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Cooperocarne: cooperativa rondoniense de carne

Por Oberdan Pandolfi Ermita, Alexandre Foroni, Euvaldo Foroni, Carlos Terra Ferreira e Anderson Borges1

Com o intuito de mudar o cenário atual da pecuária de corte do estado de Rondônia, produtores de diversas cidades do estado se reuniram em Pimenta Bueno-RO no dia 7 de dezembro de 2003 para fundar uma cooperativa frigorífica – COOPEROCARNE – Cooperativa Rondoniense de Carne. Foi fundada com 168 sócios e hoje já tem mais de 220 sócios, e um capital social superior a 2,7 milhões de reais.

O Projeto

O projeto será implantado no município de Pimenta Bueno-RO, às margens da rodovia BR 364, Km 207. Trata-se de um terreno de 11 alqueires, de propriedade da cooperativa, que se encontra relativamente afastado da zona urbana (7 Km).

A Cooperocarne construirá uma planta industrial frigorífica modular, com capacidade de abate para 750 cabeças dia, enquadrada em todas as normas, critérios e condicionantes técnicos vigentes nesta data e necessários ao atendimento das regras nacionais e internacionais pertinentes a este ramo de atividade industrial. A abrangência das exigências terá como referência o organismo internacional que as tem em maior complexidade (União Européia), cobrindo assim os condicionantes deste e dos demais mercados importadores.

Qualitativamente trata-se de um projeto diferenciado, uma efetiva consolidação de uma cadeia produtiva. O processo de produção da carne será entendido em toda a sua complexidade, em que cada elemento da cadeia (desde a produção do bezerro até o manejo e abate do animal) faz parte de um todo. Tradicionalmente ocorre uma disputa entre o produtor e o dono de frigorífico, em alguns casos a matéria prima é de má qualidade e sem padronização e, em outros, muitos produtores não recebem de forma proporcional à qualidade do seu produto. Esta lógica perversa prejudica toda a cadeia da carne. Rompendo com o que tradicionalmente ocorre no setor, a cooperativa integrará toda a cadeia produtiva, entendendo que, para ter carne e couro melhorados e padronizados somente são possíveis se adotadas técnicas de melhoramento desde o nascimento do bezerro, manejo, até o abate e industrialização da carne. Para tanto, será objeto estratégico criar mecanismos de absorção, desenvolvimento e difusão de tecnologias entre os cooperados para um eficiente manejo, melhoramento genético e alimentar do rebanho de forma a elevar os índices de produtividade e oferecer um produto padronizado e diferenciado, com grande aceitação no mercado nacional e internacional. Como conseqüência, a renda do setor se elevará e será efetivamente distribuída entre seus membros.

Objetivos

Os principais objetivos da Cooperocarne são os seguintes:
– Valorizar o rebanho dos nossos cooperados;
– Credibilidade e transparência;
– Distribuir o resultado da indústria entre os produtores;
– Desenvolver e difundir tecnologia de produção em toda a cadeia e aprimoramento da qualidade dos produtos (carne e couro);
– Tipificação de carcaça;
– Segurança do estado;
– Centro de concentração de informação e representatividade;
– Abrir novas vias de escoamento da produção (Hidrovia do Rio Madeira, e Rodovia pela saída para o Pacífico);
– Crescimento econômico e social do estado

Fundamentação e motivação

O empreendimento da Cooperocarne tem, na sua concepção e motivação iniciais a presença marcante do fator, que nos tempos modernos, funciona como determinante segregador entre iniciativas vitoriosas e fracassadas: A MUDANÇA, O NOVO.

A existência de circunstâncias restritivas em Rondônia (barreira fiscal que impede o acesso ao mercado nacional, pelo produtor do boi em pé) e a exemplar aproximação dos produtores em torno da necessidade de erradicação da febre aftosa, através do FEFA (fundo emergencial de febre aftosa), campanha na qual os pecuaristas tiveram a felicidade de contar com o comando esclarecido do Sr. José Vidal Hilgert, hoje reconhecido como ponto de referência de toda a classe pecuarista de RO e nosso sócio cooperado de primeira hora, criaram as pré-condições necessárias para abertura do diálogo entre as lideranças emergentes da classe ruralista, onde foi gerada a idéia de construção do frigorífico.

Incidentalmente, outras ocorrências contemporâneas se encarregaram de fortalecer a convicção de que havia chegado a hora e a oportunidade de promover mudanças radicais na estrutura secular na cadeia produtiva de carne bovina e, mais radicalmente, na própria apresentação do produto ao consumidor. Esta última consideração (apresentação do produto ao consumidor) teve, em nosso caso, como ícone, nossa própria iniciativa, corporificada pela campanha de setembro de 2001 da carne “NELORE NATURAL – BOI DE CAPIM, CARNE SAUDÁVEL”, patrocinada pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil – ACNB, conveniada, no lançamento, com a Associação dos Criadores de Nelore de Rondônia – ACNR.

