O leque de oportunidades para exportações de carne bovina para o emergente mercado da China é como um banquete, mas tem seus desafios.
O palestrante do Brady Sidwell, falou durante o Conselho Australiano da Indústria de Carnes na semana passada, forneceu um insight sobre a provável evolução do comércio de carne bovina na China, à medida que o país continua caminhando para a urbanização e uma economia mais “madura”.
Sidwell é vice-presidente de desenvolvimento corporativo e estratégias do OSI Group, na região da Ásia-Pacífico. O OSI é um dos cinco frigoríficos globais que produzem hambúrgueres para o McDonald’s, além de ter uma série de outros grandes clientes no setor de foodservice.
Ex-analista global de agronegócios do Rabobank, agora morando em Hong Kong, Sidwell disse na palestra, que é preciso um entendimento maior dos aspectos culturais, de governo e econômicos da China, assim, os exportadores australianos saberiam “atacar” o mercado.
Uma das mudanças que estão sendo vistas é a desaceleração do ritmo frenético de crescimento na economia chinesa. “Para as últimas três décadas, vimos um crescimento de duplo dígito na China. Estimativas para esse ano são de 7 a 7,4%. O PIB está realmente desacelerando – mas você poderia descrever isso tanto como uma desaceleração, tanto como alcançando um estágio de maturidade. Está claro que o futuro da economia chinesa ainda é de crescimento, mas deverá ser um crescimento mais maduro. As mudanças na política governamental que vemos hoje é um reflexo dessa desaceleração. Em 1993, menos de 20% das 1,3 bilhões de pessoas da China tinham mais de 50 anos. Hoje, mais de um quarto tem 50 anos ou mais”.
Houve desenvolvimento muito importante para a carne bovina australiana, porque o consumidor chinês típico também mudou, devido à rápida expansão da classe média, mudanças nas dietas, maior consumo de carne bovina e preparo para pagar por itens de luxo, tudo isso foi direcionado pela urbanização.
A China também está mudando de outras formas. Há 20 anos, a China era classificada como a penúltima do mundo, depois da Indonésia, no “índice de corrupção”. Porém, a China fez muito progresso e a urbanização e a desaceleração do crescimento econômico levaram a uma reforma política, significando que agora o país está muito mais bem classificado na mesma escala.
“Os consumidores chineses também estão ficando mais ricos. A renda anual disponível era de US$ 698 per capita há 20 anos, mas hoje, é cinco vezes esse dado. Essas são boas notícias para o setor de alimentos”.
Os gastos dos consumidores com alimentos e bebidas cresceram de forma que são 10 vezes maiores do que eram há 20 anos. Os gastos com alimentos representam 40% da renda e uma parte crescente é de carne bovina. “A China também adora ostentação. A participação da China nas vendas da Louis Vuitton é agora de 50% do mercado global”.
“Sempre ouvimos dizer que os países asiáticos economizam mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Porém, isso está mudando rapidamente. Isso porque as pessoas que economizam sentem que têm menos certezas sobre seu futuro. Se você economiza menos (e gasta mais), é porque tem mais certezas sobre o futuro. Os americanos estão agora economizando mais, enquanto os chineses estão economizando menos”.
Sidwell disse que o uso da internet era um dos pontos principais para alcançar os consumidores emergentes da China. “A China hoje tem cerca de 720 milhões de usuários de internet: mais da metade do país está conectada – facilmente, a maior população do mundo. Por que isso é importante para a indústria de carne bovina australiana? As mídias sociais são ao mesmo tempo um risco e uma oportunidade. Educar os consumidores, especialmente sobre a indústria de carne bovina e como consumir a carne é uma oportunidade enorme. As mídias sociais são também uma excelente oportunidade para estender a educação crítica dos consumidores chineses sobre a carne bovina, como prepará-la e como consumi-la. A Austrália pode alavancar a percepção de que é uma fonte de carne bovina boa e confiável através das mídias sociais”.
