Novas tecnologias de embalagem e processamento estão estendendo o prazo de validade de carnes frescas e processadas. Isso tem muitos benefícios: expandir a cobertura geográfica das vendas, melhores margens na cadeia de valor, menores custos ambientais do consumo de carne e possibilidade de tornar o produto premium. Entretanto, as indústrias de carne bovina e suína da Europa estão sob pressão estrutural do declínio do consumo de carne e do excesso de capacidade de produção. Embora a preferência dos consumidores por carne fresca ao invés de carne congelada tenha limitado as vendas para a maioria dos mercados regionais no passado, isso poderia estar mudando agora.
A inovação pela adoção de novas tecnologias junto com maiores exportações e integração da cadeia de fornecimento podem ser capazes de parar as reduções na capacidade. Por outro lado, um cenário de baixa pode aumentar as importações da Europa. A adoção precoce, portanto, é essencial.
Setores de carne bovina e suína da Europa precisam de novas saídas
Em mercados maduros de carne, como Europa ocidental, o crescimento da população está declinando e o crescimento do PIB per capita estagnou, pressionando os níveis de consumo de carne (Figura 1). A situação tem sido composta por uma mudança do consumo de carne bovina e suína para frango, peixe, alimentos convenientes com menos carnes e alternativas às carnes, como dietas vegetarianas, saudáveis e outras preferências dietéticas. O excesso de capacidade resultante, combinado com o aumento da pressão sobre os preços dos varejistas está colocando produtores e processadores em um cenário apertado (Figura 2).
Entretanto, descobrir novas saídas para a produção pode ser difícil à medida que, com exceção dos cortes de carne bovina de alta qualidade, a maioria dos mercados de carne de hoje ainda são regionalmente orientados devido ao fato de carne e os peixes serem perecíveis e à preferência dos consumidores por carne fresca em vez de congelada. Expandir o mercado alvo, seja seguindo as atuais tendências dos consumidores, melhorando o posicionamento de preços/qualidade (nos mercados existentes) ou ampliando a gama de exportações (para novos mercados) poderia ser a solução para os produtores de carne europeus. Para a carne suína fresca e a carne bovina não nobre, o alcance de exportação está atualmente limitado pelo prazo de validade de aproximadamente três a sete dias, dependendo do tipo de embalagem, de forma que novas embalagens de carne e tecnologias de processamento que estendam o prazo de validade poderiam ajudar esses segmentos a alcançar metas de expansão de mercados.
Novas tecnologias de embalagens e processamento estendem o prazo de validade
Novas tecnologias de embalagem e processamento que estendem o prazo de validade e têm importantes benefícios para os varejistas, consumidores e produtores estão cada vez mais sendo adotadas na produção de carne (Figura 3). Um prazo de validade maior beneficia os varejistas reduzindo os custos, pois haverá menos desperdícios e menos reduções de preços. Isso também beneficia o consumidor, à medida que os produtos têm um período maior de consumo, menos conservantes e uma melhor aparência. Os produtores se beneficiam de um maior potencial de mercado através de um maior alcance geográfico de exportação. Além disso, o perfil de sustentabilidade da produção de carne é melhorado por uma redução nas perdas resultantes dos desperdícios.
Extensão do prazo de validade melhora a sustentabilidade
A extensão do prazo de validade através de novas opções de embalagem não somente beneficia os produtores ampliando a cobertura geográfica de vendas, mas também, investir em um maior prazo de validade facilmente supera os custos, sejam ambientais (emissões de gases de efeito estufa) ou comerciais (dinheiro economizado). Entretanto, frequentemente os consumidores encaram a embalagem como prejudicial ao meio-ambiente, de forma que há uma necessidade de convencê-los, talvez através de uma campanha de informação, que os custos ambientais e comerciais do desperdício de alimentos, particularmente de carnes, são, de fato, bem maiores que os custos ambientais da embalagem.
