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Confinamento: ganho médio diário ou conversão alimentar?

Avaliando quais os melhores indicadores de um confinamento para avaliar a rentabilidade da atividade, pode-se afirmar que a eficiência biológica tem maior correlação com resultado econômico do que o ganho médio diário. Em palestra no 7o Encontro Confinamento em Ribeirão Preto-SP, organizado pela Coan Consultoria (07 e 08/mar de 2012), Rafael da Costa Cervieri, Zootecnista e especialista em nutrição de ruminantes apresentou um estudo mostrando que os indicadores mais utilizados no Braisl têm pouca relação com o resultado financeiro.

Cervieri comenta que é possível produzir mais usando menos, com maior eficiência,  se forem utilizados indicadores zootécnicos mais apropriados. Definido eficiência, ele refere-se à relação entre os resultados obtidos e os recursos empregados. Fator que melhorou no país: a atividade de confinar teve grande avanço técnico em 10 anos, entre formulação de dietas, manejo, estrutura física e equipamentos. Porém, em relação à coleta de dados, a gestão da informação, análise do custo de produção e a comercialização dos animais, os avanços foram menores.

Observando os preços dos principais insumos para a dieta do confinamento nos anos de 2010 e 2011 verifica-se alta nos valores, contribuindo para o aumento do custo de produção.

Gráfico 01. Alta dos preços dos insumos: variação relativa 2010 X 2011 – Confinamento em GO

Buscando otimizar o resultado do confinamento, além de controlar o custo de produção, é necessário acompanhar o período de terminação dos animais, analisando indicadores que estimem o resultado final de desempenho dos animais. Cervieri reforça a necessidade do acompanhamento: “Se você não pode mensurar, não pode avaliar. Se não pode avaliar, não pode manejar.”

Citando as principais métricas utilizadas, podem ser citadas:

  • Peso de entrada
  • Peso de saída
  • Dias de Cocho
  • GMD
  • Rendimento de carcaça (%)
  • Peso de Carcaça
  • Custo da matéria natural (MN)
  • Custo da matéria seca (MS)
  • Consumo de MN
  • Consumo de MS (CMS)
  • Conversão alimentar
  • Eficiência biológica
  • Arrobas produzidas
  • Custo Alimentar/@
  • Custo total/@
  • Eficiência alimentar
  • Ganho líq. carcaça
  • Custo da @ magra
  • Acabamento
  • CMS em relação à % PV (peso vivo)

Entre tantas variáveis, o nutricionista questiona por que a maioria dos confinadores têm como principal indicador, ou único, o ganho de peso. Realmente esse é o melhor indicador, ou sua utilização é adotada por facilidade de mensuração, costume e desconhecimento dos demais? Avaliando somente o ganho, como o consumo dos animais pode ser acompanhado?

De forma geral, o acompanhamento do ganho dos animais muitas vezes é considerado mais importante do que o acompanhamento do consumo, pois existe um paradigma de que as dietas de custo mínimo sempre são o melhor caminho para se atingir o maior lucro possível, explica Cervieri.

Para mostrar que há indicadores melhores que o ganho de peso, o consultor comenta que a eficiência do animal relaciona tanto o ganho de peso como o consumo. Por exemplo, a Conversão Alimentar avalia o CMS/kg de ganho, a Eficiência Alimentar avalia o peso ganho/kg CMS e a Conversão por Arroba avalia o CMS/@ produzida, também chamada de Eficiência Biológica (kg MS/@).

O interessante é que este indicador leva em consideração outras métricas importantes, como o consumo, ganho de peso e rendimento de carcaça. Também tem forte relação com o custo de produção e com ganho em carcaça no período de confinamento.

Relacionando as principais métricas com o custo alimentar da arroba, o custo do ganho tem impacto direto sobre a lucratividade do confinamento e existem muitos fatores que afetam este custo e a margem de lucro. Observando a particiação dos insumos no custo do confinamento temos que o boi magro representa 68% dos custos de produção. Desconsiderando o boi magro, o custo alimentar tem o segundo maior custo, equivalente a 78%.

Gráfico 02. Participação dos insumos nos custos de produção, incluindo boi magro

Gráfico 03. Participação dos insumos nos custos de produção, excluindo o boi magro

Em estudo sobre o custo alimentar em confinamento com mais de 375 mil animais, constatou-se que o custo da ração, a eficiência biológica e o número de arrobas produzidas representam 99% da variação do custo alimentar da arroba.

Continuando a demonstrar que quanto maior a eficiência, melhor é o resultado financeiro, Cervieri cita uma pesquisa americana e depois aplica os mesmos conceitos com dados de confinamentos brasileiros. Na pesquisa americana, o autor (Owens, 2007) demonstra que a eficiência tem maior correlação com o custo do ganho do que o CMS ou o ganho de peso diário.

O CMS praticamente não tem relação com o custo do ganho (R2 = 0,0368), ou seja, a variação do CMS não influencia no custo.

Gráfico 04. Regressão entre custo do ganho x CMS

O ganho de peso diário tem maior correlação com o custo do ganho do que o CMS, porém ainda é considerada baixa (R2 = 0,5747).

