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Credibilidade, condição primordial para abrir e manter mercados

Vamos voltar ao tema de credibilidade em termos de marca, de origem e de competição leal tanto em termos de mercado interno como mercado externo.

No caso da cadeia da carne bovina, anterior ao lançamento da marca “Brazilian Beef”, comenta-se em conversas reservadas que vários episódios condenáveis ocorreram em exportações, que provavelmente tiveram influência negativa sobre o conceito da carne brasileira por parte dos consumidores dos países importadores. Com o lançamento da marca esperava-se que esses episódios não voltassem a ocorrer, pelo menos no curto prazo.

No início desse mês circulou notícia que o Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar dos Estados Unidos anunciou a retirada dos supermercados de carne cozida enlatada (corned beef) de origem brasileira. O motivo da retirada está relacionado com a rotulagem errada, isto é, omissão de informação de alguns ingredientes conforme exigência da legislação. Aparentemente, além dessa omissão parece que foram constatados também casos de inclusão de alguns desses ingredientes em níveis acima dos permitidos. Em quaisquer dos casos, provavelmente ocorrerá devolução dessas partidas que não atendem às exigências da legislação do país importador.

Embora, felizmente, aspectos sanitários não tenham sido a causa dessa retirada, do ponto de vista de credibilidade, nossos produtos da cadeia da carne sofreram novo golpe, o que é muito lamentável, pois as principais empresas frigoríficas do país estão envolvidas no caso. Como conseqüência, demos chance para os americanos anunciarem nova vistoria para verificar as condições sanitárias de todos os exportadores nacionais habilitados a vender para o mercado americano.

Fraudes não ocorrem somente no comércio de carne bovina. Notícia sobre fraude em carne de aves (peito de frango) importada pelo Reino Unido está na internet. A fraude consistiu em injetar proteína hidrolisada que tem a característica de reter água para aumentar o peso. Embora a técnica de injeção de proteína hidrolisada e alguns aditivos não sejam ilegais, é ilegal e constitui fraude não incluir no rótulo a origem e as quantidades de todos os ingredientes usados. A maioria das amostras com omissão das informações era proveniente da Noruega e tinha sido importada de outros países, incluindo Brasil e Tailândia. Mais uma vez o nome do nosso país aparece de forma depreciativa.

Esse tipo de comportamento caracteriza claramente competição desleal, isto é, são usados subterfúgios ilegais pela omissão de informações para baratear o custo e aumentar o lucro, mesmo vendendo a preços menores. É mais um argumento para levantar barreiras no mercado internacional, além dos problemas de credibilidade mencionados anteriormente.

Existem suspeitas que a técnica de injeção de proteína hidrolisada pode estar sendo usada em carne bovina comercializada no mercado interno. Embora do ponto de vista sanitário possa não haver maiores problemas, o seu uso deveria ser severamente proibido ou regulamentado e fiscalizado também severamente. Além da concorrência desleal entre os agentes, levando vantagens os mais ousados e mais confiantes na impunidade, tem o lado do consumidor que está comprando e consumindo um produto com características e com valor nutricional diferentes daqueles que seriam normais e esperados. Para se ter uma idéia, no caso do peito de frango ocorrido no Reino Unido mencionado acima, foi constatado DNA de suínos em algumas amostras, e que em alguns casos somente 54% era de fato peito de frango, o restante do peso sendo constituído de água e proteína hidrolisada adicionada pelos processadores.

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