Em 2013, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) descobriu que, globalmente, mais de um terço de todo o alimento produzido para consumo humano é perdido ou desperdiçado. Em comparação, a área necessária para produzir esses alimentos desperdiçados cobre uma região que é entre o tamanho da Rússia e do Canadá. No mundo em desenvolvimento, as maiores perdas ocorrem durante a produção e distribuição, devido à falta de infraestrutura e à cadeia de refrigeração, mas em regiões desenvolvidas, a maioria dos alimentos é desperdiçada nas casas dos consumidores. Resolver a questão dos desperdícios alimentícios é uma preocupação crescente da indústria de alimentos e agricultura. A União Europeia (UE) recentemente anunciou uma política para reduzir pela metade as perdas evitáveis de alimentos desperdiçados até 2025. A produção de carnes tem os maiores custos comerciais totais, bem como os maiores custos ambientais. As pegadas da produção de carne em termos de emissões de CO2 requeridas por tonelada é bem maior do que de outras categorias de alimentos primários, por causa da relativa ineficiência da produção de carne comparado com outros alimentos para consumo humano (Figura 4).
A embalagem está intimamente relacionada ao canal de varejo
O tipo de embalagem de carne usada varia bastante na Europa e está intimamente relacionada ao tipo de canal varejista (Figura 5). Embalagens a vácuo (EV), nas quais a atmosfera da embalagem é reduzida para entre 1% e 3%, estende o prazo de validade em várias semanas e normalmente são usadas para cortes nobres de carne bovina, que são menos sensíveis a deterioração. Em lojas tradicionais ou supermercados com açougue na loja – um fenômeno que está reduzindo –a carne é cortada no local e embrulhada em papel fino ou embalagens com ar. Entretanto, o fim desse serviço tem sido acompanhado pelo aumento das embalagens com atmosfera modificada (MAP, sigla em inglês), onde o oxigênio é removido da embalagem e substituído por uma mistura de CO2 – normalmente entre 30% e 100% – e nitrogênio. Dependendo da mistura do gás, o produto e a temperatura de armazenamento, isso pode adicionar até cinco dias ao prazo de validade.
A região madura do noroeste da Europa tem a maior participação de vendas de carne através de varejo moderno (ou seja, supermercados e hipermercados) (Figura 6). Nessa região, a carne é apresentada em embalagens “case-ready”: carnes já cortadas e pesadas e prontas para serem apresentadas pelo varejista. No leste e sul da Europa, o canal varejista tradicional de carnes de açougues, lojas especializadas e mercados ao ar livre ainda dominam. Entretanto, com o rápido crescimento de lojas que dão desconto, as embalagens case-ready deverão crescer rapidamente, oferecendo oportunidades para os produtores de carne investirem em novas tecnologias de embalagem.
No noroeste da Europa, a carne pré-cortada, pré-embalada (case-ready), embalada em EAM e EV já são a maioria das vendas. Entretanto, no leste e no sul da Europa, esses tipos mais modernos de embalagem que vão para o varejo moderno ainda têm um nível relativamente baixo (Figura 7).
Novas tecnologias: o que elas oferecem?
Recentemente, mais técnicas inovadoras foram adotadas no setor de carnes, particularmente no processamento e na embalagem (Figura 8). Essas técnicas incluem embalagem a vácuo estilo skin packaging (efeito segunda pele), variações das embalagens com atmosfera modificada, como CO-MAP, ou batch MAP e Processamento de Alta Pressão (Figura 9).
Figura 8: Novas tecnologias comparadas
Tecnologia | VSP | CO-MAP | HPP | Batch MAP/Bluwrap |
Melhor para | Carne bovina, de cordeiro e peixe frescos | Carnes vermelhas frescas | Carne processada, carne fresca para serviços de bufê, frutos do mar frescos | Frutos do mar frescos, outras carnes vermelhas (por ex., suína) |
Extensão do prazo de validade | Dois dias a mais que o MAP | Uma semana a mais que o MAP | Várias semanas extras | Várias semanas extras |
Via de trabalho | Pressurização de água para reduzir o teor de ar para <1% | <0,5% da atmosfera é substituída por monóxido de carbono | Alta pressão da água de até 600MPa | Célula de combustível reduz o oxigênio para <200 ppm |
Custos fixos de investimentos | Cerca de 200.000 euros | Nenhum sobre a máquina de MAP instalada; caso contrário, comparável ao custo do MAP – cerca de 100.000 euros | Substancial, começando em 0,5 a 1 milhão de euros | Taxa por quilo. Custos iniciais de licença <75.000 euros |
Custos variáveis | Até 50% de economia no material da embalagem | Comparável ao MAP | Tecnologia de embalagem por lotes, não totalmente automatizado, menor taxa de rendimento | Embalagem em lotes em escala industrial |
Custo por embalagem | Depende do volume, 0,07 euros por embalagem | Depende do volume, 0,12 euros por embalagem | 0,20 a 0,40 por quilo excluindo a embalagem (VSP é recomendado), dependendo do volume | Embalagem massiva para 1 tonelada de proteína animal |
Outros benefícios, além da extensão do prazo de validade | Menos espaço requerido para armazenamento comparado com o MAP | Descoloração da carne vermelha é adiada até a abertura | Pode também ser usada para reduzir ou evitar o uso de conservantes | Estoques para suavizar os preços e a variabilidade oferta/demanda |
Usado por (por exemplo) | Marks & Spencer, Tesco, Sainsbury’s (Reino Unido) | Grande parte das carnes vermelhas dos Estados Unidos, Noruega | Cargill (EUA), Zwanenberg (Holanda) | Uso piloto em distribuidores da Ásia, Europa e Estados Unidos. |
Fonte: Rabobank, 2014.
