Síntese Agropecuária BM&F – 13/02/03
13 de fevereiro de 2003
Rebanho rastreado soma apenas 0,7% do total
17 de fevereiro de 2003

Contribuição genética dos genearcas nos touros participantes do PMGRN-USP presentes nas centrais de inseminação

Por Pedro Alejandro Vozzi1; Luiz Antonio Framartino Bezerra2 e Raysildo Barbosa Lobo2

Introdução

A contribuição genética de um determinado animal em um conjunto de descendentes pode ser quantificada por meio do coeficiente de parentesco entre um reprodutor e sua descendência. O coeficiente de parentesco (a probabilidade de dois indivíduos terem genes idênticos por descendência dada a presença de um ancestral comum entre eles) é uma ferramenta fundamental para conhecer as relações de parentesco entre indivíduos assim como um fator determinante nos programas de seleção e acasalamentos.

Conhecendo o grau de parentesco entre dois indivíduos pode-se estimar o valor genético aditivo de um animal em base às informações do outro animal além de: (a) diagramar os acasalamentos em base à informações do pedigree levando em conta os valores genéticos dos reprodutores; (b) predizer a endogamia da progênie com base ao parentesco dos pais, assim como selecionar os acasalamentos com base no coeficiente de parentesco médio da população de reprodutores; (c) estimar e predizer a contribuição genética de determinados animais fundadores nas populações de reprodutores atuais.

Na raça Nelore seis animais contribuíram significativamente na formação do rebanho nacional: Karvadi, Taj Mahal Imp, Kurupathy Imp, Golias Imp, Godhavari Imp e Rastã Imp com um aporte de aproximadamente 22 por cento de seus genes nos rebanhos atuais, sendo o touro Karvadi o touro com maior contribuição com 11,66 por cento (MAGNABOSCO et al, 1997). O desenvolvimento de tecnologias como a Inseminação artificial, transferência de embriões, produção in vitro de embriões (PIV) e outras, contribuíram à disseminação do material genético destes genearcas como de seus principais filhos, os quais alguns podem ser chamados genearcas dada a grande contribuição genética atual e ser responsável pelo maior aporte genético de seus pais.

A utilização destas principais famílias pode estar contribuindo no aumento nos níveis de endogamia e uma preocupante diminuição do tamanho efetivo da população presente na Raça Nelore (FARIA et al, 2002). Tanto a endogamia como o tamanho efetivo da população são os parâmetros de maior importância para delinear os programas de melhoramento, já que deles depende a manutenção da variabilidade genética presente na população a ser utilizada nas futuras gerações.

Objetivos

O trabalho tem como objetivo estudar a contribuição genética dos animais fundadores da raça Nelore sobre os reprodutores participantes do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore presentes nas centrais de sêmen e identificar genearcas nascidos antes do período 1960-1962.

Material e métodos

Os genearcas foram identificados por meio do portal da ANCPweb (www.ancp.org.br) o qual apresenta informações como as DEPs, número de registros dos animais e genealogia dos 9370 touros avaliados pelo PMGRN-USP (LÔBO et al, 2002) e no trabalho publicado por MAGNABOSCO et al (1997).

A contribuição genética de dez genearcas da Raça Nelore (Tabela 1) foram calculadas sobre 96 animais participantes do PMGRN-USP com sêmen disponível nas centrais de inseminação. O índice CPMD foi utilizado para estimar a contribuição genética ou proporção esperada genes de cada touro fundador ou genearca no conjunto de animais analisados.

Os parentesco entre os animais foram obtidos pela constrição da matriz de parentesco dos 96 animais e pela aplicação do método das covariâncias genéticas para conhecer o parentesco aditivo entre dos animais (MRODE, 1996). O algoritmo foi implementado no setor de computação do PMGRN-USP (BEZERRA, 2002).

Resultados e discussão

Na tabela 1 são sumarizados os resultados obtidos do cálculo do CMPD (coeficiente médio de parentesco) dos dez genearcas sobre 96 touros avaliados geneticamente pelo PMGRN-USP, com sêmen disponível nas centrais de inseminação. Na mesma observa-se ampla contribuição genética dos animais Karvadi Imp (89 de 96 touros têm parentesco com ele) e Taj Mahal, seguidos em menor proporção por Kurupathy Imp, Godhavari Imp e Rastã Imp, concordando com os resultados obtidos por MAGNABOSCO et al (1997).

