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Credibilidade em baixa

Os agentes do Governo Federal diretamente envolvidos no planejamento e na execução dos programas do agronegócio nacional foram, desde o início do Governo do Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dominados pela impulsividade.

A meu ver, tal limitação estratégica – que compromete o presente e o futuro do agronegócio – nem sempre foi conduzida pelo sentimento deliberado de se prejudicar o setor que mais contribuía para a formação do Produto Interno Bruto (PIB), até o presente ano, mas sim por um desejo doentio de um amanhã melhor, desde já. Mal este que todos nós brasileiros sofremos – a tentativa de se alcançar, a qualquer custo, o que o futuro nos promete ao natural.

O PIB agropecuário, divulgado na semana passada pelo IBGE, registrou queda de 3,5%, vis-a-vis o trimestre anterior. De acordo com o Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, “o ano de 2005 termina negativo para a agropecuária, com perdas totais de US$ 21 bilhões”. Acrescentou o Senhor Ministro: “2005 foi um ano de prejuízos inesperados, como o surto da febre aftosa…”.

A impressionante e invejável capacidade que esta gestão vem arregimentando no campo da improvisação, demonstra incoerência sobre os seus problemas que passou a permear sua equipe de uma forma inconscientemente deliberada e sistemática de abstrair o que pode claramente ser evidenciado no presente e que já era previsto no passado: o seu colapso.

Ao Ministro Roberto Rodrigues, que noticiou acreditar no término da crise do agronegócio, em 2006, e que ao assumir a sua Pasta vislumbrava ser reconhecido como o melhor Ministro da Agricultura que o Brasil já teve, resta-me citar Guimarães Rosa: “O tempo é o mágico de todas as traições”.

Programar o futuro sem metas tangíveis e análises concretas, envolve antecipar conseqüências e problemas. A questão é que ao longo do tempo e no conflito de idéias e teses que a atual administração federal se encontra, o desejo e a ação de um ou mais dos seus integrantes estão sujeitos a interferências, golpes e reviravoltas.

Não bastasse todos os problemas já enfrentados ao longo dos três anos do governo petista, na edição do dia 1o de dezembro corrente, o Jornal Valor Econômico anuncia como “crise sanitária” a possibilidade de a União Européia “ampliar o veto à carne bovina do País”.

A análise que se segue distancia – de certa forma – da linha de raciocínio dos meus últimos artigos por uma razão bem simples: deixa de ser uma crítica, por vezes construtivas, para tornar-se realidade inconteste.

Temos que ter consciência do momento que o agronegócio, em particular, a pecuária enfrenta neste momento. A questão de se o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não tem verbas, estrutura, organização adequada deixa o campo da discussão e inação e abre espaço para o campo da ação.

As inconsistências do Ministério, espancadamente noticiadas, de conhecimento e teor público prejudicam severamente a imagem do País no exterior. A alta administração do Ministério e do País devem assumir suas responsabilidades e cumprir com as suas obrigações.

A falta de liderança está acarretando em primeira instância a falta de comprometimento do Estado em relação ao agronegócio – um duro golpe em todas as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro – em segunda instância problemas de ordem econômica e social e, em último lugar a perda da credibilidade do Brasil no exterior.

Como já venho alertando: “foi construída a duras penas”. Adquirir confiança internacional é um exercício trabalhoso, intrigante, porém altamente recompensador. Restabelecer confiança perdida envolve a eterna desconfiança e a constante necessidade de se convencer a outra parte de que lesões e arranhões passados não mais ocorrerão. Além de envolver muito trabalho, nos coloca (Brasil) em uma situação de subordinação vergonhosa e nada re-compensatória.

O que me surpreende em toda essa tergiversação é que, apesar de as medidas discricionárias do Governo Federal minarem a confiança dos nossos parceiros internacionais, ainda há no mercado internacional demanda por efetivação de crédito.

Por fim, comento a declaração do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de que “agricultura é uma atividade que tem ciclos econômicos naturais”. De fato, a atividade agrícola envolve ciclos de declínios e crescimentos ao longo da sua trajetória, mas não em todas as culturas. Por exemplo, se analisarmos culturas como soja, milho e algodão, além do complexo carnes nos últimos seis anos verifica-se um aumento comportado de crescimento na sua produção e exportação.

O que não se pode é confundir ciclos produtivos inerentes ao setor – por vezes afetados por variáveis climáticas e por medidas econômicas restritivas – com o ciclo de inação governamental, que compromete determinadas cadeias produtivas, formando um arco que as leva do auge ao declínio.

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