A desmama geralmente é feita entre 7 e 8 meses de vida do animal, sendo a separação física feita geralmente de forma abrupta e estressante para o bezerro, ocasionando alterações comportamentais e fisiológicas. Nessa fase freqüentemente ocorre perda ou baixo ganho de peso, e, muitas vezes, o aparecimento de doenças infecciosas devido à diminuição da imunidade e do nível nutricional.
Recentemente, foi realizado um trabalho durante 3 anos consecutivos na Califórnia com objetivo de quantificar os efeitos do estresse pós-desmama em bezerros de corte. O trabalho foi conduzido por Price et al. (2003), entre os anos de 1998 e 2000, com 100 bezerro/ano (Angus/Hereford) distribuídos em grupos de 10 animais aleatoriamente em 1 dos 5 tratamentos:
Foram feitas avaliações dos hábitos comportamentais dos animais (alimentação, vocalização e deitar) durante os primeiros 3 dias no ano de 1998 e nos 5 dias em 1999 e 2000. As pesagens foram feitas semanalmente, até a 10a semana após a desmama.
Na tabela 1 estão apresentados os resultados médios dos 3 anos relativos ao comportamento dos animais. Efeitos significativos (P<0,05) foram observados para a porcentagem do tempo gasto para alimentação, sendo que os animais dos tratamentos C e CP apresentaram tempos semelhantes, porém superior em relação aos animais totalmente separados da mãe (tratamentos D, DA e DNA). Os animais totalmente separados e mantidos a pasto (D) passaram maior parte do tempo andando, e, consequentemente, a menor parte deitados (P<0,05), o que provavelmente refletiu em menor tempo gasto para alimentação. Os animais desmamados e mantidos em curral apresentaram tempo gasto andando ou deitados semelhantes aos mantidos com a mãe (C) ou com contado visual (CP). Segundo os autores isto se deveu principalmente à limitação de espaço no curral. Tabela1: Médias da porcentagem do tempo em que os animais estavam apresentando diferentes comportamentos.
Outro indicador de estresse mensurado foi o número de vocalizações por hora para cada grupo de 10 bezerros (Tabela 1). Os animais controle praticamente não demonstraram vocalização, enquanto os animais CP apresentaram número de vocalização significativamente inferior aos animais D, DA e DNA (216,7; 434,6; 371,2 e 518,2 vocalizações/h/grupo de 10 bezerros, respectivamente).
Com o passar dos dias após o desmame, todos os animais tenderam a aumentar o tempo gasto se alimentando, diminuindo o tempo andando, e diminuindo o número de vocalizações. Os animais CP apresentaram 62% e 61% do seu tempo pelo menos a 3m da cerca no dia 1 e 2 pós desmame, movendo-se para longe apenas para comer e beber, porém houve diminuição gradativa do contado próximo a cerca de 46%, 24%, e 31% nos dias 3, 4 e 5, respectivamente.
Na tabela 2 são apresentados os resultados de ganho de peso acumulado e diário durante o período pós desmama. Durante as primeiras 2 semanas o grupo CP apresentou ganho 95% superior (P<0,001) ao ganho médio dos animais totalmente separados da mãe (D, DA, DNA), sendo que estes apresentaram ganhos semelhantes entre eles. Os animais do tratamento CP (a pasto com contato visual) apresentaram ganhos iguais aos dos que permaneceram com a mãe (C). Tabela 2: Média dos ganhos acumulados (kg) e diários (kh/d) dos bezerros nos diferentes tratamentos após 2 e 10 semanas da desmama.
Considerando as 10 semanas os animais tratamento CP apresentaram ganhos superiores aos dos animais dos tratamentos com separação total das mães. Não foi observado ganho compensatório dos animais desses tratamentos (D, DA e DNA), apesar das maiores diferenças de ganhos terem ocorrido nas 2 primeiras semanas. Os animais do tratamento C apresentaram ganho superior aos do CP (64,8 x 50,0 kg). Isto se deve ao fato dos animais desse tratamento ainda continuarem se alimentando do leite materno, à provável melhor qualidade de forragem e também a um estímulo de comportamento de pastejo mais eficiente. A adaptação dos animais pré-desmame ao curral e feno de alfafa (DA) mostrou relativamente menor estresse comportamental em comparação aos tratamentos D e DNA, apesar de não ter tido reflexo nos ganhos de peso pós-desmame.
O contado visual do bezerro com a mãe nos primeiros dias após desmame reduz o estresse comportamental do bezerro, propiciando melhores ganhos de peso. Trata-se de manejo que pode ser aplicado sem custos altos e que pode dispensar uso de insumos extras, além de melhorar o bem estar animal, o que hoje é uma preocupação dos consumidores.
Uma das curiosidades relatadas pelos autores foi o comportamento, tanto das vacas como dos bezerros, que não tentaram pular ou atravessar o tipo de cerca usada. Os autores ainda relatam que em alguns sistemas comerciais usa-se arame eletrificado do lado dos bezerros a 30-40 cm da cerca.
Literatura consultada:
Price, E. O.; Harris, J. E.; Borwardt, R. E; et al. Fenceline contact of beef calves with their dams at weaning reduces the negative effects of separation on behavior and growth rate. Journal of Animal Science, n.81, p.116-121. 2003.