Conhecida como o principal palco das raças bovinas de corte do Rio Grande do Sul, a feira agropecuária Expointer, em Esteio (RS), presencia o crescimento da participação de um animal mais associado à Amazônia, especialmente a Ilha de Marajó, no Pará: o búfalo.
Em 2023, houve um aumento de 275% na inscrição de bubalinos na feira, passando de 16 animais em 2022, das raças Mediterrâneo e Murrah, para 60 neste ano. No caso do Murrah, o aumento chegou a 616%, com 43 animais inscritos.
Desireé Möller, presidente da Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu), atribui este número ao trabalho de valorização dos produtos bubalinos, tanto da carne quanto do queijo, e também de ações para mostrar ao pecuarista que o búfalo é uma boa alternativa de criação.
“Apesar de existirem 19 raças de búfalos no mundo, no Brasil temos apenas quatro: Mediterrânea, Murrah, Jafarabadi e Carabao”, destaca a presidente da Ascribu, ao avaliar que o Brasil tem cerca de três milhões de cabeças de búfalos, o que representa 1% do rebanho mundial. O Pará é o Estado com mais criadores.
Segundo Desireé, no Rio Grande do Sul, a criação de búfalos também aumentou e chegou a cerca de 50 mil cabeças, equivalente a 0,5% do rebanho gaúcho de bovinos e bubalinos.
Atualmente, existem 600 criadores gaúchos. Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, é o município de maior concentração de criadores, com 35 no total, embora o número de animais seja pequeno: 1,5 mil.
Carne magra e maior rendimento leiteiro
A carne do búfalo é uma das características que têm chamado a atenção, tanto dos criadores como dos consumidores, pois tem 55% menos colesterol, 40% menos calorias e 12 vezes menos gordura, quando comparada à do bovino, segundo a Ascribu.
Para promover o consumo da carne do animal, e marcar os 45 anos da Ascribu, a associação realizou uma atração especial na Expointer, que se encerra neste domingo (03/09).
No dia 30 de agosto, uma carcaça inteira de búfalo foi assada dentro do espaço Paleta Atlântida Experience.
Quanto ao leite, a principal vantagem está no rendimento, pois apresenta o dobro do teor sólido.
“No bovino, por exemplo, a gente precisa de 10 litros de leite para produzir um quilo de queijo. Já no búfalo, com cinco litros se produz o mesmo quilo de queijo”, ressalta Desireé, ao citar a burrata e a mussarela como os queijos considerados clássicos do leite de búfalas.
“Como o búfalo tem maior quantidade de sólidos no leite, permite realizar menos ordenhas, o que ajuda no trabalho em propriedades rurais com produtores mais idosos, onde os jovens migraram para as cidades, ou que contam com menos mão de obra para ordenhar todos os dias da semana”, explica o extensionista rural e coordenador regional de sistemas de produção animal da Emater/RS, Ricardo Gutierrez Oliveira.
Hoje, são vendidos queijos coalho, provolone, provoleta e frescal feitos a partir do leite de búfala, “que é teoricamente mais magro, com menos calorias e mais cálcio e ferro do que o do bovino”, acrescenta a presidente da Ascribu.
Quanto à parte sanitária, os búfalos têm praticamente as mesmas doenças dos bovinos, mas são mais resistentes e praticamente imunes aos carrapatos. Assim, o uso de carrapaticida é muito baixo.
Docilidade do animal permite montaria
Na Expointer, a Emater-RS levou para exposição três fêmeas e um macho para divulgar a bubalinocultura entre os pequenos produtores rurais.
O macho, que chama atenção pela docilidade e permite ser montado, é o Soberano. O animal desfilou pela feira, montado pelo seu proprietário, o pecuarista Marcos Oderdan Bottega, de Araricá (RS).
“Queremos mostrar que é de fácil criação, dócil, que precisa de menos cuidados do que bovinos, com um custo bem menor de manutenção”, explica Bottega, criador de búfalos há quatro anos.
Atualmente, o pecuarista possui 12 exemplares. “O único cuidado especial é possuir uma açude, porque tem necessidade de ir para dentro da água para se refrescar.”
Segundo Bottega, os búfalos têm um sistema gastrointestinal mais favorável do que o dos bovinos, pois conseguem aproveitar melhor até mesmo a fibra grosseira das pastagens.
“Eles conseguem comer qualquer capim que houver na propriedade”, afirma. No quesito ganho de peso, o búfalo é mais rápido quando comparado ao bovino.
Já as três fêmeas que foram expostas pela Emater/RS na Expointer foram cedidas pela presidente da Ascribu, Desireé Möller, que é médica veterinária e cria, em Viamão (RS), búfalos das raças Mediterrânea e Murrah desde 2018.
Fonte: Globo Rural.