De olho em demandas ao redor do mundo por iniciativas que levem à redução das emissões de gás metano pelo gado bovino e por produtos naturais que melhorem o desempenho do animal, a Campanelli, uma das maiores empresas de confinamento de bois do país, vai iniciar um projeto de R$ 51,3 milhões destinado a pesquisas para a pecuária intensiva.
Do total, R$ 36 milhões virão da Finep, agência pública de fomento à ciência e à tecnologia. Com o financiamento, a Campanelli, localizada na cidade paulista de Altair, passa a ser a primeira empresa de engorda de gado a ter um projeto aprovado junto à Finep. O restante dos recursos a serem utilizados na pesquisa virá do caixa da própria empresa, embora a Campanelli conte com um limite de crédito com a Finep de, aproximadamente, R$ 200 milhões.
“Costumamos fazer cerca de três grandes pesquisas por ano. Esses recursos vão financiar essas análises e também vamos implantar um grande laboratório”, disse Victor Campanelli, CEO do confinamento, em entrevista ao Valor.
Por ora, as pesquisas para inovação da empresa são feitas no Campanelli Innovation Center (CIC), um laboratório de menor porte construído em 2019. Mas os alguns trabalhos têm de ser finalizados com o auxílio de análises externas. Com o novo laboratório, as pesquisas poderão ser realizadas de forma integral na unidade.
Os estudos feitos pela Campanelli estão geralmente relacionados ao bem-estar e conforto dos animais — especialmente estresse térmico —, a nutrição, saúde, automatização dos processos e outras tecnologias para melhorar a produtividade e garantir uma produção sustentável.
Segundo Victor Campanelli, a expectativa este ano é ampliar em 25% o volume de gado terminado no confinamento, alcançando a capacidade máxima de 150 mil cabeças. Isso deve permitir um crescimento expressivo da receita, que foi de R$ 700 milhões ano passado, para R$ 1 bilhão em 2025. Do total de animais confinados na Campanelli, 3,6 mil bovinos participam dos projetos de inovação da empresa.
Uma das pesquisas realizadas no confinamento avaliava estratégias de sombreamento para os animais, cujos resultados em termos de produtividade são considerados consistentes. “Essa inovação possibilita o aumento de 8 quilos por carcaça terminada no ciclo, além de redução de 3,43 litros de água por dia”, diz o CEO.
A estrutura do laboratório atual, ainda que pequena, possui uma estação meteorológica que permite medir a velocidade do vento, temperatura do ambiente e índice de radiação solar. Assim, é possível entender qual seria o melhor ambiente para o gado.
Agora, com os novos aportes, a Campanelli pretende realizar pesquisas sobre níveis de emissão de metano e produtos naturais melhoradores de performance. “A redução nas emissões de metano é um pilar que estamos seguindo porque existe uma demanda mundial por isso”, afirma o empresário. O metano é emitido por meio do “arroto do boi” e é um dos principais gases do efeito estufa.
No segmento de melhoradores de desempenho, o plano da Campanelli é estudar soluções com base em matérias-primas como leveduras e óleos essenciais. “A pecuária nacional está sendo muito bem feita, mas temos um espaço enorme para melhorar a base. Acho que tem uma janela enorme de oportunidade”, enfatiza.
Os experimentos desenvolvidos no confinamento já foram base para cerca de nove publicações e dois papers internacionais, segundo a empresa. Em geral, os projetos podem ser realizados em parceria com outras empresas e têm o apoio de universidades.
“Contamos sempre com uma equipe multidisciplinar, as parcerias com as universidades entram fortalecendo isso e, dessa forma, muitos dos trabalhos estão sendo publicados”, afirma.
No Brasil, a maior parte do gado é criado a pasto, mas a terminação intensiva está em franca ascensão. Em 2025, os pecuaristas devem enviar 8,53 milhões animais para confinamento, conforme dados preliminares do Censo de Confinamento da dsm-firmenich, divulgados em junho. Se confirmado, será um aumento de 7,1% em relação a 2024 e um novo recorde.
Campanelli é otimista sobre o setor e acredita que “se a última década foi a dos grãos, a próxima será o auge das proteínas animais”, pois a demanda por carnes é cada vez maior, sobretudo no mercado internacional devido ao déficit global.
Fonte: Globo Rural.