O conhecimento de grande parte das pessoas europeias sobre o que constitui carne bovina de qualidade é baixo, comparado com consumidores em mercados como Japão e Estados Unidos, de acordo com Jason Strong, que foi gerente do Meat and Livestock Australia (MLA) na Europa nos dois últimos anos. Strong deixou sua função de gerente regional recentemente para assumir a posição de gerente sênior da Australian Agricultural Co. (AACo).
Ainda pelo MLA na Europa, Jason palestrou para pecuaristas, passando suas opiniões sobre a qualidade da carne bovina vendida dentro do mercado da União Europeia (UE). “Um dos maiores desafios que a Austrália enfrenta é a conscientização dos clientes e a valorização da carne bovina de alta qualidade”, disse ele.
Embora a situação varie um pouco de país para país, na Bélgica, onde o escritório do MLA está localizado, o sistema doméstico de produção de carne bovina é focado em carne de touro Belgium Blue jovem, alimentado a pasto. “Considerando minha experiência no Meat Standard Austrália (MSA) e açougues de qualidade que vendem carne bovina de animais alimentados com grãos (confinados), tive um grande desafio em comprar um steak no varejo belga. Para ser honesto, eu demorei dois anos. Nós compramos todos os nossos steaks de um importador australiano”.
“Na Bélgica, você lida com carne de touro doméstico que é muito, muito magra, tem a cor clara e basicamente, não consigo comê-la. A forma de consumo da carne bovina é com algum tipo molho”.
“Quando você vai a um restaurante belga, não pode comprar um filé sem molho. A percepção do steak no varejo e no foodservice é que em grande parte provavelmente ele será duro e não terá muito sabor”.
“Tive uma conversa com um consumidor belga sobre a possibilidade de ter um pedaço de carne bovina macio e saboroso e o primeiro problema que surge é a crença: eles simplesmente não acreditam que isso pode acontecer”.
Porém, uma vez que começam a provar o produto australiano, o resultado não foi diferente do que encontramos com o MSA na Austrália, 15 ou 20 anos atrás, disse ele. “Tentamos vender aos consumidores europeus um produto de alta qualidade, considerando que eles estão acostumados a um produto de qualidade menor e de baixo desempenho. Isso representa um desafio em termos de conscientização dos consumidores sobre a carne bovina australiana”.
Outra questão é se vale a pena tentar construir essa conscientização entre os 500 milhões de cidadãos da UE, quando a Austrália somente tem 15 mil toneladas de produtos anualmente no mercado, que consome 8,5 milhões de toneladas por ano.
“Isso implica em desafios de logística e ênfase comercial. Muito do que fazemos na Europa é trabalhar com o comércio – com importadores específicos e distribuidores para garantir que eles conheçam e entendam o produto australiano, permitindo que a contrução de uma relação com os clientes finais. Não estamos buscando por um grande número de clientes na UE – estamos investindo em mercados mais sofisticados, de forma que possamos manter o valor do que estamos vendendo”.
Como parte da resposta, a agência do MLA na Europa fez diversas atividades com chefs e representantes de foodservice e varejo para esclarecê-los mais sobre a carne bovina importada da Austrália.
Eventos comerciais e degustação de produtos também foram fundamentais para o MLA. “Estamos apenas tentando encontrar distribuidores e importadores que tenham acesso aos clientes e consumidores sofisticados. Nós só precisamos de uma pequena porcentagem dos 500 milhões de consumidores da UE comprando nosso produto, mas precisam ser as pessoas certas, que pagarão um preço premium por isso”.
“Porém, ainda temos que superar os contrastes na aparência entre um contra-filé australiano de Angus alimentado com grão e um vindo de um touro jovem doméstico alimentado a pasto”. Ele disse que a forma de se fazer isso é através de degustações. “Todos os eventos comerciais em que a indústria australiana participou na Europa e na Rússia agora têm uma ‘cozinha/restaurante’ para exposição, demonstração e degustação de produtos”.
Strong disse que embora a Europa atualmente esteja com problemas econômicos, ainda existe prosperidade e riqueza consideráveis em muitas áreas. “Olhando para o mercado da UE no total, os 500 milhões de consumidores são responsáveis por 8,5 milhões de toneladas de carne bovina por ano”.
