O peso de abate depende da nutrição, genética, idade do animal, tipo de manejo adotado, e principalmente da exigência do mercado. Muitos ainda acreditam que o abate de animais extremamente pesados melhora a rentabilidade do sistema, o que pode ser uma falsa impressão. O abate de animais muito pesados e com gordura em excesso pode afetar de maneira negativa, tanto pelo aumento de aparas e diminuição do rendimento dos cortes cárneos, como pela menor eficiência de conversão (kg de ganho/kg de alimento ingerido), aumentando o custo de produção.
Para facilitar o entendimento de como o peso para o abate pode afetar o sistema, é preciso entender a evolução da composição do ganho do animal nas diferentes fases de crescimento e acabamento, e a eficiência com que cada tecido é depositado. Conforme o animal vai se aproximando do peso adulto ou de abate, a porcentagem de gordura no ganho aumenta, enquanto que a da proteína a diminui (gráfico 1). Após atingir o máximo do desenvolvimento da massa muscular, o ganho passa a ser composto basicamente de gordura.
Em termos de energia (Mcal depositada/Mcal ingerida) a deposição de gordura na carcaça é mais eficiente que a de proteína, pois 60% da energia consumida é retida na deposição de gordura, comparada com retenção de 35% para proteína. Por outro lado, a deposição de proteína é mais eficiente em termos de peso de tecido depositado (tabela 1). Isto ocorre pois para cada unidade de proteína depositada cerca de três unidades de água são depositadas em associação, formando o músculo.
Grafico 1: Relação do estágio de crescimento com a % de proteína e gordura no ganho, e a % gordura no corpo vazio de bovinos de corte de tamanho corporal médio com ganho diário de 1 kg no peso vazio. Adaptado NRC (1996).
Tabela 1: Eficiência de deposição de energia e tecidos
Em outras palavras, animais quando abatidos além da composição corporal considerada ideal para um determinado mercado, apresentam menor eficiência (kg de ganho/ kg MS consumida), implicando em maior consumo de alimentos, e consequentemente maiores custos. Esse é um aspecto importantíssimo em termos de competitividade.
Tais afirmações podem ser compreendidas de maneira mais prática em trabalho realizado no Instituto de Zootecnia, onde o desempenho e o rendimento de cortes comerciais de bovinos da raça Nelore e seus cruzamentos, abatidos em diferentes pesos (430, 470 e 530 kg PV em jejum) foram avaliados (Maldonado et al. 2002).
Tabela 2: Abate de bovinos de corte em diferentes pesosa.
O aumento no peso de abate dos animais (tabela 2), obviamente propiciou carcaças mais pesadas, porém com maior tempo de confinamento e piora na conversão alimentar, pela menor eficiência no ganho, que foi basicamente de gordura. Observou-se um aumento significativo na gordura corporal com tendência de diminuição do rendimento das porções comestíveis.
Outro ponto que merece atenção, é que ao abater animais com 21@ foram necessários 90 dias a mais de confinamento do que os animais abatidos com 17 @. O total de alimento consumido foi de 1,8 vezes a mais para produzir apenas 4@ a mais. Se neste sistema os animais fossem abatidos com 17@, seria possível, com o mesmo custo de alimentação, terminar 2 animais, produzindo mais 17@.
Na tabela 3 é possível observar tendências em diminuição do rendimento dos cortes comerciais (em percentagem da carcaça) com aumento no peso de abate , pois a maior proporção de gordura na carcaça “dilui” a de músculo, e quando o seu excesso é aparado diminui a fração aproveitável da carcaça .
Tabela 3: Rendimento de corte tradicionais de bovinos abatidos em diferentes pesos
As diferentes raças bem como os tipos biológicos apresentam pesos de acabamento diferenciados (veja radar Tipos Biológicos de bovinos para produção de carne). Na tabela 4 é possível observar as diferenças entre três raças abatidas com o mínimo de 4,5 mm de gordura medidos pelo ultrasom. Animais com maiores taxas de crescimento e maior peso à maturidade (Canchim) apresentaram menor proporção de gordura, atingindo o acabamento pretendido com maior peso.
Tabela 4: Características de Carcaça de diferentes grupos genéticos* abatidos com o mínimo de 4,5mm de gordura
Para um mesmo acabamento, pesos de abate também variam em função do sexo do animal (inteiros, castrados ou novilhas), do uso ou não de esteróides anabolizantes.
O peso e o acabamento recomendados para o abate devem ser estabelecidos com base nas exigências de mercado, explorando os conhecimentos disponíveis em termos de manejo nutricional e de recursos genéticos. É obvio que cada produtor deve usar as alternativas mais lucrativas para as suas condições.
Literatura Consultada
ALLEONI, G. F.; LEME, P. R.; BOIN, C; DEMARCHI, J. A. A.; et al. Composição química corporal e taxas de deposição dos constituintes químicos do corpo vazio em bovinos das raças Nelore, Canchim e Brangus. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais… 2002. Cd-Room.
MALDONADO, F. ; ALLEONI, G. F. ; QUEIROZ, A. C.; et al. Características da carcaça de bovinos de três grupos genéticos terminados em confinamento e abatidos em três categorias de peso. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais… 2002. Cd-Room.
MALDONADO, F.; QUEIROZ, A. C.; ALLEONI, G. F.; et al. Composição física e rendimento dos cortes comerciais da carcaça de bovinos de três grupos genéticos terminados em confinamento e abatidos em três categorias de peso In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais… 2002. Cd-Room.
MALDONADO, F.; QUEIROZ, A. C.; ALLEONI, G. F.; et al. Consumo, ganho de peso e conversão alimentar de bovinos de três grupos genéticos, terminados em confinamento e abatidos em três categorias de peso. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais… 2002. Cd-Room.
NRC. National Research Council of Beef Cattle. 1996. 7a ed.
1 Comment
Show, trabalho na área e gosto muito de adquirir conhecimentos! Agregou bastante pra mim. Abraços!