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Contracepção Farmacológica em Bos indicus

Por Daniela Braga1, Michael D´Occhio3, Márcio Marques2, Pietro Baruselli2

1 – Introdução

No Brasil, a época predominante dos partos em bovinos de corte compreende os meses de Agosto a Novembro, sendo os bezerros desmamados, na maioria das fazendas, entre Março e Maio. Após o desmame, as fêmeas que apresentaram inadequada habilidade materna e/ou não emprenharam na estação de monta podem ser destinadas ao abate. Tal prática é adotada principalmente em propriedades que objetivam a seleção de fêmeas férteis e produtivas. No entanto, há necessidade que essas vacas destinadas ao abate atinjam peso e a condição corporal apropriados, o que pode demorar até 4 meses dependendo do manejo nutricional a que estão submetidas.

Caso as fêmeas destinadas ao abate se tornem prenhes, a gestação estará em estágio avançado no momento do abate, prejudicando o rendimento de carcaça e o manejo de produção de carne. Essa situação, ocorrendo em grande número de fêmeas, significa redução do ganho econômico e problemas de manejo na propriedade.

Na produção pecuária brasileira, a conduta rotineira para se evitar a prenhez em vacas pós-parto ou em novilhas destinadas ao abate corresponde à separação entre fêmeas e touros. Entretanto, este procedimento pode acarretar na divisão do rebanho em lotes pequenos, necessidade de infra-estrutura adicional (cercas, cochos, aguadas, etc), alteração da lotação dos pastos, mobilização de mão de obra e transporte dos animais, tudo isso resultando em custo adicional na produção da carne.

Desta forma, procedimentos como a remoção cirúrgica dos ovários (“castração”) ou o emprego de dispositivos intra-uterinos (DIU´s) podem ser utilizados para evitar a prenhez em fêmeas bovinas. Entretanto, essas técnicas também podem determinar dificuldades de manejo, principalmente relacionados ao tempo despendido e necessidade de pessoal capacitado para realizar tais procedimentos.

No entanto, alguns tratamentos hormonais podem prevenir o crescimento folicular e a ovulação sem a necessidade de remoção dos ovários. Em pesquisas recentes (D´Occhio et al., 2000), o emprego de implante auricular contendo agonista do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), denominado Deslorelina, vem sendo utilizado para prevenção da prenhez em fêmeas bovinas. Um ponto importante é a praticidade da sua aplicação – realizada no subcutâneo do pavilhão auricular. Além disso, a fertilidade pode ser restabelecida após a remoção do implante, caso necessário (D´Occhio et al., 1996).

O presente experimento objetivou verificar o efeito do implante de Deslorelina como contraceptivo e seu efeito no ganho de peso em vacas e novilhas da raça Nelore (Bos indicus) nas condições brasileiras.

2 – Material e Métodos

Utilizou-se 139 novilhas (2 anos de idade) e 135 vacas (4 a 8 anos de idade) da raça Nelore mantidas a pasto na região de Brasilândia, MS (Höfig Ramos Agricultura e Pecuária). As fêmeas foram distribuídas em 4 grupos: Controle (novilhas, n=34, 258 +-16kg; vacas, n=35, 415 +-57kg), Controle com touros (novilhas, n=36, 258 +-16kg; vacas, n=34, 412 +-52kg), Tratamento (novilhas, n=36, 257 +-14kg; vacas, n=33, 409 +-57kg) e Tratamento com touros (novilhas, n=33, 258 +-15kg; vacas, n=33, 416 +-60kg).

As fêmeas tratadas receberam um implante auricular contendo 8mg de Deslorelina ao início do experimento. Todas as fêmeas foram submetidas ao diagnóstico de gestação por ultra-sonografia (Pie Medical 100 LC) e à pesagem em balança eletrônica em 3 momentos do experimento (no dia da colocação do implante, 6 meses após o implante e ao término de 10 meses – para as vacas – e 12 meses para novilhas). Os animais dos Grupos Controle e Tratamento com touros foram mantidos no mesmo lote, enquanto aqueles dos Grupos Controle e Tratamento sem touros formaram um outro lote. Os 2 lotes de animais permaneceram em pastos distintos durante o período de estudo. Utilizou-se relação touro:vaca de 1:25 no lote de fêmeas que permaneceu com touro.

