Por Rafael da Costa Cervieri1
O tema escala de produção tem sido constantemente discutido e hoje faz parte do vocabulário de inúmeros produtores. Este conceito está arraigado na agricultura e na pecuária de leite há bastante tempo, porém é relativamente recente na pecuária de corte. Destinar mais animais para abate por ano é o principal requisito para o aumento da escala de produção, aumentando o desfrute da propriedade, propiciando ganhos em produtividade, maior receita e retorno sobre o investimento.
Neste sentido, a produção de carne em escala tem como importante aliada à terminação em confinamento e esta apresenta vantagens significativas:
– Redução da lotação das pastagens (o confinamento é uma ferramenta de manejo importante na época seca);
– Permite liberar áreas de pastagem para outras categorias da propriedade (vacas, recria de novilhas, reposição de bezerros, etc.), pois se retira uma era de novilhos ou bois do pasto;
– Pode reduzir em seis meses ou mais a idade ao abate, viabilizando a produção do novilho precoce, garantido maior giro de capital e maior número de animais destinados ao abate por ano;
– Possibilita bom acabamento de carcaça devido ao maior nível energético das dietas utilizadas;
– Melhor programação de abates;
– Mesmo com custos elevados de alimentação e custos operacionais, as vantagens citadas acima e a possibilidade de ganhos na valorização da @ de boi magro para boi gordo e do aumento do rendimento de carcaça tornam a engorda em confinamento atrativa;
A terminação de bovinos confinados representou, em 2004, cerca de 5% do total de animais abatidos, ou 1.900.000 animais. Neste cenário, o número de grandes confinamentos que produzem em escala ainda é reduzido, mas tende a crescer ano a ano.
Existe uma forte tendência de que as grandes indústrias frigoríficas terminem animais em confinamentos próprios, sendo que alguns projetos abrangem a engorda de 100.000 cabeças durante o ano todo. Por outro lado, cresce o número de confinamentos do tipo “Boitel”, no qual se oferece a estrutura e a alimentação para engorda de bovinos de terceiros, cobrando-se uma diária do pecuarista. Este tipo de operação, para apresentar maior viabilidade, exige a produção em grande escala, não sendo raro confinamentos com capacidade estática para mais de 5.000 animais.
Como principais vantagens da produção de bovinos confinados em grande escala podemos destacar:
– Diluição de custos fixos: o uso constante das instalações e o grande número de animais confinados por ciclo permitem otimização da estrutura física e da mão-de-obra, reduzindo o impacto destas sobre o custo final da @.
– Aquisição de insumos: a compra estratégica de grande quantidade de matérias-primas representa maior poder de negociação para o confinador, que acaba adquirindo insumos com menor preço, reduzindo custos com alimentação (o qual representa cerca de 80% dos custos de produção). Possivelmente esta seja a mais expressiva vantagem do confinamento em grande escala.
– Melhores preços na aquisição de animais de reposição e na comercialização do boi gordo;
Como limitações podemos resumir:
– Grande investimento inicial em infra-estrutura e equipamentos (para mistura e distribuição da ração);
– Logística: o fornecimento da ração e a compra e armazenagem de insumos requer planejamento e mão-de-obra treinada para execução e acompanhamento destas atividades;
– Produção e estocagem de alimentos volumosos: este talvez seja um dos maiores gargalos para as grandes operações de engorda. A necessidade de grandes áreas para a produção de volumosos, maquinários de elevado custo para corte e transporte, bem como sua estocagem e fornecimento para os animais, traz dificuldades para a logística da operação onerando custos operacionais.
Com relação a este último item, a utilização de dietas com maior proporção de alimentos concentrados pode trazer benefícios tanto no desempenho e acabamento de carcaça quanto na operacionalização do sistema (por exemplo: com dietas de maior densidade se otimiza maquinário e se ganha tempo no trato dos animais).