Uma melhora na embalagem a vácuo é a skin packaging a vácuo (VSP), adicionando até semanas ao prazo de validade. A CO-MAP é uma variação da MAP, onde parte da atmosfera é substituída por monóxido de carbono. Embora essa tecnologia seja permitida nos Estados Unidos desde 2004 e seja comumente usada em outros países, como Noruega, por exemplo, até agora não é permitida na UE. Enquanto o uso de monóxido de carbono tem sido testado como totalmente seguro pela UE, a preocupação é que à medida que o monóxido de carbono adia o descoloração da carne além da data de “consumir até”. O risco para os consumidores é de intoxicação alimentar, à medida que eles tendem confiar na aparência mais do que no prazo de validade escrito na embalagem.
O processamento de alta pressão (HPP) é a tecnologia de conservação que está ganhando força. O resultado em termos de conservação é comparável ao do cozimento, geralmente multiplicando o prazo de validade, mas sem a mesma mudança no sabor. Uma vez que a carne fresca perderá a cor, esse método é mais adequado para carnes processadas e cortes pré-cozidos, carnes para canais de hotéis e restaurantes e mariscos. Um bom exemplo é o uso do HPP em carnes processadas com um prazo de validade curto, como steak tartare, onde o uso de conservantes pode, dessa forma, ser eliminado, suprindo a demanda dos consumidores por alimentos “naturais”, sem aditivos ou conservantes.
Novos mercados em crescimento para carne bovina e suína
Embora exista uma oportunidade limitada para crescimento em mercados maduros no noroeste da Europa e na América do Norte, a maioria das outras regiões do mundo oferece espaço. A correlação próxima entre riqueza e consumo de carne, combinado com previsões de PIB e de população, implicam que tanto em uma base per capita como em populacional, o consumo de carnes na China e outros países asiáticos continuará crescendo. Na Europa, o crescimento é maior na região oriental, onde o PIB ainda está aumentando. Na China e no leste europeu, o consumo total de carne bovina está crescendo mais rápido que o de carne suína, à medida que o consumo de carne bovina ainda está em um nível relativamente baixo.
Potencial de exportação criado na Europa
O Rabobank estima que as tecnologias que estendem o prazo de validade, como VSP e CO-MAP (assim que essa for permitida pela UE) poderão estender as oportunidades para exportações de carnes frescas ao sul e ao leste da Europa, oferecendo aos processadores de carne e aos frigoríficos maior flexibilidade de vendas e melhora em sua posição de negociação com os compradores.
