

Uma das questões que mais preocupam os pecuaristas é a discussão sobre a precificação diferenciada dos animais rastreados. Segundo a presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, Ana Doralina Menezes, esse cálculo precisa levar em conta o custo para a implementação das tecnologias.
“É preciso que tudo isso esteja muito alinhado a incentivos econômicos, políticas públicas, a questão operacional, para que realmente esse sistema seja funcional, inclusivo e escalável”, avalia a especialista.
“Quando a gente fala em produtos especiais, a gente fala ali em 10%, 12% [de bônus]. Não vejo que seja muito distante disso [no caso da rastreabilidade]”, calcula a presidente da iniciativa, que tem experiência no mercado de carnes premium.
Além do acesso a mercados, a rastreabilidade também é uma questão de bem-estar animal. Na opinião dela, a marcação a fogo poderá ser substituída no futuro se a rastreabilidade individual for corretamente implementada e capaz de garantir, sozinha, a identificação e o controle do rebanho — algo que, nas condições atuais, ainda não é viável.
Lisandro Inakake, gerente de Políticas Públicas do Imaflora, ressalta que, desde o lançamento do Sisbov, houve avanços na tecnologia de rastreabilidade.
“Você tem nos Estados diversos sistemas de rastreabilidade, a maior parte deles ainda focada na gestão do rebanho via lote, mas temos ferramentas já em desenvolvimento para trabalhar com a identificação individual. Há dez ou 15 anos, esse não era um cenário existente”, resume.
Um dos principais argumentos dos governos federal e estaduais é a exigência de grandes importadores, como a China e a União Europeia. Porém, o tema levanta controvérsia.
“A regulamentação europeia determina apenas a geolocalização das áreas de produção, isto é, rastreabilidade por propriedade, e não por animal. As regras chinesas para importação de carne exigem rastreabilidade do produto e registro das empresas exportadoras, mas não identificação individual de cada bovino”, alega o médico veterinário e especialista em rastreabilidade Valmir Rodrigues, fundador da certificadora WQS Group.
Fonte: Globo Rural.