O Brasil vai depender, novamente, em 2002, do mercado externo para ampliar suas vendas de carne bovina. A expectativa é do analista José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria. As vendas de carne bovina brasileira em 2002 não deverão, contudo, registrar o crescimento expressivo que vem sendo registrado nos últimos anos, principalmente em 2001.
As estimativas de crescimento do consumo de carne bovina mundial da FAO e do USDA para 2002 são insignificantes, entre 0,3% e 0,5%. Segundo Ferraz, em 2002 as exportações de carne deverão registrar um crescimento modesto, mas mesmo assim, este crescimento será importante dentro do contexto da pecuária nacional já que, internamente, o crescimento do consumo de carne bovina é mais difícil. “O potencial de crescimento do consumo interno é enorme, mas isto depende de uma melhor distribuição de renda”, disse o analista.
No auge do Plano Real, em 1996, o consumo per capita de carne bovina foi de 41 kg. Em 2001, este consumo foi menor, de 35,3 kg, queda de 14% em cinco anos, expressiva se considerado que a população brasileira cresceu 8,10% no mesmo período. A expectativa é de que o consumo per capita permaneça neste patamar. “A carne bovina tem maior apelo nas classes mais baixas. Porém, para este consumo aumentar, a renda das classes baixas precisa aumentar também”, disse Ferraz. Nas classes mais altas, a tendência é de que o consumo da carne registre queda. “Os mais ricos possuem outras alternativas de alimentação e por terem maior acesso a informações, deixam de comer carne bovina por motivos nem sempre verdadeiros”, disse ele.
Depois de registrar um aumento de 42,55% em 2001, dificilmente as exportações brasileiras terão crescimento semelhante em volume físico no curto e médio prazos. Em 12 meses, as exportações brasileiras de carne bovina passaram de 553.701 toneladas para 789.349 toneladas, segundo dados compilados pela FNP Consultoria. “As exportações brasileiras de carne bovina cresceram impulsionadas pelo dólar elevado em relação ao real e pela saída do mercado da Argentina e do Uruguai, além dos choques sanitários registrados pela União Européia. Este cenário, que beneficiou as vendas em 2001, não estará presente este ano”, explica Ferraz.
Exportações em 2001
Mesmo com um cenário benéfico para as vendas externas, a receita não atingiu, em 2001, os US$ 1 bilhão que tinham sido estimados, mas chegou perto: US$ 990,903 milhões. Em 2001, países como Reino Unido e Países Baixos aumentaram significativamente suas importações de carne brasileira. O Reino Unido, por exemplo, aumentou suas importações de carne in natura em cerca de 25% (alta de 24,55% para carne resfriada sem osso e de 28,63% para carne congelada sem osso). Somado à importação de carne industrializada, que ficou praticamente estável, o Reino Unido gastou US$ 150 milhões com carne brasileira em 2001. Os Países Baixos também importaram valor semelhante de carne, resultado de um crescimento de 64% nas compras de carne in natura.
Além destes mercados, já tradicionais compradores, outros países como Chile, Egito, Israel e Irã também vieram, pela primeira vez, buscar volumes expressivos de carne no Brasil. Cada um destes países importou um volume entre US$ 50 e US$ 100 milhões com carne brasileira em 2001. O Egito aumentou suas importações de carne in natura em mais de 20 vezes no período, passando de 2.392 toneladas em 2000 para 49.561 toneladas. Israel aumentou suas importações de carne in natura em 176,43%, o Irã aumentou em 1618% e o Chile registrou um crescimento de mais de 110%. Ferraz acredita que os mercados chileno – o grande destaque de 2001 – e o israelense não devem ser mantidos em 2002 . “Foram compras pontuais por falta de seus vendedores habituais”, disse.
Fonte: Agência Estado (por Eduardo Magossi) e Folha de Londrina, adaptado por Equipe BeefPoint