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Controle da deterioração aeróbia de silagens: parte 2

Por Thiago Fernandes Bernardes1; Gustavo Rezende Siqueira2; Rafael Camargo do Amaral3

Continuando o que foi discutido na Parte 1 deste texto sobre o que temos de seguro até o momento contra a prevenção da deterioração aeróbia de silagens, discutiremos os dois últimos tópicos, vedação e avanço diário durante a utilização e fornecimento da silagem.

Vedação

Silos do tipo trincheira e superfície são geralmente atrativos em razão da maior economia no armazenamento de forragens sob a forma de silagem, pois outros tipos como o bag, só poderão trazer retorno financeiro quando a fazenda produz mais de 200 toneladas de silagem, devido principalmente aos altos custos dos equipamentos para a confecção (Rotz et al., 2003). Entretanto, silos horizontais permitem grande superfície de exposição e de trocas gasosas com o ambiente, durante o enchimento e após a vedação.

A contribuição mais expressiva da etapa de vedação do silo está em evitar a penetração de ar do ambiente externo para o interior. Porém, é comum o filme de polietileno apresentar permeabilidade ao oxigênio, em torno de 4000 cm3 de O2/m2 durante 24 horas a temperatura de 23oC (espessura da lona de 45 µm) a qual tende a aumentar notavelmente com a elevação da temperatura ambiental, passando para 12000 cm3 de O2/m2 por 24 horas a 50oC (G. Borreani, Università Degli Studi di Torino, comunicação pessoal, 2005).

Isto significa que durante o período do verão, quando as silagens são mais propensas à deterioração aeróbia, este fato se torna mais crítico pelo aumento da permeabilidade nas lonas. O problema é particularmente evidente nas áreas periféricas do silo, onde se verifica movimento gasoso devido à diferença de temperatura e pressão.

O uso de novos materiais plásticos de coloração branca que auxilia na reflexão de raios solares incidentes e com permeabilidade inferior ao oxigênio (espessura maior) pode ser um instrumento para reduzir a deterioração aeróbia durante a estocagem. Contudo, pouco se conhece sobre o efeito do tipo (cor e espessura) do plástico utilizado na vedação do silo sob as condições de preservação e a qualidade do produto final. Dessa forma, com a perspectiva de reduzir o uso de plásticos na agricultura, o uso de filme de polietileno com maior espessura poderá contribuir com a poluição ambiental.

A proteção da lona com outros materiais (terra; cascalho; pneus) pode representar grande demanda de mão-de-obra, seja para colocá-los ou também para retirá-los, principalmente quando o silo é extenso ou existem vários silos numa mesma propriedade. Porém, este tipo de cobertura traz benefícios, diminuindo a incidência de raios solares e as trocas gasosas com o ambiente. Além deste fato, o emprego de materiais na parte superior do silo provoca adesão entre a lona e a massa ensilada, e neste caso um peso mínimo para ser eficaz deve atingir 150 kg/m2, obtendo-se principalmente com o emprego de terra e cascalho. No caso onde a gestão do silo se encontra onerosa, uma solução intermediária seria predispor uma faixa pesada de 2-3m de profundidade, transversal a todo o silo, próximo do painel onde esta sendo retirada à silagem.

Avanço diário do painel

Durante a abertura do silo, a parte que não é fornecida rapidamente aos animais, permanece exposta ao ambiente e conseqüentemente à presença de oxigênio. Uma vez que isto acontece, perde-se a condição de anaerobiose (principal fator que determina a estabilidade aeróbia da silagem) e então a massa se torna potencialmente instável. As zonas periféricas do silo, em contato com a lona de cobertura, são aquelas com maiores riscos de penetração de ar, porque, como foi exposto anteriormente, esta região da silagem é menos compacta e, então é mais porosa. O painel do silo deve, portanto avançar rapidamente e desse modo, o fornecimento da silagem se torna uma batalha entre os microrganismos aeróbios que utilizam fontes energéticas da massa e o produtor rural que necessita manter a qualidade do seu produto. Por este motivo, é indispensável assegurar uma velocidade de avanço na massa de modo que possa impedir a deterioração aeróbia da mesma.