Historicamente, a Europa tem sido um mercado para a Austrália de animais criados a pasto, tipicamente de 8 mil toneladas por ano, limitado pelo acesso à cota.
Uma nova oportunidade surgiu em 2009 após decisão da Organização Mundial de Comércio (OMC) entre Estados Unidos e UE sobre a não importação de carne bovina americana produzida com hormônios. O resultado foi a criação de uma nova cota para carne bovina de animais confinados, não específica de países, de 20 mil toneladas. A partir de ago/12 esta cota aumentou para 48,2 mil toneladas, resultado de uma disputa junto à OMC, pois os europeus não podem ter cota específica para um país, permitindo que a Austrália se qualificasse, junto com Estados Unidos e três outros países. “Mais importante ainda, essa é uma cota livre de tarifas, diferente da cota para carne de animais a pasto, que tem uma tarifa de 20%”.
Conforme mostra o gráfico, o volume de carne de animais confinados em proporção das exportações à UE cresceram desde 2009-10, mas não prejudicou a carne produzida de animais a pasto, que cresceram 4% no mesmo período. No total, as exportações australianas de carne bovina aumentaram 63% nos últimos dois anos.
Para o ano de 2011-12, as exportações australianas de carne de animais confinados totalizaram 4,7 mil toneladas. “Isso sinaliza que respondemos no lado da oferta – historicamente, tivemos um número limitado de gado adequado ao mercado da UE”.
Também houve mudança das exportações australianas à UE, direcionadas em otimizar o valor de mercado, sob as limitações da cota. Tradicionalmente, esse era um mercado de sete cortes, mas como houve aumento em todos os cortes, a produção de carne de animais alimentados com grãos tem aumentado no país.
Avaliando os cortes exportados, a proporção de cortes mudou.Filé mignon e contra-filé declinaram enquanto cortes secundários aumentaram. “Mas o mais importante é que mesmo com isso acontecendo, mantivemos o valor do mercado. A UE atualmente é um mercado de A$ 10.000 (US$ 10.415) por tonelada para a Austrália, enquanto os próximos clientes de maior valor são Hong Kong (volume muito pequeno) com A$ 5.600 (US$ 5.832,40) e Japão e Coreia, com A$ 5.000 (US$ 5.207,50)/tonelada”.
O mesmo se aplica ao mercado alcançado na UE, onde a Austrália manteve as vendas para países já clientes e também adicionou novos destinos. O Reino Unido era o mercado tradicional da Austrália, que cresceu, porém maior volume também está sendo copmercializado na Itália, Holanda e Dinamarca por exemplo.
“É importante lembrar que, embora possamos pensar na UE como um mercado, existem 27 países diferentes, e a demanda específica para cada um varia consideravelmente. Observando a divisão norte/sul da Europa, a atual dificuldade financeira é maior no sul que no norte. A condição financeira dos consumidores na Alemanha, Holanda e, em menor extensão, Reino Unido, é muito diferente daquela na Grécia, Espanha e regiões do sul”.
Um dos constantes desafios enfrentados pelos exportadores australianos na UE é de logística e distância de transporte, com viagens marítimas de 35-38 dias para levar o produto ao norte do continente – o mais longe de qualquer exportação australiana de carne bovina.
De um ponto de vista de competição, os Estados Unidos têm acesso à mesma cota de carne de animais confinados que a Austrália e é muito competitivo, considerando a atual posição da moeda australiana. Certamente, a percepção de “USDA Choice” como um padrão global também é um desafio as exportadores australianos.
Strong disse que o mercado de carne de animais confinados da UE é um bom exemplo de como a Austrália respondeu rapidamente a novas oportunidades que surgiram. “A oportunidade foi apresentada com a criação de uma nova cota e a indústria reuniu a cadeia de fornecimento rapidamente, colocando gado para engorda por 115 dias, em uma resposta mais rápida do que de qualquer outro país qualificado, incluindo os Estados Unidos”, disse ele.
Em 08/11/12 – 1 Dólar Australiano = US$ 1,04150
A reportagem é do www.beefcentral.com.