Fechamento 11:57 – 02/04/02
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4 de abril de 2002

Crescem vendas externas de couro acabado

Curtumes brasileiros investem em tecnologia para atuar em mercados mais remuneradores

A taxação em 9% para as exportações de couro wet blue ocorrida no ano passado teve no primeiro bimestre de 2002 seus resultados mais significativos. No período as exportações de couro acabado obtiveram crescimento de 73% em volume e somaram 383,4 mil peças, com um aumento de 75% em receita em comparação aos dois primeiros meses do ano passado, totalizando US$ 35,3 milhões. O resultado foi superior se comparado às exportações consolidadas do Brasil de janeiro e fevereiro deste ano, que registraram queda de faturamento de 7%, para US$ 71,4 milhões.

Curtumes como o Arthur Lange, do Rio Grande do Sul, e o Bermas, do Ceará, optaram por reativar antigas unidades e investir em tecnologia para intensificar a atuação nesse mercado, que remunera com preços bem melhores. Outras empresas estão passando de importadoras da matéria-prima brasileira para produtoras, como é o caso da italiana Mastrotto, que investe em uma unidade na Bahia.

Na outra ponta, curtumes que não buscaram ingressar no processamento de couro acabado sentiram os efeitos das quedas nas vendas externas. As exportações do couro wet blue obtiveram queda na receita de 14%, para US$ 63,7 milhões e aumento de 15% em volume, totalizando dois milhões de couros. O semi-acabado (crust) teve redução ainda maior, de 43% em receita, com US$ 31,1 milhões e 57% em volume, para um milhão de unidades. “A brusca redução dos números referentes aos semi-acabados não reflete sua situação no mercado, pois no ano passado muito couro wet blue foi exportado para o Uruguai oficialmente como crust. Tratou-se de um golpe com objetivo de livrar o couro da taxação de 9%”, informou o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Augusto Sampaio Coelho.

A queda geral dos negócios internacionais com couro, diz ele, é conseqüência da grande alta especulativa dos preços, ocorrida no ano passado. “Rumores de que haveria falta da matéria-prima na Europa por conta da incidência das doenças da “vaca louca” e da febre aftosa fizeram com que as cotações internacionais disparassem a partir de abril de 2001 em quase 100%. Para driblar o aumento do custo, indústrias de setores como o calçadista e o mobiliário substituíram parte de suas necessidades com sintéticos”, diz Coelho.

Após a baixa dos preços, ocorrida a partir do segundo semestre do ano passado, as indústrias retomaram os planos de aumentar a compra de couro, o que deverá ocorrer a partir da próxima semana durante a feira de Hong Kong. Coelho confirmou que curtumes que processam basicamente wet blue não passam por um bom momento. As cotações caíram em dólar mais de 25%. Em reais, a queda é ainda maior, na medida em que a moeda brasileira valorizou-se em relação à americana.

Apesar do resultado do primeiro bimestre, ele mantém a previsão de crescimento das exportações de couro em 20% este ano, chegando a US$ 1 bilhão. “O mercado já dá sinais de aquecimento”, disse.

Empresas especializadas no processamento de couro acabado como a Arthur Lange, localizada em Turuçu (RS), vivem momentos de alta. O diretor geral, Amadeu Fernandes, afirmou que não foi apenas a taxação do wet blue que tornou o produto acabado mais competitivo, mas a demonstração de que o Brasil possui tecnologia e capacitação para produzir um produto de qualidade. “Temos muito espaço para crescer no mercado internacional”, diz. O curtume elevou suas exportações do primeiro bimestre em 30%, para 51 mil couros, destinados para as indústrias mobiliárias e automotivas dos EUA, Europa e Ásia. No ano passado, já contabilizava crescimento de 48%.

A empresa reativou algumas unidades e elevou, em 2001, sua capacidade de processamento de 33 mil para 45 mil couros/mês e hoje trabalha com apenas 5% de ociosidade. Fernandes informou que o curtume pretende adquirir maquinário, este ano, para ampliar a fábrica.

Um novo projeto também promete contribuir para firmar a condição do Brasil de importante exportador de couros acabados. A gaúcha Reichert Calçados formou com a Mastrotto uma joint venture que prevê a construção de um curtume em Cachoeira (BA) com capacidade de 1,44 milhão de peças/ano a partir de 2004. Deste total 80% será exportado. O investimento é de R$ 77,7 milhões.

Fonte: Gazeta Mercantil (por Luciana Moglia), adaptado por Equipe BeefPoint

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