O touro Golias Imp. apresentou uma menor contribuição genética nos touros participantes do PMGRN-USP, se comparada ao valor obtido por MAGNABOSCO et al (1997), possivelmente pela pouca utilização dos principais descendentes desde touro desde o ano 1997.

O touro Índio OM apresentou contribuição importante nos touros do PMGRN, mas os seus descendentes diretos nasceram antes da principal importação de touros, entre os anos 1960 – 1962, sendo seu material genético pouco disseminado pela inseminação artificial, ainda não aplicada na época. Com a chegada dos genearcas na década de 60 mudaram os critérios de seleção e as características raciais desejadas pelos criadores da época. As filhas de Índio OM foram freqüentemente acasaladas com Karvadi Imp, Rastã Imp e Golias Imp, sendo umas das causas da alta contribuição genética atual.

O animal Nagpur deixo descendentes importantes como Berílio OB, Ordenado, Lajedo e Norte com importante quantidade de filhos nos rebanhos atuais.

Foram identificados touros com contribuição de vários genearcas como é o caso de Panagpur Al de Pauliceia, Onassis Col, Nurmahal Col, Olhar Col, Chave de Ouro entre outros, com aporte de genes dos genearcas Karvadi e Índio OM, o touro Diago apresenta contribuição diferentes de sete genearcas citados no trabalho (Karvadi, Taj Mahal, Godhavari, Golias, Índio, Kurupathy e V. Narayana Imp), e o touro Voltaire TE JR apresenta contribuição de cinco genearcas (Godhavari, Karvadi, Kurupathy, Rastã, Taj Mahal e V.Narayana Imp).

Tabela 1: Proporção média (esperada) de genes dos genearcas nos touros participantes do PMGRN-USP com sêmen disponível na centrais de inseminação.

* RGD – Registro Genealógico Definitivo
** CMPD– Proporção média (esperada) de genes nos animais analisados.

Conclusões

Os genes do animal Karvadi encontram-se amplamente disseminados na amostra de estudo em diferentes proporções e combinados com genes de outros genearcas de importante contribuição no PMGRN-USP. O acasalamento de touros de diferentes linhagens evidenciou uma boa performance da progênie, resultante do acasalamento, e portanto deve ser levado em conta para otimizar os acasalamentos, maximizando o progresso genético e evitando acasalamentos consangüíneos.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Departamento de Genética da FMRP-USP, CAPES, PRONEX, FAPESP, ANCP e a Pesquisadora Ana Rosa Zambianchi pela adequação do texto para o BeefPoint.

Referências bibliográficas

FARIA, F. J. C; VERCESI FILHO, A. E; MADALENA, F. E. et al. Pedigree análisis in the brazilian zebu breeds. In WORD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 7, 2002, Montpellier, FR. Proceedings.Montpellier, WCGALP 2002.

LÔBO, R. B; BEZERRA, L. A. F; OLIVEIRA, E. N; MAGNABOSCO, C. de U; FREITAS, M. A. R; BERGMANN, J. A. G. Avaliação Genética de Animais Jovens, Touros e Matrizes. Ribeirão Preto, GEMAC – Departamento de Genética-FMRP-USP. 76 p. ilust. 28 cm, 2002

MAGNABOSCO, C de U.; CORDEIRO, C.M.T.; TROVO, J.B de F.; MARIANTE, A da S.; LÔBO, R.B.; JOSAHKIAN, L.A. Catalogo de linhagens do germoplasma zebuíno: raça Nelore. Brasília: Embrapa-Cenargen, 1997. 52 p. (Embrapa-Cenargen. Documento 23).

MRODE, R.A. Linear models for the prediction of animal breeding values. CAB INTERNATIONAL, 1996. p 187.

Artigo apresentado no 11o SNCP, em 6 de dezembro de 2002 – Ribeirão Preto.

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1 Pedro Alejandro Vozzi é aluno de mestrado, Departamento de Genética da FMRP-USP, Av Bandeirantes 3900.CEP 14049-900, pavozzi@rge.fmrp.usp.br

2Luiz Antonio Framartino Bezerra e Raysildo Barbosa Lobo são do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore, (PMGRN), Departamento de Genética da FMRP-USP.

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