No vale do Rio Pó, região de Torino – Itália dos 11,2 milhões de kg de leite que são produzidos anualmente, 10,7 são destinados à produção de queijo. Dessa forma, Tabacco & Borreani (2002) conduziram um estudo com o objetivo de criar estratégias de manejo que previna a deterioração aeróbia em silagens de milho e conseqüentemente melhore a qualidade higiênica do leite durante a caseificação (Tabela 1).

Cerca de 36 fazendas foram incluídas na pesquisa e divididas em três grupos: A (deterioração aeróbia evidente durante o inverno e o verão), B (silagens com deterioração aeróbia somente no verão) e C (silagens sem fenômeno de deterioração).

Tabela 1. Índices técnicos de fazendas produtoras de leite e das silagens de milho utilizadas na alimentação


As fazendas do grupo C foram caracterizadas por um consumo superior de silagem e elevada produção de leite por vaca (superior a 11.000 kg/ano). Observa-se também que nestas propriedades houve maior número de silos, com dimensões inferiores, o que determinou menor área de exposição ao ar devido a uma rápida progressão na retirada de silagem. Durante o período do verão, as temperaturas das silagens foram superiores para os três grupos de fazendas, demonstrando que durante esta fase o alimento é mais propenso à deterioração aeróbia devido às condições favoráveis para o crescimento dos microrganismos, o que determina uma maior velocidade de descarregamento, como no caso das fazendas do grupo C (até 31 cm/dia).

Considerações finais

a)O fator de importância primária no controle da deterioração aeróbia é o avanço veloz do painel, resguardado de uma compactação eficaz e uma perfeita vedação da massa. Quando não for possível operacionalmente progredir com uma retirada eficaz, é possível conter a instabilidade através de simples práticas, entre as quais pode-se citar o uso de pesos sobre a lona de cobertura.

b)No ano de 1875, o francês Auguste Goffart relatava, como exemplo, que a cultura do milho apresentava características ideais para a produção de silagem com qualidade satisfatória, ou seja, os componentes que compõem o processo fermentativo já eram compreendidos e até o momento isto continua sendo verdadeiro para a maioria das espécies. Portanto, o título do nosso jogo, no caso um quebra cabeça, continuará sendo deterioração aeróbia, enquanto este fenômeno estiver contribuindo com as perdas durante a ensilagem.

c)E fica aqui uma pergunta para respondermos no futuro quanto aos aspectos higiênicos sanitários do alimento: “A forragem conservada pode apresentar um crescimento não controlado de determinados microrganismos e conseqüentemente de algumas toxinas, onde estes fatores podem afetar a saúde animal. Então, por um período de cinco anos, quanto uma granja leiteira poderia economizar com medicamentos e atendimento de pessoal especializado devido a problemas causados por ingestão de silagem com algum grau de deterioração?” Essa poderá ser uma resposta para poucos, pois na maioria das vezes este impacto provoca somente sintomas subclínicos. Mas vale a pena pensar nisso!

Literatura Consultada

ROTZ, C. A., FORD, S. A., BUCKMASTER, D. R. Silages in farming systems. In: D. R. Buxton, R. E. Muck, J. H. Harrison (eds). Silage Science and Technology. American Society of Agronomy, p. 505-546, 2003.

TABACCO, E., BORREANI, G. Extent of aerobic deterioration in farm maize silage as affected by silo management. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 13th, 2002, Auchincruive. Proceedings… Auchincruive, 2002, p.178-179.

GOFFART, A. Sur la culture du mais-fourrage. 1875, 61p.

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1Doutorando pela UNESP/Jaboticabal e Università Degli Studi di Torino, Italia;
2Pesquisador do Pólo Regional da Alta Mogiana e Doutorando da UNESP/Jaboticabal;
3Mestrando pela ESALQ/USP

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