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Couro apresentou queda de 36% no preço em 6 meses

Preço baixo e oferta abundante são os atrativos que a indústria do couro indica como contrapontos da produção brasileira à maré recessiva antecipada pelos ataques terroristas cometidos contra os Estados Unidos no último dia 11. Ao invés das altas explosivas registradas em meados do semestre passado, os preços do couro vêm caindo acentuadamente desde junho, devido à retração na demanda pelo material por parte de grandes fabricantes de roupas e sapatos, como a Nike, diz Arnaldo José Frizzo Filho, diretor superintendente da Braspelco, de Uberlândia (MG), líder nas exportações brasileiras de couro.

Segundo Frizzo Filho, durante o primeiro semestre – sobretudo em março e abril, quando o ‘wet blue’ (couro no primeiro estágio de curtimento) foi vendido em média a US$ 52 a peça – o preço dos melhores materiais sintéticos, à base de derivados de petróleo, valia 80% da cotação do couro. Com recuo de 36% nos preços, retornando ao patamar médio de 2000, em torno de US$ 34, o couro brasileiro voltou a ser um dos mais competitivos do mundo. “Os melhores sintéticos já são vendidos mais caros que o couro.”Segundo Frizzo Filho, a desvalorização do real em relação ao dólar aumenta ainda mais o preço no Brasil dos materiais sintéticos, geralmente importados.

Para empresários do setor, o preço atraente do produto brasileiro levará estilistas a, novamente, introduzir o couro, em projetos de roupas e calçados para a estação primavera/verão, no Hemisfério Norte. Com o encarecimento do material de origem bovina no primeiro semestre, muitas empresas substituíram couro por sintéticos na confecção de roupas, sapatos, bolsas e estofados.

No entanto, o quadro recessivo nas economias desenvolvidas, antecipado pelos atentados terroristas do último dia 11, provoca insegurança entre executivos do setor. Cerca de 55% dos 32 milhões de couros retirados de bovinos abatidos, anualmente, no Brasil, são exportados.

Confiante no fator preço, na valorização do dólar e no incremento das exportações de couros mais elaborados, por causa do imposto de 9% sobre os embarques de ‘wet blue’, Frizzo Filho mantém a projeção de que a Braspelco fature, este ano, R$ 400 milhões – cifra 67% superior à obtida em 2000. Entre 70% e 80% dessa receita será conquistada com as vendas externas.

Bertin

Após os ataques terroristas aos EUA, houve uma redução no período dos pedidos, pelos importadores, o que levou a Bracol, divisão de couro do grupo Bertin, o maior exportador brasileiro de carne bovina, a reduzir a produção diária de couros, em torno de 10 mil/dia, em 20%, segundo informa Mário Bertin, diretor da área coureira. Normalmente, o importador encomenda sua solicitação 40 dias antes do embarque. Agora, depois dos atentados, os pedidos são feitos só com 15 dias de antecedência.

O temor do Bertin é que os EUA provoquem um efeito dominó no mercado. Como maior consumidor de artigos de couro, os EUA podem cancelar negócios com a Europa, destino de 43% das exportações brasileiras entre janeiro e julho, quando somaram US$ 496 milhões, ou 23% a mais que o mesmo período de 2000.

Com o corte na produção, o Bertin está reduzindo a oferta de couro no mercado interno para atender o exterior. Apesar das preocupações, o executivo do Bertin mantém a estimativa de exportar US$ 80 milhões a US$ 90 milhões em 2001, quase metade dos US$ 180 milhões previstos no faturamento total do grupo na venda de couros ‘wet blue’ e mais elaborados (semi-acabado e acabado).

Exportações

Para Augusto Sampaio Coelho, presidente do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), não há motivo para revisões nos números de exportação projetados para este ano. O CICB estima exportações este ano de US$ 850 milhões em couros, 12% mais do que em 2000, quando o setor embarcou US$ 760 milhões. O crescimento será assegurado pela valorização dos preços do couro, no primeiro semestre, com a expectativa de queda nos abates de gado na Europa, com a crise da ‘vaca louca’ e da febre aftosa e, pelo aumento nas vendas de produto semi-acabado e acabado, de maior valor agregado, motivado pela taxação das exportações de ‘wet blue’, em vigor desde dezembro.

Para empresários do setor, entretanto, a disparada nas cotações foi causada mais por fatores psicológicos do que por escassez de matéria-prima. Segundo Coelho, a oferta de couros na Europa diminuiu só 5%, sem comprometer o suprimento do produto.

Fonte: Gazeta Mercantil (por José Alberto Gonçalves), adaptado por Equipe BeefPoint

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