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Corrida contra o tempo

Por Luiz Meneghel Neto1

Nos últimos dias, a Secretaria de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou dados que mostram o bom desempenho das exportações do agronegócio no primeiro quadrimestre de 2003. As vendas externas do complexo carnes apresentaram, novamente, um crescimento percentual significativo de 23,5%, ou seja, saltaram de US$ 200 milhões em abril de 2002 para US$ 247 milhões no mesmo período deste ano.

Entretanto, observa-se no mercado interno que a remuneração para o produtor rural, pelo incremento desta produtividade, está aquém do esperado. Acredito que a situação poderia ser diferente se algumas ações fossem implementadas no setor.

Portarias como a criação do Sistema Nacional de Tipificação de Carcaças e Padronização dos Cortes de Carne Bovina foram idealizadas há mais de uma década e, até o momento, não saíram do papel e tampouco foram levadas a sério pelo Governo Federal.

Nos Estados Unidos, Austrália, Japão e Canadá, os sistemas de avaliação e classificação de carcaça já são empregados com bastante êxito. Apesar de algumas diferenças entre os critérios utilizados nos programas de tipificação destes países, um ponto muito marcante e comum predomina em todos: há a seleção de carcaças de acordo com as exigências do mercado consumidor, sendo que em contrapartida, ocorre uma remuneração diferenciada ao criador.

Sem mencionar ainda outras vantagens como a credibilidade do sistema com o uso correto de programas de controle de qualidade e padronização dos tipos de carne, e a possibilidade do setor pecuário em oferecer um produto que possa atender e se enquadrar ao poder aquisitivo do mercado consumidor.

Por que, no Brasil, o preço da carcaça de uma fêmea é inferior ao do macho? Por que a carcaça de uma novilha – com o mesmo padrão de qualidade de carne de um boi – é comercializada de forma idêntica a de uma vaca? Se no mercado consumidor não constatamos a diferenciação, quem está se beneficiando disso? Será que a efetivação de sistemas, como os citados acima, não poderiam facilitar o trabalho dos frigoríficos e, ao mesmo tempo, propiciar uma redução de custos para o produtor e um preço mais justo para o consumidor com a oferta de um produto de alta qualidade?

Em 2002, pesquisa realizada por técnicos da Gestoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Gipoa) do Iagro de Mato Grosso do Sul – Estado com o maior rebanho bovino comercial do país – apontava que mais de 20 mil toneladas de carne são consumidas anualmente sem fiscalização sanitária. De 420,8 mil bovinos abatidos anualmente, em 77 municípios do MS, 41% são clandestinos, colocando em risco a saúde da população. Será que a adoção de um sistema nacional de tipificação de carcaça e padronização de carne, não facilitaria a fiscalização sanitária das instituições federais e estaduais? O controle tributário não seria mais eficaz?

Outro detalhe interessante, por que não aproveitamos a experiência observada com os programas de qualidade de carne, como o Nelore Natural, o Montana, o Ana Paula e o Beef Tropical, entre outros, para colaborar na efetivação do processo? Associações de Criadores, representantes das indústrias frigoríficas, e outros profissionais do setor pecuário também poderiam dar a sua contribuição.

Volto a afirmar, se queremos nos tornar o maior exportador mundial de carnes, em breve, sem descuidar de um eficiente abastecimento do mercado interno, temos que nos atentar para os fatores aqui descritos. Caso contrário, vamos cometer um retrocesso tecnológico. Sabemos que temos a competência para implantarmos, o mais rápido possível, um sistema nacional de tipificação de carcaças e padronização de carnes que se adapte à realidade brasileira. Basta apenas querer, e um pouco de vontade das instituições governamentais.

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1Luiz Meneghel Neto é presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Limousin

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