A arroba do boi gordo chegou ao fim de abril mais valorizada do que em março, fato registrado pela última vez apenas em 2001. O Indicador Esalq aponta arroba de R$ 58,70 à vista no dia 29 de abril, ante R$ 57,85 no fim de março. As exportações expressivas de carne bovina têm sido apontadas como principal fator de sustentação dos preços do boi no mercado brasileiro.
Vale lembrar que a seca em importantes regiões produtoras, que acabou com o pasto mais cedo do que o normal em áreas como São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, fez com que muitos pecuaristas optassem pelo confinamento ou semiconfinamento.
Segundo o consultor da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz, a própria troca da pecuária pela agricultura fez com que muitos escolhessem o confinamento como opção de engorda. Diante deste quadro, a FNP está estimando um volume de animais confinados de 2,34 milhões de cabeças, crescimento de 15% em relação ao número de 2003.
A FNP também estima um crescimento de 15% no semiconfinamento, que deve atingir 2,65 milhões de cabeças. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Novilho Precoce (ABNP), Constantino Ajimasto Júnior, o índice de confinamento em 2004 deve apresentar um crescimento de 20%. “A expectativa está baseada nos investimentos que os pecuaristas têm realizado em médios e grandes confinamentos”, disse.
Esses animais confinados antecipadamente devem chegar ao mercado em meados de agosto. O corretor da Hencorp Commcor, Elio Micheloni, acredita que, mesmo com a entrada desses animais, os preços não devem cair mais. “Mesmo com a maior venda que está ocorrendo agora que a arroba atingiu os R$ 60, os preços não estão pressionados”, conta.
Ajimasto também acredita que os preços estão sustentados principalmente por causa do aumento nas vendas externas. “O exportador precisa cumprir contratos e por isso precisa comprar animais para abate, independentemente do mercado”, revela.
Nem o enfraquecimento do atacado neste fim de mês afetou o preço da arroba. A arroba do boi gordo poderá ficar acima de R$ 70 na entressafra de 2004, entre os meses de outubro, novembro e dezembro, segundo estimativa da FNP Consultoria. O analista pecuário e um dos proprietários da FNP, Victor Nehmi acredita nas exportações. “Estamos exportando carne como nunca, o mercado externo é bastante comprador e o estoque de bois rastreados do Brasil ainda não é elevado o suficiente para atender a essa demanda sem influenciar os preços”, diz.
Além disso, segundo Nehmi, a alta do preço da carne bovina exportada foi bem maior do que a do boi. Nos últimos 12 meses, segundo dados do governo, o preço da tonelada de carne in natura exportada subiu de US$ 1.663,12 para US$ 2.217,42, alta de 33%. O preço da arroba do boi subiu 9% em dólar no mesmo período, segundo informações do Centro de Pesquisas em Economia Aplicada (Cepea/USP).
O fraco mercado interno poderia ser um fator de pressão baixista, mas Nehmi ressalta que este é um ano eleitoral. “O atual governo pretende continuar governando e por isso vai acabar criando formas de aumentar o poder de compra da população até as eleições de outubro”, acredita.
Vale a pena ressaltar, que em anos anteriores, o diferencial entre safra e entressafra teve variação em torno de 21% em 2000 e 2001. Em 2002, a seca nas regiões produtoras fez com que a variação chegasse a 45%.
Fonte: O Estado de S.Paulo/Suplemento Agrícola (por Eduardo Magossi, com colaboração de Jane Miklasevicius), adaptado por Equipe BeefPoint