O confinamento deve ser encarado como uma importante ferramenta dentro do sistema de produção e que exerce grande impacto sobre a redução da idade ao abate e giro de capital, permitindo principalmente ganhos em escala de produção. Mesmo que por vezes o resultado econômico não seja atrativo, os ganhos indiretos (manejo da pastagem, acabamento, etc.) são bastante expressivos.
Programas de produção de carne com marca (tendência que cresce ano a ano) têm optado pela terminação de seus produtos em confinamento visando garantir qualidade, constância na entrega ao mercado e padrão. Ao optarmos por determinado manejo não devemos visualizar somente a idade e o peso de abate, mas atentar também para o grau de acabamento e conformação da carcaça, com o pensamento de produzir carne e não somente boi, buscando diferenciação e melhor remuneração na atividade.
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1Rafael da Costa Cervieri é Zootecnista, Dr. Nutrição e Produção Animal e Professor da Universidade São Marcos
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Parabéns, Dr. Rafael, pela clareza da abordagem do assunto “Confinamento”.
Poucos técnicos conseguem passar essa visão de forma clara, principalmente apontando os efeitos indiretos do sistema de confinamento que são difíceis de mensurar.
Paulo Marcelo
Caro Rafael,
O artigo sobre confinamento é muito oportuno, é importante que vocês técnicos assinalem os benefícios de procedimentos de especialização em acabamento, como é o caso do confinamento.
Nós produtores, especialmente criadores, nos deparamos constantemente com o que chamo: desperdício de potencial de conversão alimentar dos animais.
Não avaliamos corretamente a capacidade de suporte das pastagens, e o sobe e desce de ganho de peso dos animais.
Se fôssemos colocar na ponta do lápis os custos adicionais de produção relacionados a permanência desnecessária dos animais na fazenda, ficaríamos apavorados. As diferenças de custos ou de rentabilidade relacionadas a velocidade de giro do capital, não estão sendo corretamente avaliadas pela maioria dos criadores. Esses cálculos dependem de avaliações periódicas de ganho de peso dos animais, da identificação individual dos mesmos e de cálculos mais precisos de custo/benefício da complementação alimentar a pasto, feita dentro das fazendas.
Ainda ocorrem erros sérios de manejo animal, na formação dos lotes para acabamento, ocasionando perdas consideráveis, não só por deficiência alimentar, mas por falta de conhecimento sobre o comportamento animal.
Acho que a crise atual que enfrentamos na pecuária, especialmente aqui no estado de Mato Grosso, ocasionada pela baixa de preços da @, provocará em nós pecuaristas uma consciência da necessidade de rever todo o processo de produção; que se estende da análise de mercados à tecnificação da porteira para dentro; incluindo de nossa parte o estabelecimento de uma política de produção que observe a lei da oferta e da procura.
Diante desse fatos, talvez possamos chegar espontaneamente à conclusão que a mudança de foco no percentual de desfrute do rebanho para a produção de carne por cabeça, nos traga maior rentabilidade, e reduza o volume de animais em oferta.
Janete Zerwes
Coordenação em Tecnologia e Pecuária
Comissão das Produtoras Rurais – FAMATO – MT
Caro Rafael,
É importante constatar que o bom nível dos artigos do BeefPoint se mantém. Quero chamar atenção para o fato da prática do confinamento estar aumentando em fazendas de ciclo completo e de recria e terminação, principalmente em regiões onde a pressão agrícola foi grande entre 2000 e 2004.
Estes confinamentos são em pequena escala, entre 500 e 2.000 cabeças e atendem somente à necessidade do produtor. Vejo este movimento crescente e que em médio prazo pode mudar o perfil da nossa pecuária, bem como estabelecer um contra ponto de equilíbrio na cadeia frente à tendência dos frigoríficos investirem em grandes confinamentos.
Parabéns e um abraço,
Eduardo Corrêa Riedel
Vice Presidente da Famasul – MS