As taxas de prenhez dos grupos foram comparadas pelo teste do Qui-quadrado e o ganho de peso dos diferentes grupos foi comparado por ANOVA com nível de significância de 5%.

3 – Resultados e Discussão

O implante de agonista do GnRH foi efetivo na prevenção da prenhez durante os primeiros 6 meses após o tratamento, não se verificado gestação em todas as fêmeas tratadas neste período. Nos grupos de animais não tratados, 58,3% das novilhas e 60% das vacas emprenharam nos primeiros 6 meses de experimento (Tabelas 1 e 2). Após 10 meses da colocação do implante, 91,3% das vacas não tratadas emprenharam enquanto nenhuma vaca tratada tornou-se gestante. Após 12 meses, 14,7% das novilhas tratadas e 88,9% das novilhas não tratadas conceberam (Tabelas 1 e 2). Ainda, dentre as 5 novilhas tratadas que se tornaram prenhes, todas se apresentavam com período de gestação inferior à 90 dias, determinando eficiência total do tratamento até os 9 meses pós-implante.

Em estudos anteriores, realizados em sistemas de criação extensiva na Austrália, o implante contendo 8mg de agonista do GnRH foi efetivo na contracepção de novilhas por aproximadamente 9 meses, quando apenas 2% dos animais tratados tornaram-se prenhes (D´Occhio, M.J.; Fordyce, G.; Trigg, T.E.- comunicação pessoal). Nesse mesmo estudo, verificou-se que 35% das novilhas tratadas ficaram gestantes decorridos 12 meses do tratamento. O período de efeito contraceptivo nas novilhas do presente estudo foi semelhante àquele realizado na Austrália. Entretanto, quando comparadas as taxas de prenhez de novilhas após 12 meses se verificou menor taxa de prenhez nas novilhas Nelore tratadas (14,7 vs 35%) que naquelas do experimento australiano. Tal ocorrência pode ser devida a diferenças ambientais e raciais que merecem estudos futuros.

O ganho de peso não diferiu (P>0,05) quando comparados os grupos que permaneceram na mesma condição de pastejo. Assim, no presente experimento, o emprego do implante do agonista do GnRH não teve efeito no ganho de peso de vacas e novilhas (Tabelas 1 e 2).

As diferenças observadas entre os lotes de vacas que permaneceram com e sem touros provavelmente foram conseqüência da disponibilidade forrageira dos pastos em que cada lote permaneceu durante o experimento (Tabela 1).

Tabela 1 Ganho de peso (média +- desvio padrão) e taxa de prenhez de vacas Nelore tratadas com implante do agonista do GnRH (Deslorelina) por 10 meses. Brasilândia-MS, 2001.

Tabela 2. Ganho de peso (média +- desvio padrão) e taxa de prenhez de novilhas Nelore tratadas com implante do agonista do GnRH (Deslorelina) por 12 meses. Brasilândia-MS, 2001.

4 – Conclusões

O implante contendo Deslorelina foi eficaz como contraceptivo (por até 9 meses em novilhas e 10 meses em vacas) e não teve efeito no ganho de peso de vacas e novilhas da raça Nelore nas condições de criação extensiva no Brasil.

5 – Comentários

O bioimplante de Deslorelina foi testado pelo grupo de pesquisa do Prof. Michael D´Occhio (Austrália) e ainda não está disponível comercialmente.

Referências Bibliográficas

D´OCCHIO, M.J., ASPDEN, W.J. and WHYTE, T.R. Controlled reversible suppression of oestrous cycles in beef heifers and cows using agonists of gonadotropin-releasing hormone. Journal Animal Science, 74:218-225, 1996.

D´OCCHIO, M.J., FORDYCE, G., WHYTE, T.R., ASPDEN, W.J. and TRIGG T.E. Reproductive responses of cattle to GnRH agonists. Animal Reproduction Science, v.60-61:433-442, 2000.
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1 Daniela Braga é membra do Animal Sciences and Production Group, Central Queensland University, Rockhampton, Austrália

2 Márcio Marques e Pietro Baruselli são do Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP, São Paulo, SP

3 Michael D´Occhio é membro da School of Animal Studies, University of Queensland, Gatton

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