Ele disse que, nesse ponto, a maioria dos consumidores chineses não tem ideia sobre as marcas de carne bovina, mas à medida que os supermercados se tornam mais comuns com o processo de urbanização, esse comércio direto aos clientes está crescendo e as marcas se tornariam cada vez mais importantes. Eles já conhecem as marcas domésticas e importadas de carne suína, mas não têm ideia sobre as marcas de carne bovina e ainda não associaram a Austrália com produtos de carne.
A China já é o maior produtor e consumidor mundial de carne suína, com mais da metade da produção mundial, e já está consumindo 10% da produção mundial de carne bovina. Com o tempo, o consumo de carne suína declinará, enquanto o consumo de carne bovina e de frango aumentará como uma porcentagem das vendas totais, disse Sidwell. O crescimento da carne bovina não seria no mesmo ritmo, entretanto, porque é um produto mais caro. A carne bovina é considerada mais magra e mais saudável do que a carne suína e de frango.
“À medida que os consumidores chineses ficam mais velhos, tornam-se mais urbanizados e mais bem educados via mídias sociais, e têm maiores rendas disponíveis, ficam mais preocupados com relação à uma dieta saudável. Essas são boas notícias para a indústria de carne bovina”.
Sidwell disse que os chineses urbanos comem quase três vezes mais carne bovina do que aqueles que vivem nas áreas rurais. “E olhando dentro das comunidades urbanas, comparando os 20% maiores com relação aos 20% menores em termos de rendas, a carne bovina é a proteína de maior consumo entre os consumidores chineses que ganham mais. Eles comem mais carnes em geral, mas especialmente carne bovina, é a proteína aspirada, a Louis Vuitton da categoria de carnes da China”.
Muito tem sido dito sobre o crescimento na classe média da China, mas, o quão grande é esse crescimento? “Os números estão oscilando, mas hoje, a classe média na China é cerca do tamanho da população dos Estados Unidos, aproximadamente 300 milhões. Até 2020, essa deverá mais que dobrar e, de fato, a cada ano, a China adiciona a população da Austrália à sua classe média, cerca de 27 milhões”.
Sidwell disse que grande parte da incongruência e falta de transparência vista na regulamentação é porque a China está passando pela transição de ser uma economia em desenvolvimento para uma desenvolvida.
O próprio primeiro ministro chinês está liderando esse esforço e também está encarregado do esforço de segurança alimentar da China. A urbanização está tendo um papel crítico na reforma das indústrias chinesas, incluindo a agricultura, e forçando que sejam determinados padrões.
Segurança alimentar, junto com tráfego e poluição, é algo que o governo chinês está agora levando “muito a sério”.
Enquanto a direção está clara, não está clara a execução. O país tem 12 planos de cinco anos chamados de “diretrizes”, executados de forma diferente em diferentes partes do país. Como parte das mudanças que o país fez, há uma nova administração de alimentos e drogas, de forma que a maneira como o alimento e o comércio é administrado está mudando. Existe um processo simplificado, substituindo nove órgãos anteriores, em teoria.
Embora tenha havido um crescimento impressionante na produção doméstica chinesa de proteínas animais, esse processo pode estar começando a atingir o clímax, pelo menos até a China modernizar e consolidar sua base agrícola. “Por um lado, o país tem sua população rural de 600 milhões de pessoas , duas vezes o tamanho dos Estados Unidos , enquanto por outro, tem um dos mais modernos países do mundo. Porém, a terra cultivável está rapidamente se convertendo em imóveis, dificultando para a China equilibrar as necessidades dos dois lados. A China administra isso através do comércio e controle de estoques. Porém, é importante para o comércio com a Austrália que a indústria de carne bovina da China se desenvolva. Eu argumentaria que as companhias de carne bovina com confinamentos e plantas de processamento na China não são seus concorrentes, mas seus potenciais parceiros”.
Fonte: Site australiano Beef Central, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.