Por Ricardo Andrade Reis e Thiago Fernandes Bernardes1
O recolhimento dos fenos com umidade, acima de 20%, reduz as perdas no campo, diminuindo os riscos de ocorrência de chuvas e as perdas de folhas, principalmente em leguminosas. As principais causas de perdas de matéria seca no armazenamento de fenos com alto conteúdo de água estão relacionadas com a continuação da respiração celular, e ao desenvolvimento de bactérias, fungos e leveduras. Em função da respiração celular e do crescimento de microrganismos, tem-se a utilização de carboidratos solúveis, compostos nitrogenados, vitaminas e minerais. Desta forma, há diminuição no conteúdo celular e aumento percentual na porção referente aos constituintes da parede celular, o que resulta em diminuição do valor nutritivo.
A intensa atividade de microrganismos promove aumento na temperatura do feno, podendo-se registrar valores acima de 65oC e até combustão espontânea. Condições de alta umidade e temperaturas acima de 55oC são favoráveis a ocorrência de reações não enzimáticas entre os carboidratos solúveis e grupos aminas dos aminoácidos, resultando em compostos denominados produtos de reação de Maillard (Quadro 1).
Quadro 01. Previsão de perdas (%), durante o processo de fenação em diferentes condições de secagem no campo.
Em fenos com 25% de umidade, pode ocorrer perda de 8% do conteúdo de MS, 3% de decréscimo no conteúdo de MS digestível e incremento de 3,5% nos teores de FDN. A digestibilidade da MS e de outros nutrientes diminuem com o armazenamento, uma vez que muitos compostos facilmente digestíveis são perdidos devido à respiração.
As plantas forrageiras em crescimento no campo estão inoculadas, naturalmente, com uma ampla variedade de fungos e bactérias. E segundo REES (1982), a população de fungos de campo, geralmente não causa alterações acentuada na composição química dos fenos, exceto quando a umidade permanece elevada por períodos prolongados.
A população de fungos de campo é menos diversificada do que a registrada no armazenamento dos fenos, sendo que os microrganismos presentes durante este período são xerotolerantes e mais termotolerantes do que os de campo. Neste grupo estão incluídos os gêneros Aspergillus, Absidia, Rhizopus, Paecilomyces, Penicillium, Emericella, Eurotium e Humicola (Kaspersson et al., 1984). De acordo com Hlodversson & Kaspersson (1986) a fenação altera a população de fungos da forragem, havendo diminuição naqueles gêneros típicos de campo como Alternaria, Fusarium e Cladosporium e aumento de Aspergillus e Fusarium, de maior ocorrência durante o armazenamento (Quadro 02).
É importante considerar, que além das alterações na composição química, o desenvolvimento de fungos pode ser prejudicial à saúde dos animais e das pessoas que manuseiam estes fenos, devido a produção de toxinas, principalmente aquelas relacionadas aos fungos patogênicos como Aspergillus glaucus e Aspergillus fumigatus (Reis & Rodrigues, 1998; MOSER, 1995). Estes fungos produzem toxinas, e a presença de esporos causa uma doença respiratória nos seres humanos, denominada febre do feno. Nos animais, problemas respiratórios não são tão intensos, com exceção dos eqüinos, que podem ser acometidos por doenças respiratórias e digestivas causadas por fungos. A doença pulmonar crônica obstrutiva e alterações digestivas em eqüinos estão associadas com a presença de fungos em fenos e palhas. Os esporos de fungos, também podem contribuir para o aparecimento de cólica em eqüinos .
A aspiração de esporos do fungo Aspergillus fumigatus durante o manuseio dos fenos contaminados, pode causar a febre do feno, e algumas vezes doenças que debilitam o organismo devido ao crescimento dos fungos nos tecidos dos pulmões. Os bovinos, geralmente são menos afetados pela presença de fungos nos fenos do que os eqüinos, contudo eles também estão sujeitos a abortos micóticos e aspergilose (MOSER, 1995).
Quadro 02. População de fungos em fenos de gramíneas enfardados com alta umidade (44%)
Os resultados de trabalhos de pesquisa evidenciam que quando se armazena fenos com baixa umidade é pequena a incidência de actinomicetos, bactérias e esporos de fungos. Nos fenos com umidade normal observa-se aumento no número de esporos de fungos, e nos de alta umidade tem-se elevada população de bactérias e de actinomicetos. Kaspersson et al. (1984) enfardaram fenos de gramíneas com 31% de umidade e observaram alterações na população de microrganismos durante 14 dias e registraram rápido aumento na temperatura dos fardos, causando diminuição nas relações bactérias mesofílicas/termófilicas, em virtude do aumento na população das bactérias adaptadas a altas temperaturas. Segundo esses autores é difícil de se avaliar os efeitos isolados da temperatura sobre a população de fungos.
Cumpre salientar, que a proporção relativa de fungos, bactérias, e de outros microrganismos se altera com o corte, secagem, colheita e armazenamento da forragem, sendo afetadas, principalmente pela umidade e pela temperatura dos fenos.
Bibliografia consultada
HLODVERSSON, R.; KASPERSSON, A. Nutrient losses during deterioration of hay in relation to changes in biochemical composition and microbial growth. Anim. Feed Sci. and Technol., Amsterdam. v.15, n.2, p.149-165. 1986.
KASPERSSON, A., HLODVERSSON, R.PALMGREN, U. et al. Microbial and biochemical changes occurring during deterioration of hay and preservative effect of urea. Sweedish J. Agric. Res., Stockholm. v. 14, n. 1, p. 127-133. 1984.
MAcDONALD, A.D., CLARK, E.A. Water and quality loss during field drying of hay. Adv. in Agron., Madison. v.41, p. 407-437. 1987.
MOSER, L.E. Post-harvest physiological changes in forage plants. In: Post-harvest physiology and preservation of forages. Moore, K.J., Kral, D.M., Viney, M.K. (eds). American Society of Agronomy Inc., Madison, Wisconsin.1995. p. 1-19.
REES, D.V.H. A discussion of sources of dry matter loss during the process of haymaking. J. Agric. Eng. Res., London. v.27, n.4, p.469-479. 1982.
REIS, R.A., PANIZZI, R.C., ROSA, B. et al. Efeitos da amonização na ocorrência de fungos, composição química e digestibilidade in vitro de fenos de grama seda (Cynodon dactylon (L. ) Pers.). Rev. Bras. Zoot., Viçosa. v. 26, n.3, p. 454-460. 1997.
REIS, R.A., RODRIGUES, L.R. de A., Aditivos para a produção de fenos. In: Moura, A.S.A.M.T. et al. (eds). Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 35. Botucatu-SP, 1998. Anais., Botucatu:SBZ. 1998. P. 109-152.
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1Ricardo Andrade Reis e Thiago Fernandes Bernardes, Departamento de Zootecnia, FCAV/UNESP – Jaboticabal, SP
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Com a finalidade de reduzir as perdas que ocorrem principalmente no armazenamento do feno, muitos produtores estão utilizando aditivos (amônia anidra, úréia…) para reduzir o crescimento de microorganismos, e assim, consequentemente melhorar a qualidade final destas forragens.