Furquim

  9. Fernando Vieira Tavares disse:

    Eu concordo. Pois nós podemos estar entrando em conflito, sabemos que os americanos adoram lançar moda em tudo. Só que nós temos aqui um potencial muito grande de explorar nossas gramíneas e forrageiras. Lá eles têm incentivo para tudo de seu governo. Já nós aqui a única coisa que recebemos de nossos governantes é um aviso de que a carga tributaria vai aumentar.

    Particularmente eu acho um passo arriscado, pois nós temos ótimos técnicos, só que muitos depois que vão complementar seus estudos fora do Brasil, voltam com uma mentalidade voltada para transformar nossos ruminantes em “monogástricos”.

    Aí eu te pergunto. Até quando o mercado externo vai aceitar isso? Até agora nossa carne é considerada livre de problemas.

  10. Roberto R.Barcellos disse:

    Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?

    Sabemos das vantagens de desempenho do boi inteiro e as vantagens da carne do boi castrado.

    Para justificar a engorda do boi castrado, o pecuarista deve receber 15% a mais na @ vendida.

    Exemplo:
    a) Boi inteiro
    b) Boi castrado

    Ganho de peso
    a) 1,45 kg/dia
    b) 1,30 kg/dia

    Em 30 dias de confinamento:
    a) 43,5 kg
    b) 39,0kg

    Rendimento de carcaça
    a) 53,5%
    b) 53,0%

    @ produzida no mês
    a) 1,5515@
    b) 1,3780@

    Valor R$/@ venda
    a) R$50,00
    b) R$52,00

    Valor apurado
    a) R$ 77,575
    b) R$ 71,656

    Mesmo remunerando o boi inteiro com a @ 4%mais baixo, ele apura um resultado um valor 8,26% maior, devido ao maior desempenho e melhor rendimento de carcaças.

    Portanto, concordo com o Daniel em relação a qualidade de carne que deveríamos produzir, mas também concordo com o José Guedes em relação ao resultado do boi inteiro.

    De quem é a culpa?

    Quem vai dar o primeiro passo, o frigorífico pagando mais ou o pecuarista abrindo mão do desempenho e castrando os animais.

    Estamos correndo em volta do rabo.

    Admiro o trabalho do Daniel e do José Guedes, pois ambos são meus amigos, só que estão em lugares opostos da cadeia produtiva.

    Abraço aos dois

    Roberto R. Barcellos