Portanto, unidos em torno da propriedade da marca registrada “NELORE NATURAL”, foi possível aos pecuaristas participar e acompanhar do enorme sucesso de lançamento e avaliar o prestígio que o consumidor conferiu ao produto diferenciado pela qualidade intrínseca da marca, em relação a carne vulgar que antes era obrigado a adquirir, por falta de opção de escolha.

Sabedores do prestígio que o consumidor moderno confere a produtos marcados pela qualidade, e pela experiência de administração do programa “NELORE NATURAL”, os pecuaristas encontravam barreiras para expansão da comercialização do produto justamente no elo intermediário entre ele e o consumidor: o frigorífico.

Por certo, o setor de frigoríficos bovinos em nosso país e, em particular, no estado de Rondônia, ainda se refere a práticas ultrapassadas de clientelismos políticos, favores fiscais, máfias de distribuição e outras práticas que a era da globalização, compulsoriamente, está cuidando de erradicar. Por outro lado, mas em nosso caso de forma determinante, a prática destes vícios ultrapassados termina por vitimar o produtor, uma vez que é o frigorífico que fixa os preços pagos pelo boi. No caso de Rondônia, face à barreira fiscal e ao conseqüente monopólio de abate, a ineficiência da indústria e suas práticas ultrapassadas, refletem no preço pago pela matéria prima ao indefeso produtor, obrigado a vender seu excelente produto – o melhor do Brasil – por um dos piores preços do mercado brasileiro.

Diante deste contexto: com excelente produto nas mãos e um consumidor ávido por ter acesso a ele, disposto a pagar pela qualidade diferenciada, a presença intermediária do frigorífico esterilizava todo o esforço e investimento do produtor, tanto antes da porteira da fazenda, quanto junto ao consumidor, via criação do PROGRAMA QUALIDADE NELORE NATURAL – PQNN e a posterior, ampla e competente campanha de divulgação da marca.

Observado esse quadro é obvia a necessidade de que o pecuarista afaste do caminho de seu produto diferenciado a figura ultrapassada do atravessador, criando com isso a possibilidade de marcar com qualidade total o percurso da carne “do pasto ao prato”, integrando, assim, toda a cadeia produtiva.

A importância do advento da cooperativa é máxima quando observada a influência que os preços por ela praticados irão exercer sobre os preços impostos pelo oligopólio existente. O mercado, tendo referencial confiável do efetivo ponto de equilíbrio do preço rondoniense em relação ao preço do mercado nacional, irá refletir esta realidade nos preços pagos pelo oligopólio, que obrigatoriamente, pela existência do parâmetro real de mercado, terá que honrar preços nivelados com a realidade mercadológica. Para dimensionar o aumento da renda da atividade pecuária como um todo, basta considerar que a flutuação positiva de cada Real no preço pago pela @, representa aumento da renda estadual em R$ 25 milhões.

Aí está a presença marcante da MUDANÇA, DO NOVO, de que falamos no início destas linhas. Este percurso (do pasto ao prato) é impossível de ser monitorado pelas demais indústrias frigoríficas, cujos fornecedores não são sócios do empreendimento e, portanto, ofertam produto de qualidade incontrolável pelo frigorífico. Conseqüentemente, este produto possui qualidade duvidosa, sendo inviável rotulá-lo com selo de conformidade a padrões rigidamente pré-fixados, exigência primeira do mercado internacional de carne.

No caso da Cooperocarne serão de 500 a 700 produtores aproximadamente, cooperados e unidos pela excelência incomparável do rebanho rondoniense, em produzir qualidade em regime de pasto sob o sol dos trópicos, monitorada pela coordenação centralizada na extensão rural unificada, que será provida pela Cooperocarne, voltada para maximizar a produtividade e, principalmente, padronizar as boiadas que serão abatidas na planta frigorífica.

Na visão inovadora que marca nosso empreendimento, merecem registro destacado as seguintes situações, ausentes de qualquer outra realidade de indústrias frigoríficas em funcionamento:

a) Existência de rebanho Nelore, de excelente padrão genético – O melhor do Brasil para aptidão carne – de propriedade de seus sócios;

b) Pastagens artificiais, no viço da implantação recente, em terras férteis, com condições de pluviosidade e luminosidade que conferem capacidade inigualável de produção de proteína vegetal, de propriedade de seus sócios;

c) Possibilidade de implantação de SISTEMA DE QUALIDADE TOTAL com programas de genética, manejo de pastagens, manejo de rebanho, práticas sanitários uniformes, cuidados com o couro, com o transporte e, dentro do frigorífico, implantação de rígido programa de “QUALIDADE TOTAL”, assegurando conformidade ao produto final e índices mínimos de rejeição a requisitos pré-determinados;

d) Viabilidade compulsória e total de implantação do programa de “RASTREABILIDADE”, exigência internacional de hoje e nacional em dezembro de 2004, para abate de bovinos. Em nosso caso, implantaremos rastreabilidade total, no rebanho de nossos cooperados, com conhecimento de todos os dados da origem genética do animal (pai e mãe), datas de nascimento, dos cuidados sanitários que lhe foram administrados durante sua existência, pesos em determinadas idades, data de desmama, mineralização, empastamento, e, enfim, todo o histórico de sua existência, complexidade já requisitada por alguns destinos de exportação e que só organização centralizada e com programa de extensão rural efetivo e atuante, como será o caso da Cooperocarne, poderá produzir;

e) Planta frigorífica de última geração, adequada aos mais rígidos padrões internacionais, projetada com esse respeito e não fruto de adaptações e remendos;

f) Propriedade da marca comercial “NELORE NATURAL”, que assegura demanda superior à capacidade de produção do frigorífico, à preços diferenciados daqueles obtidos pela concorrência no mix do seus produtos (não são capazes de gerar grande concentração de Nelore Natural em seus currais de abates).

