A agricultura brasileira não explora suficientemente iniciativas de marketing que poderiam aumentar o valor de mercado de sua produção. A avaliação é de Nivaldo Carlucci, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR). Segundo ele, o agronegócio deixa de agregar valor às suas exportações por causa da falta de investimento na área. “O Brasil produz bem, mas vende mal”, afirma.
Carlucci considera que o café é o setor no qual este cenário é mais flagrante. “Enquanto a Colômbia investiu US$ 20 milhões em marketing em 2001, o Brasil, maior produtor do mundo, não passou de US$ 3 milhões”, observa.
Para discutir estratégias de marketing rural em um cenário global cada vez mais competitivo, a ABMR estará promovendo em São Paulo, nos dias 11 e 12 de março, o VII Congresso Brasileiro de Marketing Rural. O evento discutirá a criação de marcas fortes para os produtos brasileiros, tanto nos setores de insumos quanto nos de produção agrícola e agroindústria.
No caso do café, uma das iniciativas mais estimulantes que ocorreram recentemente foi a da empressa italiana Illy. “Eles conseguiram criar uma mar ca mundial forte de café, investindo em classificação do produto e na criação de uma marca”, diz Carlucci.
Ele afirma que todos os tipos de commodities podem agregar um valor de mercado se forem seguidas estratégias de marketing adequadas. “Basta ver como existem marcas fortes em setores em que os produtos seriam aparentemente iguais, como é o caso do açúcar, água mineral e sal”, observou Hernani Vasconcelos, vice-presidente da ABMR.
Carne bovina
Mas é no setor de carnes e de horti-frutigranjeiros que o País tem oportunidades mais claras, para Carlucci. “Nesses produtos, a criação de nichos de acordo com o sabor é evidente, e a produção brasileira é de qualidade”, observa.
Hernani Vasconcellos afirma que o programa de rastreabilidade proposto pelo Ministério da Agricultura é um bom investimento de marketing. “Mostrar para o consumidor a procedência da carne com todos os detalhes certamente vai agregar valor”, explica . A ABMR já desenvolve, em conjunto com associações de produtores e com o Fundepec (Fundo de Defesa da Pecuária de Corte de São Paulo), o Serviço de Informações da Carne (SIC). O Serviço fornece informações ao consumidor sobre carne vermelha, esclarecendo dúvidas e dissipando temores.
Investimentos em marketing
Os investimentos em marketing rural vêm crescendo em valores absolutos nos últimos anos, segundo Carlucci. No entanto, isso não significa que as empresas que investem em marketing estejam priorizando mais a área. “As empresas têm gasto um percentual fixo de seu faturamento, mas o valor absoluto vem aumentando porque o PIB do agronegócio tem crescido sistematicamente.”
A ABMR só tem dados precisos para a parte do agronegócio conhecida como “antes da porteira” – insumos, máquinas, serviços, e outros. Em 2001, este setor faturou US$ 10 bilhões, e investiu em marketing US$ 228 milhões. O agronegócio também incluiu o setor “dentro da porteira”, que é a produção especificamente, e o setor “depois da porteira”, que abrange a agroindústria, o comércio e serviços relacionados.
O PIB do Agronegócio atingiu US$ 167,8 bilhões no ano 2000, representando 27% do PIB brasileiro, que foi de US$ 595,9 bilhões. Na balança comercial, o setor atinge relevância ainda maior. Em 2001, o setor teve superávit de US$ 19 bilhões. No mesmo ano, o Brasil teve superávit de apenas US$ 2,6 bilhões.
Fonte: O Estado de São Paulo (por Renato Stancato), adaptado por Equipe BeefPoint