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Confinamentos brasileiros

Por Marcos Sampaio Baruselli1

“Reverter o quadro implantado pela seca por meio de tecnologias de produção economicamente sustentáveis é imprescindível para a continuidade da produção pecuária em todo o território brasileiro”, já afirmava a EMBRAPA – CNPGC / MS, em 1995.

Atualmente nota-se um aumento significativo do número de bovinos de corte confinados no Brasil ano após ano, sendo que a previsão para 2006 é de mais de 2 milhões de bois confinados em todo o território brasileiro.

As causas que tem levado a este aumento, principalmente nos estados de Goiás e São Paulo que juntos representam mais de 50 % do total de bois confinados no Brasil, são muitas e interligadas, mas com certeza estão diretamente relacionadas com o período da seca e com a baixa oferta de pastagem nesta época do ano.

O período da seca é responsável por sérios problemas produtivos e econômicos da pecuária de corte extensiva, entre os quais se destacam:
– Torna o ciclo produtivo mais longo e menos rentável;
– Longo período para a recria;
– Idade de abate retardada;

O aumento do número de confinamentos no Brasil também pode ser explicado pelas oportunidades e pelos benefícios que este sistema de produção animal intensivo pode proporcionar ao produtor.

Entre as razões que têm levado cada vez mais produtores a adotar o confinamento como sistema de engorda de bovinos de corte se destacam as seguintes:

– Redução do número de animais a pasto durante o período da seca, o que permite um aumento da taxa de lotação e da produção por área das fazendas;
– Redução do ciclo de produção do boi, com antecipação da idade de abate;
– Maior giro de capital;
– Melhor acabamento das carcaças dos animais com oportunidade de melhores remunerações;
– Uso de grãos e sub-produtos da agroindústria na formulação das rações.

O confinamento se tornou uma estratégia para a engorda de bovinos durante a seca também pelo fato da variação do valor da @ ao longo do ano. Tradicionalmente, o valor da @ bovina no segundo semestre do ano é maior. Este período coincide com o final do período da seca no Brasil Central quando a oferta de boi gordo nas pastagens é baixa. É nesta época que os bois confinados são abatidos.

Gráfico 1: Variação do valor da @ do boi gordo, de acordo com a época do ano durante o período de 1994 a 2003.


Fonte: Noticiário Tortuga, 2004.

De um modo geral, as principais características referentes às instalações dos confinamentos em todo o Brasil incluem:

– Instalações à “céu aberto” com área de cerca de 10 a 20 m2 por animal;
– Metragem de cocho entre 30 a 60 cm/animal;
– Lotes de 80 a 150 animais;
– Água de boa qualidade com disponibilidade de 60 litros/animal em bebedouros apropriados e limpos;
– Terreno bem drenado para evitar formação de atoleiros, com declividade de 5%.

Os bovinos confinados são, em sua maioria, animais anelorados em fase de acabamento, de idade média entre 2 a 3 anos, de porte médio a grande e com peso vivo de entrada no confinamento variando entre 350 a 400 kg.

Há uma tendência de se confinar animais mais pesados, o que diminui o tempo necessário de confinamento. Também há uma preferência por animais castrados por serem mais dóceis e por apresentarem melhor acabamento de gordura.

O ganho de peso médio gira em torno de 1,2 a 1,4 kg/animal/dia. Dependendo da dieta e do tipo de animal, o ganho pode ser ainda maior, reduzindo mais uma vez o tempo necessário de confinamento dos animais.

O período total de confinamento é de cerca de 80 a 100 dias, podendo ser menor. O peso de abate, é de cerca de 480 à 510 kg, o que proporciona um peso médio da carcaça de 17 a 18 @.

Balanceamento da ração

A dieta do boi confinado é feita a partir de alimentos volumosos, concentrados e aditivos como suplementos minerais, vitamínicos e promotores de crescimento. O balanceamento deve ser criterioso, e dentro da melhor relação custo/beneficio, motivos pelo qual o produtor deve consultar um profissional competente na hora de formular a dieta.

A respeito do uso de volumoso, os mais comumente utilizados em confinamentos são silagens de milho, silagens de sorgo e cana de açúcar in natura picada. O uso de volumoso é uma opção estritamente agronômica e dependente da aptidão da região, como topografia e clima, além do acesso tecnológico, do gerenciamento e da viabilidade operacional da fazenda.

Nota-se nestes últimos anos que os preços dos alimentos volumosos cresceram, sendo que o custo de produção de volumosos aumentou em 17% em 2005, comparado com o ano de 2004, conforme dados da Scot Consultoria, 2006.

Já os alimentos concentrados, particularmente neste ano, estão com os preços mais baixos, o que favorece uma redução de cerca de 15% do custo de produção da ração dos bois confinados, segundo o mesmo estudo da Scot.

Vale ressaltar que, do total do custo do boi confinado, a alimentação representa uma grande parcela, podendo chegar a mais de 80% do custo da diária do boi.

Tabela 1: Fontes de proteína vegetal disponível para uso nos confinamentos.


Fonte: adaptado da ASBRAM – Associação Brasileira das Industrias de Suplementos Minerais, 2003.

Os diversos aditivos utilizados no preparo da ração tem como objetivo aumentar o ganho de peso e a conversão alimentar, proporcionando maior retorno do capital investido. Os aditivos também têm a função de manter a saúde e o bom funcionamento do trato digestivo dos animais confinados, diminuindo a incidência das chamadas doenças nutricionais do confinamento, entre as quais se destacam a acidose que pode evoluir para um quadro de diarréias e laminites e o timpanismo.

Entre as normas de manejo necessárias para o bom desempenho dos animais confinados, destacam-se as seguintes:

1. Realizar um período de adaptação à nova alimentação, aumentando aos poucos a quantidade de concentrado durante os primeiros 7 dias;
2. Parcelar o trato 3 ou mais vezes ao dia em horários pré-estabelecidos;
3. Capacitar mão de obra por meio de treinamento dos tratadores e dos peões;
4. Realizar diariamente vistorias nos currais de confinamento para averiguação geral dos animais e das instalações;
5. Adotar “leitura de cocho” para evitar sobras e / ou excessos de alimentos nos cochos.
6. Manter um rigoroso controle na compras das matérias primas, no estoque e na previsão de chegada e de saída dos animais do confinamento.

Por fim, no processo de produção em um sistema de confinamento de bovinos, há os seguintes fatores determinantes para resultados positivos: custo de aquisição dos animais magros; custo de aquisição dos insumos para as rações; custos operacionais; taxa de conversão alimentar; taxa de ganho de peso e preço de venda dos animais terminados.

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1Marcos Sampaio Baruselli, Zootecnista da Tortuga, SP

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