h) Dispor, ao início de suas atividades, de nicho identificado de mercado, já testado e parcialmente suprido, com enorme potencial de expansão, cujo suprimento é justamente a nossa vocação enquanto pecuaristas;

i) Contar com a enorme motivação que o lançamento da idéia de criação da Cooperocarne gerou no meio da classe pecuarista, que se materializou pela presença surpreendente de mais de trezentos produtores na assembléia de fundação da cooperativa. Esta motivação e entusiasmo vêm sendo crescentes e a adesão à idéia de produzir em contexto de padronização de procedimento tem merecido apoio irrestrito de todos os cooperados e daqueles em processo de filiação.

Apenas, para consolidar tudo o que foi exaustivamente abordado, podemos consubstanciar nosso propósito na Máxima: “nada é mais irresistível que uma idéia que chegou a hora”. Pra nós, produtores de Nelore de Rondônia, chegou a hora, sem sombra de dúvidas.

Finalmente, queremos sublinhar que a Cooperocarne não construirá mais um frigorífico; construirá, isso sim, um novo conceito de verticalizar a produção de carne, objetivando colocar a disposição do consumidor mais exigente do mundo um produto que preencha todas as suas expectativas.

Como ser cooperado

O produtor para ser sócio deverá comprar cotas proporcional ao que ele pretende utilizador do frigorífico, isso é:


O cronograma das obras da Cooperocarne é o seguinte:

Tabela 2: Cronograma das atividades para a construção da Cooperocarne

Clique aqui para visualizar a tabela

O produtor ainda pode optar pelo tipo de pagamento.


_________________________
1Oberdan Pandolfi Ermita (Doutorando em Economia), Alexandre Foroni (Zootecnista), Euvaldo Foroni (Médico Veterinário), Carlos Terra Ferreira (Economista) e Anderson Borges (Médico Veterinário) são integrantes da Método Consultoria Agropecuária, empresa sediada em Pimenta Bueno/RO

4 Comments

  1. Elica Aparecida Silva disse:

    Parabéns aos rondonienses pela iniciativa.

    É uma idéia inovadora que tem tudo para dar certo, sobretudo considerando que estarão livres das imposições dos frigoríficos que não valorizam a qualidade da carne como deveriam, pois não participam de toda a cadeia produtiva.

    Essa integração da cadeia produtiva vai surtir, certamente, efeitos no mercado e na produção, pois será possível medir as necessidades do mercado e melhorar a produção a fim de atendê-las, sem contar a possibilidade de padronização.

  2. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Senhores:

    Belas idéias, grandes planos, muito idealismo,muitos sonhos. Já foi tentado antes, mais de uma vez, e não funcionou. Dificilmente funcionará agora. Porque? Muito simples: cada sócio um voto não dá. Teria que ser cada quota um voto! Já aconteceu no cooperativismo dos EU., que só teve sucesso depois que fizeram o poder decisório proporcional ao capital investido. Já aconteceu aqui com a Coop.Cotia, a Sul Brasil e outras: acabam sendo dominadas por uma “maioria inespressiva”, com votos, mas sem dinheiro! O mundo é assim, como dizia Curchill: o capitalismo é o pior sistema, até que se compare com os outros.

    Bravo, meus amigos de RO! Vão em frente, mas…sem muitas ilusões.

    Grande abraço.

  3. Sivaldo Barbosa Goes disse:

    Pimenta Bueno está de parabéns!

    Por aqui a iniciativa privada está atenta às necessidades do meio. Não devemos esperar por atitudes governamentais ou ideologias políticas baseadas no “toma lá da cá”. Todos nós devemos “arregaçar as mangas ” e tomarmos iniciativas.

    Iniciativa como esta da Cooperocarne, se tornou uma das alternativas mais positivas para o desenvolvimento político, econômico e social de um Município, Estado e País.

    Observamos, países como Alemanha, Espanha e outros da Europa, com 70% do seu PIB oriundos de cooperativas, será que eles erraram?

    Parabéns aos idealizadores e associados de Pimenta Bueno, Cacoal, Espigão D’oeste, Rolim de Moura, Alta Floresta e outros.

  4. Mirian Yokoyama disse:

    Prezados Senhores,

    A Cooperocarne vem para dar um novo rumo aos pecuaristas da regão, pois muitos ainda não tem controle se perdem ou ganham com essa atividade.

    Parabéns a todos que fazem parte desse projeto. Isso mostra que Rondônia e principalmente Pimenta Bueno tem um grande potencial a ser explorado.