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Cotação da arroba do boi está 16% menor que em 2004

Uma queda de braço silenciosa está sendo travada nos bastidores da pecuária brasileira. De um lado estão os criadores de gado, que reclamam do preço pago pelos frigoríficos pela arroba do boi gordo. Na outra ponta as grandes empresas que abatem os animais defendem-se dizendo que o preço é regido pela lei da oferta e da demanda.

A reclamação dos pecuaristas é antiga, mas o grito mais recente baseia-se em estudo realizado pela CNA e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). A pesquisa mostra que hoje o valor médio pago pela arroba no Brasil é de R$ 50, preço 16,66% menor do que o de maio de 2004, quando a cotação era de R$ 60. Ontem, no Paraná a arroba foi negociada a R$ 52 e a R$ 55 em São Paulo, mercado que rege a cotação do boi em todo o país.

“Somos um dos maiores exportadores de carne do mundo e estamos passando por uma das piores crises da história do setor no Brasil”, apontou o pecuarista Otávio Dias Chaves, conselheiro da Sociedade Rural de Maringá. Dono de um rebanho de 700 cabeças, Cambará, como é conhecido no meio rural, disse que a pecuária é um negócio de alto risco, um investimento de longo prazo que está nas mãos dos grandes frigoríficos. “Os donos de frigoríficos são poucos, mas são muito unidos e definem o preço da arroba”, afirmou.

Chaves disse que a baixa rentabilidade e o aumento dos custos de produção podem comprometer a oferta de animas nos próximos anos. Segundo ele, nos últimos meses, houve um abate considerável de fêmeas em razão da desistência dos pecuaristas em continuar investindo na criação dos animais. “Daqui mais ou menos 36 meses, pode haver diminuição de oferta de animais para engorda”, afirmou.

O gerente do frigorífico Centro Oeste, Ivon Carlos, rebateu a afirmação de que o mercado pecuário está nas mãos dos frigoríficos e ressaltou que o preço da arroba é regulado pelo mercado. “Existe uma oferta de carne muito grande. A cada ano a produção de bois aumenta e nossa população não consome tudo por causa do baixo poder aquisitivo. O pecuarista imagina que a empresa está ficando com todo o dinheiro do boi dele, mas não é isso não”, respondeu.

De acordo com o estudo realizado pela USP e pela CNA, o consumo de carne bovina no Brasil é de 36 quilos por habitante por ano.

Para a veterinária e consultora da Scot Consultoria, Maria Gabriela Tonini, a discussão não pode deixar de lado a atuação das grandes redes de supermercados. “As grandes redes varejistas ficam com a maior parte do lucro. O preço da carne no atacado e no varejo tem uma diferença muito grande”, afirmou.

Estimativa realizada pela veterinária mostra que um carregamento de carne que saí do frigorífico por R$ 500 chega ao varejo custando R$ 830.

Alianças

O zootecnista e coordenador do curso de gestão de agro-negócio do Cesumar, Luiz Gonzaga, entende que o preço da arroba também é influenciado pela falta de organização dos criadores de gado. “O boi é um mercado desorganizado e por isso está sofrendo a falta de organização da categoria. Na bovinocultura, cada um tem um padrão, uma tecnologia. Além disso, é um setor que tem baixa produtividade ainda, entre 0,5 e 0,8 unidade animal por hectare/ano”, justificou.

O professor atribui à falta de organização o motivo para o surgimento das alianças mercadológicas, grupos formados por pecuaristas que têm o objetivo de aumentar o poder de barganha dos criadores no mercado da carne. Um exemplo de aliança mercadológica é a Aliança do Novilho Precoce, criada em maio de 2003 por seis pecuaristas de Maringá. Eles se uniram e criaram uma marca para comercializar a produção, a Blue Beef Carnes Nobres . “A gente produz um animal diferenciado, de qualidade, controla a idade do abate, gordura e maciez da carne. Além disso, terceirizamos o frigorífico e encaminhamos direto ao varejo”, explicou Heriton Fanhani, da Blue Beef.

Ele disse que a aliança possibilitou negociar o preço diretamente com os compradores, mas, por outro lado, os custos de produção aumentaram porque os pecuaristas ficam com a responsabilidade do abate, da refrigeração e da entrega. “O resultado ainda não é satisfatório, porém acreditamos que aumentando o número de animais abatidos poderemos ampliar nossa margem de lucro”, considerou o pecuarista.

A formação de alianças mercadológicas na pecuária também é apontada como alternativa pelo conselheiro da Sociedade Rural de Maringá. “O produtor precisa ser mais unido. Se as entidades rurais se fortalecerem, os pecuaristas podem oferecer quantidade e qualidade ao mesmo tempo. Isso provocaria o surgimento de cooperativas e empresas que eliminariam os intermediários”, ponderou.

Outra saída para a crise apontada por ele é a classificação dos animais cuja carne é destinada ao mercado externo. “Nós temos um bom produto, mas ele não é diferenciado. Estamos exportando quantidade e não qualidade. Nosso preço é competitivo, mas quem paga por ele é produtor, já que recebemos pela quantidade e não pela qualidade”, concluiu.

Fonte: Diário de Maringá/PR (por Fabrício Azambuja), adaptado por Equipe BeefPoint

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