Quanto custa produzir carne bovina no Brasil? Um consórcio de três fazendas de São Paulo foi a fundo e desenvolveu um projeto colocando tudo na ponta do lápis. Do ponto zero (inseminação das vacas) ao término do programa (abate dos animais), o projeto durou 31 meses.
No final, uma surpresa: o custo foi de apenas R$ 23,82 por arroba, bem abaixo do normalmente aceito pelo mercado, que gira de R$ 34 a R$ 40.
“Pode parecer conta de mentiroso, mas não é”, disse o economista Carlos Arthur Ortenblad, dono da Fazenda Água Milagrosa, uma das participantes do projeto. Os desafios que a pecuária terá pela frente são enormes e quem não se preparar vai ter surpresas desagradáveis, afirmou.
O projeto desse consórcio, denominado TAB 57, visou três coisas básicas: intensificação do uso do solo, redução de custos e ganho de peso por animal. Esse conjunto de fatores vai permitir ao pecuarista enfrentar a forte competição no setor.
Além da concorrência externa, os produtores devem enfrentar também a interna, com o avanço da produção de carne de frango e suína, acrescentou. Ortenblad disse que a redução de custos poderá trazer não só maior renda ao pecuaristas, mas também atender a um objetivo social: o de oferecer um produto de melhor qualidade a um preço menor.
Essa é exatamente a visão do governo. O secretário executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, José Amauri Dimarzio, disse que o governo quer um maior desenvolvimento do setor, com lucro e geração de renda, mas que esses fatores auxiliem na eliminação da fome.
Dimarzio afirmou que a produção mundial de carne deverá dobrar nos próximos 15 anos. Para continuar nesse mercado, o Brasil deverá se organizar e fazer uma rastreabilidade séria.
O secretário executivo do Mapa disse ainda que a qualidade não deve se restringir apenas à carne exportada, mas também à destinada ao mercado interno.
O avanço da qualidade da carne bovina deverá ser acompanhado também por uma nova classificação nos frigoríficos, dizem os pecuaristas. A carne de qualidade dever ser melhor remunerada, é preciso quebrar o círculo vicioso de que os frigoríficos não pagam preços melhores e, portanto, os pecuaristas não aumentam a produção desse tipo de carne.
Para o consultor de agronegócio da Austrália, Don Nicol, o Brasil ainda vai ser grande nesse setor, mas terá de avançar muito na preparação do produto e no conhecimento do mercado internacional. A Austrália, disse ele, produz o que o mercado quer.
Quem quiser sobreviver vai ter de usar tecnologia, destacou Luiz Eduardo Batalha, da Chalet Agropecuária. E um dos segredos para melhorar a produção e reduzir os custos é o cruzamento industrial. “Ele é irreversível”.
Avaliação
Tecnologia e cruzamento industrial fizeram parte do projeto TAB 57. Os animais utilizados foram de genética superior e, portanto, mais eficientes para ganhar peso. O abate ocorreu aos 19,5 meses, com peso médio de 17,6 arrobas.
O aproveitamento de carcaça foi de 56,1% e as carnes foram classificadas dentro do parâmetro da cota Hilton.
Durante todo o projeto, os animais foram tratados com capim e com sal mineralizado e a ocupação média foi de 2,28 UA por hectare, três vezes superior à média paulista.
As fazendas participantes do projeto foram Água Milagrosa, de Tabapuã, Córrego da Santa Cecília, de Uchôa, e Bethania, de Santa Fé do Sul, todas de São Paulo.
Fonte: Folha de S.Paulo/Agrofolha (por Mauro Zafalon), adaptado por Equipe BeefPoint
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