Requerido: investimentos em inovação e integração da cadeia de fornecimento
Com o clima ruim da indústria colocando os investimentos em segundo plano entre as companhias de carne da Europa, a onda de consolidação durante a última década viu a indústria alcançar um ponto onde os investimentos estratégicos estão sendo reconsiderados e poderão direcionar para duas opções principais que as companhias de carne no Noroeste da Europa precisam melhorar sua posição:
* Encurtar a cadeia de fornecimento até o varejista, ou ao consumidor online
* Descobrir o crescimento dentro dos mercados maiores através de inovação
Embora alcançar a segunda opção requererá que a primeira opção seja exercitada na maioria dos casos, o Rabobank acredita que o encurtamento da cadeia de fornecimento também pode ser uma estratégia bem sucedida por si só. Os processos de produção de carne após abate, como colocação de marca e embalagem de carnes frescas, processamento e embalagem de carne processada, ainda são em um grau considerável executados por outra parte da cadeia de valor. Embalagens case-ready são atualmente realizadas pelo varejista, companhias especializadas em embalagem ou processador de carne, mas para maximizar o valor agregado, o Rabobank acredita que o processador de carne deve visar fazer isso. A produção de carne processada frequentemente ainda tende a ser feita por companhias menores dentro de uma indústria fragmentada. Isso limita o alvo das vendas para varejistas e controle do produto final. Absorver esses passos finais – seja através de parcerias, acordo de longo prazo de abastecimento ou desenvolvimento de negócios e fusões/aquisições – com o varejista poderia criar ganhos em eficiência e agregar valor, além de impulsionar a competitividade da produção de carne da Europa e do setor de processamento.
Para a segunda opção, investir em novas tecnologias de embalagem e processamento podem ajudar a melhorar os mercados existentes com melhores marcas ao consumidor (isto é, melhores propriedades, maior prazo de validade) e menores custos, bem como trazer outros mercados crescentes dentro do alcance dos processadores europeus de carne. Onde vão parar esses investimentos também depende da estrutura dos canais locais de vendas. Em mercados maduros do noroeste da Europa, o Rabobank espera investimentos em VSP ocorrendo quando as máquinas forem substituídas ou quando as companhias também mudarem para HPP para seu potencial de exportação dados os benefícios de combinar VSP com um bom método de embalagem com HPP. Embora o maior raio de exportação, conforme descrito acima, é provavelmente mérito dos investimentos em novas embalagens e tecnologias de processamento, a situação é menos clara nos mercados existentes na Europa.
Mercados existentes: um incentivo à divisão de investimentos
Nos mercados existentes da Europa, mais tecnologias modernas de embalagem já foram foram aplicadas e a relação da cadeia de fornecimento entre processador de carne e varejista é fundamental para superar a divisão de incentivos oferecida por essas novas tecnologias. O varejista está posicionado para colher a maioria dos benefícios, enquanto o processador de carne tem mais chances de ficar com o investimento. O varejista poderia se beneficiar dos menores custos através de menos reduções de preços e incentivos. Por exemplo, no caso onde a carne premium foi embalada em Vaccum Skin, o desperdício total e as promoções de preços foram reduzidos em até três quartos. Ao reduzir a porcentagem de desperdícios de 3,7 a 0,9%, a margem operacional aumenta em mais de um quarto (Figura 12). O processador de carne compartilha da melhor qualidade e maiores possibilidades de exportação, mas também arca com a maioria dos custos (isto é, investimentos em nova maquinaria).
Uma taxa de investimento mais rápida requereria ou a implementação de uma relação de prazo mais longo de abastecimento entre varejista e produtor de carne ou uma ação pioneira com claro sucesso de mercado. Muitos varejistas agora fecham contratos de fornecimento em uma base semestral, por exemplo, mas esse horizonte é muito curto para dar suporte a investimentos em novas tecnologias. Dessa forma, em mercados varejistas maduros, esperamos que a transformação do consumidor em premium seja o principal direcionador do investimento, à medida que os varejistas pioneiros compartilhem os riscos com os fornecedores.
Novas tecnologias induzem integração da cadeia de carnes
Novas tecnologias de embalagem podem ter um impacto significativo no mercado de processamento de carne, especialmente em capacitar os processadores da Europa a olhar além de seus clientes atuais e posição na cadeia de fornecimento e obter lucro com novas oportunidades de investimentos e fluxos comerciais internacionais. O Rabobank acredita que os mercados existentes e os novos mercados de processadores de carnes da Europa podem colher os maiores benefícios de novas tecnologias de embalagem e processamento se fortalecerem sua cadeia de fornecimento em direção ao consumidor, absorvendo mais atividades de embalagem e marca. Isso poderia levar à consolidação da carne processada e embalada no setor de carne suína e bovina da Europa, melhorando sua posição na cadeia de fornecimento.
Fonte: Rabobank, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.