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Controle da freqüência de irrigação em pastagens

Patricia Menezes Santos1, Joaquim Bartolomeu Rassini1, Marco Antonio Alvares Balsalobre2

O interesse de técnicos e pecuaristas pela irrigação em áreas de pastagem tem aumentado continuamente nos últimos anos. A maior parte destes sistemas, no entanto, tem sido conduzida de forma empírica, o que pode reduzir a sua eficiência e sustentabilidade. Um dos principais problemas que tem sido observado em propriedades comerciais é quanto ao controle da freqüência de irrigação.

A maioria dos métodos de controle de irrigação disponível envolve o monitoramento de variáveis ligadas ao sistema clima-solo-planta e o cálculo de parâmetros matemáticos. Como a adoção destes métodos na prática é relativamente complexa, os produtores acabam optando pela aplicação pré-determinada de água, o que pode acarretar em impactos econômicos, sociais e ambientais negativos. Nestes casos, o produtor aplica uma determinada lâmina de água (ex: 10 mm) a um intervalo fixo de dias (ex: 7 dias), independentemente da precipitação pluvial e das condições do solo e da cultura no período.

Rassini (2002) procurou validar um método simples de controle de irrigação para a cultura de alfafa. Neste método, a freqüência de irrigação é determinada com base em um balanço hídrico simplificado, em que leva-se em consideração apenas a precipitação pluvial e a evaporação do Tanque Classe A* (ECA). Nesse experimento, Rassini (2002) observou o efeito de três regimes hídricos sobre o desenvolvimento de alfafa Crioula: sem irrigação complementar; irrigação complementar quando a diferença entre os valores acumulados do ECA e da precipitação pluvial fosse igual ou superior a 30 mm (ECA-PRP >= 30 mm); e irrigação complementar quando a diferença entre os valores acumulados do ECA e da precipitação pluvial fosse igual ou superior a 20 mm (ECA-PRP >= 20 mm). A capacidade de armazenamento de água (CAD) do solo na área experimental era de 49,0 mm na camada de 0 a 100 cm, e de 15,0 a 24,5 mm na camada de 0 a 20 cm. A produção obtida ao longo de dez cortes pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1: Efeito de três regimes hídricos (H1: sem irrigação complementar; H2: irrigação complementar aplicada quando ECA-PRP >= 30 mm; H3: irrigação complementar aplicada quando ECA-PRP >= 20 mm) sobre a produção de alfafa Crioula.


Obs: Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si.

A irrigação complementar aumentou a produção de alfafa, principalmente nos períodos de inverno e primavera. A produção total da alfafa foi menor no tratamento sem irrigação complementar que quando sob os regimes hídricos H2 e H3. A freqüência média de irrigação foi de 11 e 8 dias para os tratamentos H2 e H3, respectivamente. No regime H2 a freqüência de irrigação variou entre 6 e 126 dias e no H3 entre 4 e 98 dias. No tratamento H3 foi aplicado um total de 472,9 mm de água, enquanto a lâmina total aplicada no regime hídrico H2 foi de 301,3 mm, representando uma economia de 171,6 mm (1.716.000 L de água por ha). O autor concluiu que o controle da freqüência de irrigação com base na precipitação pluvial e evaporação do Tanque Classe A é bastante simples e pode aumentar a eficiência de utilização da água aplicada sem provocar queda na produção de forragem.

Comentário dos autores: a água é um dos recursos naturais mais importantes do ponto de vista socio-econômico-social, sendo que um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 2003) a aponta como o motivo da próxima crise mundial. A busca por métodos de controle de irrigação que proporcionem um aumento na eficiência de utilização da água é, portanto, extremamente importante. O método proposto por Rassini (2002) é bastante simples e fácil de ser implementado em propriedades comerciais. Apesar de não levar em consideração uma série de fatores que interferem na demanda hídrica da cultura como, por exemplo, o índice de área foliar, sem dúvida este método representa uma grande evolução quando comparado à irrigação pré-programada.

*Tanque Classe A: é um tanque cilíndrico de chapa de ferro galvanizado ou inox no22, com 121 cm de diâmetro e 25,5 cm de profundidade, utilizado para a medida da evaporação.

RASSINI, J.B. Manejo da água na irrigação da alfafa num Latossolo Vermelho-Amarelo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.37, n.4, p.503-507, 2002.
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1Embrapa Pecuária Sudeste
2Engenheiro Agrônomo, Doutorando em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP

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