O volume de crédito rural concedido pelo sistema financeiro neste Plano Safra, entre julho de 2022 e fevereiro de 2023, chegou a R$ 240 bilhões. O montante é 24% maior que o do mesmo período da temporada anterior, quando as liberações foram de R$ 198,2 bilhões, de acordo com dados do Banco Central consultados e compilados pelo Valor no dia 6 de março.
As linhas de custeio, que cresceram 42% nesses oito meses, alcançando R$ 146 bilhões, continuam a puxar o avanço. Já as operações de investimentos acumulam alta de 4% em relação à temporada passada – até fevereiro, as liberações foram de R$ 65,2 bilhões.
O número de contratos, no entanto, segue menor do que de 2021/22: foram 643,1 mil nos oito primeiros meses do atual ciclo e 729,6 mil no anterior. No mês passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reabriu algumas linhas para investimentos, que tinham saldo de R$ 2,9 bilhões e esgotaram-se em poucos dias.
O desembolso para industrialização segue em ritmo parecido com a temporada passada, com R$ 11,3 bilhões. Já os empréstimos para comercialização caíram para R$ 17,3 bilhões.
Boletim do BC mostra o aumento das taxas médias de juros pré-fixadas que têm sido operadas pelos bancos e cooperativas de crédito nas linhas do Plano Safra 2022/23. No Pronaf, para a agricultura familiar, a alíquota saiu de 3,9% para 5,8% ao ano nos programas abastecidos com recursos obrigatórios. Naqueles cuja fonte é a poupança rural com subvenção, o índice passou de 4,2% para 5,8% ao ano.
No Pronamp, para os médios produtores, as taxas das operações saíram de 5,5% para 8% ao ano, nas linhas com recursos obrigatórios, e de 5,6% para 8% ao ano, nos programas com poupança rural e equalização do Tesouro Nacional. Grandes produtores têm pagado 11,7% e 11,9%, em média.
Os juros médios das linhas abastecidas com Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que foram de 7,9% em 2021/22, agora estão em 13%. Nos programas com recursos livres, as taxas estão, em média, a 13,3% ao ano. Ontem, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse no Rio Grande do Sul que os juros para o setor agropecuário precisam cair.
“Temos uma inflação controlada, temos índices de crescimento reduzidos e as contas públicas sob controle. Por isso, é possível a redução das taxas de juros para que possamos criar um novo programa de investimento”, disse na abertura da Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS).
O boletim do BC mostra ainda que o endividamento dos beneficiários do crédito rural no Sistema Financeiro Nacional tem crescido. Em novembro de 2022, as dívidas eram de R$ 560,6 bilhões, ou 11,8% do total das operações de crédito. O setor produtivo do Rio Grande do Sul tem cobrado do governo uma solução mais efetiva para a situação dos agricultores e pecuaristas gaúchos que estão nessa situação por causa das perdas com as estiagens nos últimos anos. As medidas anunciadas até agora são consideradas insuficientes.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) espera a concessão de desconto de 35% nas parcelas de financiamento vencidas, vincendas ou prorrogadas, além da prorrogação do vencimento das prestações deste ano do custeio pecuário e de investimento do Pronaf e Pronamp. A entidade também pede crédito especial aos pequenos produtores.
Fonte: Valor Econômico.