Gráfico 05. Regressão entre custo do ganho x GMD

Já a eficiência alimentar demosntrou forte correlação com o custo do ganho (R2 = 0,9154), enfatizando que quanto maior a eficiência, menor será este custo.

Gráfico 06. Regressão entre custo do ganho x Eficiência Alimentar

Após analisar o estudo americano, Cervieri utilizou um banco de dados brasileiro (Nutribeef, 2011) com mais de 189 mil animais, de oito confinamentos diferentes em quatro estados (SP, MT, MS e GO) para verificar se a correlação entre eficiência e custo é válida para os confinamentos brasileiros.

Foram relacionados com o custo alimentar da arroba:

  • CMS
  • Dias de cocho
  • Rendimento de carcaça
  • Ganho de peso diário
  • Custo/kg MS
  • Eficiência biológica

Como o esperado, a variável que teve melhor correlação com custo alimentar foi a Eficiência Biológica (R2 = 0,647), ou seja, quanto melhor a eficiência, menor será o custo alimentar da arroba produzida no confinamento. Lembrando que quanto melhor é a eficiência, menor é seu valor: menos consumo para um ganho maior.

Nos gráficos abaixo estão demonstradas as correlações das variáveis analisadas com os dados brasileiros:

Gráfico 07. Regressão entre custo da @ alimentar x CMS

Gráfico 08. Regressão entre custo da @ alimentar x Dias de cocho

Gráfico 09. Regressão entre custo da @ alimentar x Rendimento de carcaça

Gráfico 10. Regressão entre custo da @ alimentar x GMD

Gráfico 11. Regressão entre custo da @ alimentar x CA

Gráfico 12. Regressão entre custo da @ alimentar x custo/kg MS

Gráfico 13. Regressão entre custo da @ alimentar x Eficiência Biológica

Avaliando a relação entre eficiência e o resultado econômico, outro estudo americano (Fox et al., 2001) simulou um aumento de 10% no ganho de peso e na eficiência e comparou com a lucratividade atingida em cada simulação. O resultado foi compatível com a pesquisa anterior, no qual a eficiência está melhor relacionada com o resultado financeiro do que o ganho de peso. A lucratividade alcançada com o aumento de 10% na eficiência foi 43% maior do que a lucratividade real. Já com o aumento do ganho, a lucratividade foi 18% maior.

Tabela 01. Efeito na lucratividade após aumento na taxa de de ganho e na eficiência alimentar

O mesmo acontece com a redução de custos. Aumentando-se 5% a eficiência, a quantia economizada (US$ 18,0/cab) é maior do que quando simula-se o aumento de 5% do ganho de peso (US$2,00/cab) (Okine et al., 2004).

Tabela 02. Simulação do efeito no custo e do valor economizado após aumento de 5% na eficiência alimentar (EFA) e no GMD comparado ao desempenho real

 

Simulando da mesma maneira com dados brasileiros, contando com mais de 53 mil animais (Nutribeef, 2011), também percebe-se que a conversão alimentar tem maior correlação com a redução de custos do que o ganho de peso diário. Simulando uma melhoria de 10% para a conversão e para o ganho, a redução de custos foi de 7% para a primeira e de 4% para o segundo.

Tabela 03. Efeito da melhora do ganho de peso e conversão alimentar sobre custo da arroba

Todas análises abordadas acima estavam relacionadas ao custo da dieta, por isso Cervieri relembra que considerando o custo do boi magro, 62% da variação na margem de lucro líquida são explicadas pela relação entre preço de compra da arroba magra e preço de venda da arroba gorda. E adicionando o custo alimentar, o custo operacional, as arrobas produzidas e a eficiência biológica, é possível explicar mais 26% da variação na margem líquida, completando assim 88% da variação na margem líquida (Vargas, 2011).

Finalizando, Cervieri conclui que em uma avaliação de custos nenhuma variável pode ser considerada isoladamente. Considerando o custo alimentar da arroba como o indicador econômico do confinamento, a métrica que mais poderia explicar variações neste custo é a eficiência biológica, e que quanto maior o valor da reposição, mais eficiente deve ser a operação de confinamento.

Veja os slides da apresentação completa:

Matéria escrita por Marcelo Whately, analista da Equipe BeefPoint.

 

3 Comments

  1. Jose F S Rocha disse:

    Rafael,parabens pelo estudo,as vezes nos rendemos a comodidade,sem procurar melhorar nossa eficiência.

  2. Koiti Komura disse:

    Parabéns Rafael pela análise feita. Como sempre o Sr. está a frente do seu tempo ditando os caminhos que a pecuária do futuro.

    Parabéns

  3. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Parabéns! Precisamos melhorar a gestão dos confinamentos. E para isto precisamos de maiores informações. Só com uma boa coleta de dados se pode avançar na gestão. Os administradores focam muito o ganho de peso, mas com um pouco mais de esforço gerencial, que proporcionalmente é barato, podem incrementar o lucro sem necessidade de grandes investimentos. Já existem bons softwares que podem auxiliar nesta tarefa. Nos especializamos nesta área e estamos confiantes no seu potencial de crescimento.